A Petrobras anunciou que vai avaliar sete projetos de geração de energia eólica offshore (em alto mar) junto com a petroleira norueguesa Equinor.
Ainda não há prazos definidos nem compromissos de investimentos. A exploração dos ventos nas águas territoriais brasileiras, apontadas entre as mais promissoras do mundo, ainda depende de definições regulatórias.
Mas o anúncio indica uma potencial mudança de orientação da companhia em relação ao caminho desenhado em seus últimos planos estratégicos, que, sob o governo de Jair Bolsonaro, colocaram todo o foco na extração de óleo e gás, abandonando planos de transição energética.
O mais recente deles, divulgado em dezembro, fazia menção apenas a mais estudos de negócios “adequados” para uma “diversificação rentável”, incluindo energia offshore. Os US$ 78 bilhões em investimentos previstos para os próximos cinco anos mantêm o foco completo na exploração do pré-sal.
Em termos de descarbonização, o atual grande esforço da empresa é reduzir as emissões associadas à retirada do combustível do fundo do mar.
O novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou que, se todas as sete áreas forem desenvolvidas, o investimento pode chegar a US$ 70 bilhões.
Falando em Houston, onde participa de uma conferência do setor petroleiro, Prates afirmou que a estatal vai estudar também a fabricação de equipamentos.
O documento desta segunda-feira estende uma parceria entre as duas companhias que vem de 2018 – mas que havia sido colocada em banho-maria nos últimos anos. Agora, a fase de estudos deve levar mais cinco anos.
Além de dois parques na fronteira litorânea entre Rio de Janeiro e Espírito Santo, serão feitos estudos de viabilidade econômica no Nordeste (costas de Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte) e também no Rio Grande do Sul.
As sete áreas teriam potencial de gerar até 14,5 GW. Como comparação, o país gera hoje cerca de 25 GW em eólicas de terra firme. O potencial total de instalações offshore poderia superar os 700 GW.
Extensão natural
Embora a guerra da Ucrânia tenha levado algumas petroleiras estrangeiras a tirar o pé do acelerador em seus planos de produzir renováveis, muitas delas vêm há anos se preparando para o mundo pós-combustíveis fósseis.
A Petrobras, como outras estatais, até aqui não demonstrou muito interesse oficial pelo assunto. Mas, de todas as alternativas, as eólicas em alto-mar parecem o caminho mais natural.
“Em primeiro lugar porque a eólica offshore exige muito capital”, afirma Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
“Em segundo lugar, e talvez o mais importante, é que as petroleiras que operam em alto mar já sabem lidar com plataformas offshore. Já têm o know-how.” Assim como a Petrobras no litoral brasileiro, a Equinor tem vasta experiência no Mar do Norte.
Anos vão se passar até a instalação da primeira turbina nos mares brasileiros. Depois da aprovação do marco dos parques offshore, em setembro do ano passado, ainda há vários passos necessários.
O primeiro deles é a realização dos leilões de cessão dos usos de áreas marinhas, o que pode acontecer já este ano. Depois são necessários estudos ambientais (o Ibama já tem mais de 170 GW projetos em análise) e leilões para a compra da energia.