Raízen capta até R$ 1,2 bi com meta de diversidade e canaviais certificados

Metas são de certificar mais usinas e chegar a 30% de mulheres em posições de liderança

A Raízen, produtora de etanol, está emitindo R$ 1,2 bi em dívida ESG
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A Raízen, joint-venture da Cosan com a Shell para a produção de etanol, vai emitir debêntures atreladas a indicadores de desempenho ESG, totalizando até R$ 1,2 bilhão.

Os papéis, em duas séries com prazo de vencimento de sete e 10 anos, terão duas metas a serem cumpridas até março de 2026, uma delas ambiental, e a outra, social.

A primeira é obter a certificação Bonsucro, um selo que atesta boas práticas ambientais e sociais nos canaviais, para 94% de suas unidades operacionais (hoje 74% detêm o selo). A segunda é elevar de 19% para 30% a participação de mulheres em posições de liderança da companhia.

Esse tipo de título de dívida é conhecido como sustainability-linked bond. Os recursos não têm de ser usados obrigatoriamente em projetos sustentáveis como nos ‘green bonds’, mas o descumprimento dos objetivos sociais e ambientais acordados implica o pagamento de uma penalidade sobre a taxa de juros.

No caso da operação da Raízen, caso falhe em cumprir os objetivos, a empresa pagará um acréscimo (também chamado de step-up de taxa) de 0,125% ao ano para cada uma das metas, de 2026 até o vencimento.

A companhia sinalizou uma taxa de juro de IPCA mais 5,65% no papel de 7 anos e de IPCA mais 5,95% no de 10 anos.

Como as debêntures são de infraestrutura, contam com isenção de imposto de renda para o investidor. A venda se dará por meio de oferta pública (instrução 400).

Ambição

Investidores com foco em ESG que analisaram a oferta ficaram satisfeitos com os indicadores e metas. 

A Sustainalytics, agência especializada em avaliar operações desse tipo que pertence à Morningstar e que concedeu o selo de SLB ao papel, considerou ambas as metas da Raízen “ambiciosas”.

O indicador relativo à certificação das usinas foi considerado “adequado” pelos auditores independentes.

Segundo a Raízen, a certificação Bonsucro foi escolhida por abranger tanto padrões de respeito aos trabalhadores dos canaviais quanto práticas relacionadas à preservação da biodiversidade e uso de recursos naturais.

A empresa já havia se comprometido a certificar 100% de suas  unidades produtivas com o selo Bonsucro. Trata-se de um carimbo “transformador”, segundo a companhia.

Segundo a Bonsucro, a experiência das empresas que têm o selo demonstra que depois de nove anos de certificação, o uso de fertilizantes à base de nitrogênio é reduzido em 28% e, no caso da água, a economia pode chegar a 50%. Os canaviais também apresentam uma diminuição média de 18% nas emissões de CO2 depois de cinco anos e de 55% oito anos após a certificação.

O ano base para comparação será 2021, ano em que a Raízen adquiriu a concorrente Biosev, num negócio de R$ 3,6 bilhões.

Avanço na diversidade

A meta de 30% de mulheres em cargos de chefia em quatro anos foi classificada como um KPI “forte” pela Sustainalytics. Em março do ano passado, o período base, a porcentagem era de 19%, segundo auditoria da KMPG.

As mulheres são responsáveis por menos de 12% dos cargos de alta liderança nas empresas de energia, segundo uma análise de 2019 da Agência Internacional de Energia.

Em sua análise de materialidade para o biênio 2020-2021, a Raízen apontou diversidade e inclusão como fatores materiais para o negócio.

Uma das razões mencionadas para a escolha desse indicador, segundo a companhia, foi a necessidade de “incentivar um ambiente de trabalho positivo para as mulheres no agribusiness”, historicamente dominado por homens.

A empresa também afirma que 51% dos cargos de chefia estão longe dos grandes centros, em regiões em que as mulheres têm mais dificuldade de conseguir cargos de liderança.

O critério para definir a liderança da empresa foi salarial e o corte aplicado tipicamente inclui as posições de coordenadoras, gerentes, gerentes-executivas, diretoras e diretoras executivas.