
Uma das maiores varejistas de moda do mundo, a C&A acaba de anunciar novas metas de redução de suas emissões de CO2 até 2030. O objetivo inicial, aprovado em 2020, era reduzi-las em 30% para a operação global, agora o número passou a 42% especificamente para a unidade brasileira, com base no inventário de emissões de 2023.
As metas foram aprovadas pelo Science Based Targets Initiative (SBTi), entidade que dá o selo de maior prestígio para os planos de descarbonização das empresas.
“A empresa cresceu muito após a pandemia e precisávamos atualizar as metas”, explica Cyntia Kasai, gerente sênior de ESG e comunicação da C&A Brasil. Foram 55 novas lojas abertas de 2022 para cá – hoje são 330 unidades, em 164 cidades – e um novo modelo de negócios nas vendas digitais. No fim do ano passado, o aplicativo Minha C&A atingiu cerca de 4,5 milhões de usuários ativos mensais, um crescimento de mais de 90% em relação a 2023.
As emissões de escopo 3, que incluem os gases de efeito estufa da cadeia desde a produção da matéria-prima até a vida dos produtos após a venda, são o grande desafio. A maior parte está na categoria de compras de bens e serviços, responsável por cerca de 65% de todas as emissões de escopo 3 da empresa em 2024. “Os insumos são o principal problema e rastreá-los é um grande desafio”, diz Kasai.
Por isso, uma das três frentes estabelecidas pela companhia para atingir a nova meta é garantir, até 2030, 80% de matérias-primas sustentáveis em suas coleções. Em 2022, este índice era de 65%, e no ano passado ele chegou a 70%. “Além do algodão, a C&A encara o desafio de utilizar poliéster e viscose de origens mais sustentáveis, além das matérias-primas recicladas”, explica a gerente.
Como “mais sustentáveis” Kasai cita o algodão certificado. Atualmente, 96% do algodão utilizado é adquirido com o selo ABR, padrão de certificação socioambiental do algodão no Brasil, gerido pela Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) em parceria com a BCI (Better Cotton Initiative).
Alguns especialistas do mercado de moda alegam que a certificação “coloca o lobo para vigiar o galinheiro”. No ano passado, um estudo da ONG britânica Earthsite apontou que os auditores responsáveis pela emissão do parecer para a adesão ao selo ABR são contratados pelo setor cotonicultor, o que comprometeria a independência da certificação.
Segundo Kasai, ciente da fragilidade de algumas certificações, a C&A tem um protocolo de rastreabilidade e sustentabilidade com 75 itens, para definir a compra de matéria-prima. “Checamos desde a questão do uso e proteção do solo, até às de compliance social e trabalhista.”
O mercado têxtil ainda é bastante dependente de matéria-prima asiática, o que dificulta a rastreabilidade de algumas peças. “Para garantir fornecedores responsáveis, a C&A mantém um escritório na China, e todos são submetidos ao mesmo checklist com 75 critérios”, diz Kasai. O maior desafio, no entanto, é mapear a matéria-prima de cada um deles, desde a origem.
Um piloto realizado no ano passado coletou dados de emissão de 12 fornecedores estratégicos para, a partir deles, aprimorar o cálculo do inventário de todos os fornecedores. “É um trabalho que nos permite avaliar com mais precisão o nosso inventário de gases de efeito estufa”, explica a gerente.
Menos plásticos
Outra meta definida pela companhia para alcançar a redução de emissões prevista até 2030 é diminuir em 50% o uso de plásticos na operação. Em 2024, a redução era de 41%, devido ao uso de novas tecnologias e soluções especialmente no processo de logística.
“Fomos uma das poucas empresas no mundo a utilizar um sistema de distribuição automatizado com zero uso de plástico nos produtos, nos sorters”, diz Kasai.
Sorters são equipamentos que automatizam a separação de pedidos nos centros de distribuição. Antes, cada peça devia estar embalada em sacos plásticos para que fossem identificadas e separadas. A informação de estoque foi incorporada à etiqueta de preço, resultando em uma economia de 82 toneladas de plástico nas operações da empresa, em 2023.
O terceiro pilar da C&A para o corte de emissões é incluir princípios de circularidade em 50% de seus produtos até 2030. Circularidade não envolve apenas reciclagem, mas também a redução de desperdício, aproveitamento de resíduos e reformulação do design de produtos.
Recentemente, a companhia reviu seus critérios de cálculo da quantidade de produtos com princípios de circularidade, incorporando variáveis como o tipo de produto, certificações e preferências dos clientes. Para ser considerado circular, uma peça deve ter design feito para ser reaproveitado ou reciclado, usar matéria-prima mais segura, reciclável ou regenerativa e ter seu ciclo de vida estendido.
Um dos eixos de circularidade da empresa é o Movimento ReCiclo, programa de coleta de roupas usadas. Em 2024, foram arrecadadas cerca de 80 mil peças – 55 mil foram doadas para instituições sociais, 14 mil foram recicladas e transformadas em estopas para uso industrial e 9 mil acabaram desfibradas para confecção da coleção Jeans Circular.
Para Kasai, engajar clientes e capacitar fornecedores, principalmente fornecendo novas tecnologias, são caminhos fundamentais para a descarbonização. A campanha #VistaAMudança, com etiquetas nas peças e cartazes em lojas, visa educar consumidores sobre a importância de uma moda mais sustentável. “Sustentabilidade, para a maior parte de quem compra na C&A, ainda não é um fator de decisão. Pode compor, mas não define, e queremos mudar isso.”