Faltam dez meses e três dias para a COP30, em Belém do Pará, e a conferência do clima da ONU deve concentrar boa parte das atenções no noticiário de tudo o que envolve sustentabilidade no Brasil – e no mundo.
Pedimos aos colunistas do Reset que destacassem os assuntos em que vão prestar atenção em 2025. Os holofotes voltados ao país são um tema central.
Depois de um ano à frente do G20, o Brasil vai presidir os trabalhos da conferência, que atravessa um momento de desconfiança profunda entre as partes depois do resultado frustrante da COP29.
A crise na governança climática global e a volta de Donald Trump à Casa Branca – ele toma posse em 20 de janeiro – serão dois desafios do país.
Veja abaixo estes e outros pontos focais de 2025, na opinião dos nossos colunistas.
Trump 2.0 e a dupla agenda do Brasil em 2025
O esperado efeito inflacionário das anunciadas políticas do governo Trump aumenta significativamente a perspectiva de juros altos e, consequentemente, dólar forte. Isto aumentará o custo de capital nos países em desenvolvimento, pois afeta não somente os juros básicos americanos: o dólar forte gera maior inflação importada, juros mais altos e menor crescimento nesses países, preços mais baixos em dólar das suas commodities de exportação e maiores custos de serviço da dívida, certamente aumentando seus prêmios de risco país. O resultado claro será uma queda do investimento na periferia, diminuindo perigosamente o ritmo da transição global.
Por outro lado, é quase certo que a nova administração americana esvaziará o apoio ao Acordo de Paris, como no primeiro governo Trump – ou mesmo, como é possível, retire os Estados Unidos da UNFCCC, a Convenção do Clima da ONU.
Para o Brasil, estes cenários implicam agendas muito claras e complementares nos dois órgãos multilaterais que tratam de aspectos da questão climática. Na UNFCCC, apesar da importante representação política como presidente da Conferência de Belém, a agenda brasileira deve ser muito mais técnica.
Aqui, trata-se de trabalhar com muito empenho para acelerar a regulação do Artigo 6 e outros unfinished businesses, mantendo a sensação de progresso sentida desde Glasgow (em 2021), independentemente da presença americana.
Sob presidência sul-africana, a agenda do G20, por outro lado, deverá ter um elemento de continuidade, com o Brasil buscando apoio internacional para a implementação do TFFF, uma ideia inovadora para remunerar a proteção das florestas tropicais do mundo, e a extensão dos mecanismos de redução de risco do financiamento privado a projetos de impacto, no modelo do Eco Invest.
Mas um ponto importante, onde o prestígio e protagonismo conseguido pelo Brasil durante a presidência do G20 nas questões da mudança do clima poderá ser de grande ajuda, será na discussão do que Scott Bessent, o futuro secretário do Tesouro americano, batizou de um necessário “reordenamento econômico global” em prol da estabilidade.
Sem isso, em um ambiente de juros altos e incerteza sobre convergência de políticas, a discussão sobre incentivos ao financiamento climático privado será tornada irrelevante, e os objetivos do Acordo de Paris provavelmente continuarão uma quimera.
Governança e adaptação
Meu primeiro foco será na governança climática. Após dois anos de progressos tímidos, há expectativa crescente por uma reforma mais radical que estabeleça instituições com novos valores e regras mais claras para implementar o Plano Clima. Essa reestruturação é imprescindível para destravar a ambição necessária e garantir que as decisões globais e nacionais estejam à altura da crise climática. O redesenho da governança da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) é, sem dúvida, um dos pontos que merecerão toda a atenção em 2025.
Outro tema central será a adaptação climática, que emerge como o principal eixo de decisões na COP30. Dois aspectos são inevitáveis: a duplicação do financiamento por parte dos países desenvolvidos, com uma meta mínima de US$ 40 bilhões no próximo ano, e a integração da adaptação no roteiro Baku-Belém, incluindo o US$ 1,3 trilhão prometido até 2035. Além disso, o desenvolvimento de indicadores para medir o objetivo global de adaptação será essencial. 2025 não será apenas o ano para debater adaptação, mas para consolidá-la como uma prioridade nas negociações climáticas.
Por fim, a interseção entre inteligência artificial e clima é uma fronteira que merece atenção redobrada. O avanço simultâneo da transformação digital e dos impactos climáticos cria uma oportunidade única para aproximar essas agendas. Já existem iniciativas em andamento explorando o potencial da IA em soluções climáticas, mas a COP30 tem o potencial de se tornar um ponto de convergência global. Esse diálogo será essencial para integrar inovação tecnológica com estratégias climáticas, fortalecendo a capacidade de resposta aos desafios presentes.
O ano do clima como investimento
2025 vai ser um ano de holofotes para o Brasil na agenda ambiental. Em um ano de COP 30 no coração da Amazônia, o mundo inteiro vai estar de olho no que acontece no país anfitrião da mais importante reunião internacional para tratar simultaneamente de assuntos de geopolítica, economia e sustentabilidade global.
Para quem pensou que 2024 seria o ano do financiamento climático, vimos que a agenda de financiamento da COP está longe de ter sido resolvida, e vai sobrar para o Brasil como presidente da COP 30 entregar um roadmap de investimentos por “todos os atores” – ou seja, governos e também a iniciativa privada – para escalar o financiamento climático para US$ 1,3 trilhão.
Isso significa sobretudo olhar para arranjos de financiamento público arrojados, que possam resolver os problemas da falta de acessibilidade e previsibilidade dos recursos. Mas também significa explorar como outras fontes podem contribuir para esses gargalos de financiamento e assegurar que os fluxos financeiros estejam sendo destinados para a nova economia de baixo carbono e resiliente ao clima, como requer o artigo 2.1c do Acordo de Paris.
Com isso, 2025 pode ser o ano de olhar para o clima como investimento, e o Brasil vai estar no centro como protagonista dessas discussões.
Também começaremos a ver os desdobramentos da implementação do mercado regulado de carbono no Brasil, e do funcionamento do novo mecanismo de créditos de carbono do Acordo de Paris, o Mecanismo de Crédito do Acordo de Paris (MCAP, na sigla em inglês).
Em 2025, termina o prazo para os projetos de MDL (inclusive brasileiros) que pediram transição para o MCAP serem avaliados e aprovados pelo governo anfitrião. Podemos assim começar a ver os primeiros projetos de carbono certificados no âmbito do Artigo 6.
Como ano de renovação das metas climáticas dos países do Acordo de Paris (as NDCs), e com a operacionalização do Artigo 6, vai ser o ano de entender o verdadeiro potencial dos mercados de carbono como estratégia climática no nível dos governos.
Olho nos mercados de carbono
Tenho 4 hot topics de sustentabilidade para 2025.
Mercado de carbono regulado é o primeiro deles. A reprecificação de ativos que dele resultará será, na minha opinião, o gatilho mais efetivo para impulsionar nossa transição econômica para baixo carbono.
Os créditos de carbono no mercado voluntário, principalmente as remoções na agropecuária, e novos ativos ambientais, como os créditos de biodiversidade, vêm em segundo lugar. Precisamos de NDCs e NBSAPs (respectivamente as metas de clima e biodiversidade do país perante às convenções da ONU) financiáveis e atrativas aos investidores, por isso, meu foco no fortalecimento de instrumentos econômico-ambientais e nas inovações nas finanças sustentáveis.
Divulgações de dados de sustentabilidade estão em terceiro lugar. Desde os relatórios financeiros – S1 e S2 do IFRS; o financeiro e de impacto – fundamentados na dupla materialidade, a CSRD exigida pela União Europeia; até aqueles ainda voluntários, como a TNFD, mas que já vêm impactando significativamente os modelos de gestão de risco corporativo e planejamento estratégico em razão dos novos impactos, dependências, riscos e oportunidades que passam a ser conhecidos.
Stewardship e dever fiduciário fecham minha lista. Governança ambiental e climática deve estar na pauta de investidores, sendo essencial o tone of the top para que os temas materiais ambientais e climáticos passem a fazer parte da agenda executiva.
Como costumo dizer, diversão, com certeza, não faltará!
O ano da regulamentação
Nas finanças sustentáveis brasileiras, 2025 será o ano da regulamentação e operacionalização de instrumentos.
Na regulamentação, todos os holofotes no mercado de carbono regulado brasileiro, que terá suas primeiras regras de funcionamento definidas e a formatação de seu órgão gestor. Como pau que nasce torto dificilmente se endireita, é preciso começar bem. Adicionalmente, temos a Taxonomia Sustentável Brasileira finalizando sua consulta pública no primeiro trimestre, com previsão de lançamento em julho. E aqui começa o tema da operacionalização: o que fazer com a taxonomia?
Para ser efetiva, a taxonomia deve ser base para outras políticas públicas e instrumentos. Alguns exemplos possíveis:
- Alíquotas de impostos na reforma tributária (no momento, sequer estamos conseguindo cobrar o imposto seletivo de armas e munições);
- Taxas de juros do crédito direcionado, como rural e imobiliário, bem como do Programa EcoInvest em seus novos leilões;
- Direcionamento do portfólio dos fundos constitucionais e bancos de desenvolvimento.
O principal risco para essas agendas é o cenário de juros altos, a mais tradicional desculpa para a procrastinação na agenda de finanças sustentáveis. Além de trabalhar muito, vamos precisar torcer por um cenário macro mais estável.
Em suma: um ano típico de Brasil.
A IA avança
Em 2025 será inevitável continuar de olho nos avanços das tecnologias de inteligência artificial e na maneira como elas poderão se converter em ferramentas práticas para minimizar desigualdades sociais.
Ao mesmo tempo, a decisão de banir o uso dos celulares nas escolas, se de fato cumprida, abre um imenso leque de oportunidades para pais, educadores e alunos, com potencial para extrapolar os muros das instituições de ensino.
Apesar do desconforto inicial, um mundo novo de experiências – eventualmente inéditas para a geração que já nasceu com a internet no bolso – pode desabrochar. Elas podem ser inspiradoras para que famílias inteiras revejam sua relação com o uso das telas e, juntas, criem espaços para outras descobertas fruto da convivência não mediada pela tecnologia.
E é claro que os livros e a literatura podem ocupar também esse espaço, até então exclusivo das telas, contribuindo para o aumento do foco e da atenção, para a reflexão íntima ou compartilhada sobre infinitos temas e para a aventura que é visitar novos lugares e viver outras vidas sem sair de casa.