Unidade de produção de biometano da Orizon

A Orizon anunciou a aquisição da Vital Engenharia Ambiental, um negócio que transforma a empresa na maior gestora de resíduos da América Latina. A transação foi realizada por meio de troca de ações com o grupo Queiroz Galvão e vai resultar em uma companhia com receita líquida superior a R$ 3 bilhões.

Com a compra, a Orizon vai passar dos atuais 18 aterros para 30, distribuídos em 15 Estados do país. O volume total manejado, 14 milhões de toneladas, corresponde ao descarte de cerca de 40 milhões de pessoas.

A operação amplia o potencial de produção de energias renováveis, uma das fontes de receita mais promissoras do setor de resíduos urbanos. 

A Orizon estima uma capacidade de geração de 2 milhões de metros cúbicos de biometano por dia a partir dos resíduos gerados. Para fins de comparação, são consumidos cerca de 50 milhões de metros cúbicos de gás natural diariamente no país.

O biometano é obtido após um processo de purificação do biogás produzido naturalmente pea decomposição da matéria orgânica. Esse biocombustível renovável é quimicamente idêntico ao de origem fóssil e pode substituí-lo sem a necessidade de adaptação de equipamentos, como caldeiras industriais ou motores de veículos.

Estreia na coleta traz verticalização

A Vital também adiciona uma nova linha de negócios, a coleta. Esse modelo de gestão integrada centraliza em uma única empresa o processamento dos resíduos, do recolhimento à destinação final. Ele é típico em mercados desenvolvidos e deve começar a crescer no Brasil, diz Milton Pilão, CEO da Orizon.

A Orizon absorve oito contratos de gestão integrada da Vital, incluindo a operação na cidade de São Paulo.

“Já pensávamos em entrar na coleta, mas são contratos de duração mais curta, que não dão a previsibilidade para fazer os investimentos”, afirmou ele ao Reset. “Agora temos visto PPPs para a área de resíduos que incluem esse sistema completo e duração de 20 ou 30 anos.”

O CEO diz que está no negócio de “ganhar reais por toneladas [de lixo]”. A integração da coleta permite “multiplicar a receita do ecossistema”. Embora tenha margens mais baixas, o serviço de recolhimento gera receitas quatro vezes maiores que o simples recebimento nos aterros.

Foco sai de M&A e vai para rentabilização

Em 2021, quando abriu o capital, a Orizon manejava 4,5 milhões de toneladas de lixo. O caminho até os 14 milhões, com a compra da Vital, foi essencialmente “inorgânico”, arrematando aterros pelo país.

“Não dá para garantir que a gente vai parar, mas M&A não será o foco dos próximos anos”, diz Pilão. Agora, os esforços serão na rentabilização do que vai parar em cada um dos “ecoparques” da empresa.

Isso significa produzir biometano. A Lei do Combustível do Futuro, aprovada no ano passado, prevê uma mistura obrigatória dessa energia renovável ao gás natural fóssil. A troca do diesel de caminhões e ônibus também representa uma demanda potencial enorme, segundo o CEO.

“Vamos passar de um potencial de 1,3 bilhão de metros cúbicos diários para 2 bilhões com a Vital. Em cinco anos, seremos a maior produtora de gás renovável do Brasil”, afirma Pilão.

Neste ano até a quarta (17), as ações da Orizon subiam 69%. A empresa tem valor de mercado de R$ 6,6 bilhões.

A conclusão da operação depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e da ratificação pelos acionistas da Orizon.