Trazer a produção de alimentos para mais perto dos centros urbanos tem sido o objetivo de diferentes startups no Brasil. Elas compartilham a proposta de simplificar a cadeia de valor, reduzir o desperdício e atenuar os impactos ambientais da produção e do transporte.
Com menos espaço disponível e um metro quadrado muito mais caro do que nas zonas rurais, boa parte dessas foodtechs aposta num modelo de fazendas verticais, em que hortaliças são cultivadas em prateleiras e com luz artificial.
De aparência bem menos futurista, a BeGreen destoa de concorrentes pela defesa do modelo horizontal para o cultivo de hortaliças e vegetais – seja em estacionamentos de shoppings, galpões ou terraços de empresas.
As estufas são parcialmente fechadas e permitem a passagem de luz solar. O toque de modernidade aparece nos sensores e controladores de temperatura, umidade, luminosidade e pH. Os alimentos são todos livres de agrotóxicos e cultivados de forma hidropônica.
Fundador e CEO da BeGreen, Giuliano Bittencourt defende as plantações horizontais como mais baratas e mais sustentáveis. Nas verticais, o custo de energia é bem mais elevado, diz ele.
“Economicamente, em algum momento, acho que pode se tornar viável. Hoje, não é”, diz em entrevista ao Reset. “Na parte sustentável, não sei se vai ser viável algum dia, porque não é sustentável ter toda essa demanda elétrica”.
Os testes da BeGreen começaram em 2017, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, até que se chegasse ao modelo escalável.
Hortas nos shoppings
A BeGreen conquistou a Aliansce Sonae, maior administradora de shopping centers do Brasil, como sócia e garantiu R$ 15,5 milhões de investimento.
Desde então, a startup conta com fazendas urbanas em shoppings centers em São Paulo, Salvador, Goiânia, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campinas (SP). Neles, as ervas e hortaliças são comercializadas para restaurantes e supermercados.
“Quando a gente traz as fazendas para dentro da cidade, formamos uma cadeia de apenas dois elos: da nossa fazenda para o restaurante ou supermercado, e dali para o seu prato”, afirmou Bittencourt no Greentech Business, evento que reúne startups com soluções sustentáveis.
No cultivo tradicional, as hortaliças saem do campo e são levadas até centros de abastecimento, onde são coletadas por distribuidores que levam os produtos até o mercado para chegar ao consumidor final.
A estimativa da agtech é que, em um metro quadrado, consegue produzir 28 vezes mais, com 90% menos água do que em uma fazenda convencional. No modelo tradicional, 70% dos produtos são desperdiçados e 25% do custo está ligado ao transporte. Com a BeGreen, tais percentuais caem para 2% e 5%, respectivamente.
Sem citar números específicos, Bittencourt afirma que o valor do produto é “competitivo”, não só porque a qualidade é superior, mas porque há menos perdas, o que reduz o custo.
Com legumes estampados na camiseta e vestindo calça jeans, o fundador afirma que a startup “está sempre” em rodada de captação, mirando sua expansão.
Modelo de negócio
Nas estufas em shoppings, além dos produtos serem disponibilizados para venda aos restaurantes e mercados, a BeGreen oferece visitas guiadas voltadas para educação sustentável. São recebidas entre 1,5 mil e 2 mil pessoas por mês.
Já em empresas, a produção pode se dar para atendimento do refeitório ou da comunidade local, por exemplo. Na carteira de clientes da BeGreen, estão a fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, e a sede do iFood, em Osasco (SP).
O atendimento para uma fábrica da Ambev com 5 mil funcionários – onde serão produzidos tomates, berinjelas, pimentões, abobrinhas, alface, rúcula e agrião – deve começar no próximo ano.
Os contratos são de cinco anos e seguem o modelo de “take or pay”, no qual uma cláusula determina que o comprador fica responsável pelo consumo e a BeGreen, pela produção.
Somadas, as oito estufas existentes contam com 10 mil m² e produzem 25 toneladas de hortaliças e alimentos por mês. A projeção é que a produção anual chegue a 900 toneladas até o fim do ano que vem.
Para isso, a BeGreen vai dobrar sua área produtiva e inaugurar no próximo ano o projeto batizado de Big Farm, uma fazenda urbana de 10 mil m² na Marginal Pinheiros. A produção já tem destino certo, com o plano de acertar os compradores de antemão.
Em 2024, a startup segue para o Norte do país, com a inauguração de fazendas em shoppings de Belém e Manaus.