A Ambev anunciou há pouco a promessa de zerar as emissões de toda a sua cadeia produtiva até 2040. O objetivo é ambicioso: descarbonizar do plantio da cevada à reciclagem da latinha de cerveja vazia.
O compromisso anterior envolvia uma redução de 25% dos gases de efeito estufa (GEE) até 2025, tanto das fábricas quanto dos parceiros. A nova meta é significativamente mais agressiva.
Tipicamente, a maior parte das emissões de CO2 associadas a uma empresa estão da porta para fora. São as chamadas emissões de escopo 3, que envolvem fornecedores e clientes. (Os escopos 1 e 2 dizem respeito à atividade direta e à energia consumida, respectivamente.)
No caso das operações da Ambev na América Latina, os terceiros são responsáveis por 85% do total de emissões – oito vezes mais que suas próprias fábricas e vinte vezes mais que a energia que a companhia consome.
O plano de ação foi validado pela Science-based Targets Initiative (SBTi), iniciativa global que analisa as medidas climáticas tomadas por grandes empresas para garantir que estejam em linha com o Acordo de Paris.
A AB Inbev também anunciou as mesmas metas globalmente. “Estamos mapeando caminhos de descarbonização e queremos continuar investindo em parcerias e inovações para atingir o net zero”, afirmou o CEO da empresa, Michel Doukeris, em comunicado.
O primeiro ciclo
Os primeiros compromissos de sustentabilidade foram anunciados pela Ambev em 2017. A companhia afirma que, desde então, suas operações próprias já emitem 63% menos GEE em comparação com 2003.
Todas as 32 unidades utilizam energia renovável e, este ano, uma cervejaria em Ponta Grossa, uma maltaria em Passo Fundo e uma distribuidora em Joinville são 100% neutras em carbono.
Mas o maior desafio está no que acontece além dos portões da companhia.
No documento que expressa a intenção do net zero, a AB Inbev aponta os vários pontos de sua longa cadeia de valor que precisarão de intervenções.
A empresa menciona genericamente algumas medidas possíveis:
- Sistemas de agricultura regenerativa que aumentem a captura de carbono pelo solo;
- Uso de biocombustíveis e biomassa para a torrefação do malte;
- Aumento de material reciclado nas embalagens;
- Combustíveis alternativos para os caminhões de entrega;
- Reciclagem dos envases.
Como o net zero envolve tudo o que toca os processos da empresa – a agricultura, as embalagens, o transporte e assim por diante – a tarefa é extremamente complexa.
A empresa já vem estudando e implementando várias iniciativas no Brasil, como no caso das embalagens, o maior vilão das emissões da empresa.
Um dos objetivos da Ambev para 2025 é que toda a poluição associada ao plástico seja eliminada ou neutralizada. Um exemplo de solução foi o investimento na GrowPack, uma startup argentina que desenvolve embalagens biodegradáveis e feitas de resíduos da agricultura.
Já em outros segmentos, como o do transporte rodoviário, a expectativa é que metade da frota seja elétrica daqui cinco anos.
O primeiro caminhão elétrico desenvolvido em colaboração com a Volkswagen Caminhões e Ônibus foi entregue em junho. Até o fim do ano, 100 já estarão rodando pelas cidades brasileiras.