Curtas da COP: 'É hora de reforma', dizem especialistas

Grandes nomes assinam carta contra lobby do petróleo nas conferências do clima; Brasil no ranking dos países com maior número de delegados inscritos - spoiler: vai ter carteirada em Belém

Curtas da COP: 'É hora de reforma', dizem especialistas
A A
A A

Sobre o Apoio

 

Baku, Azerbaijão – As COPs futuras só deveriam ser realizadas em países que apoiem ação climática e sejam mais restritivos em relação ao lobby do petróleo nas conferências, afirma em uma carta aberta um grupo de cientistas e especialistas em políticas climáticas.

Assinam o documento o ex-secretário geral da ONU Ban Ki-Moon, a ex-chefe climática das Nações Unidas Christiana Figueres e o respeitado pesquisador Johan Rockström, entre outros.

Mãos à obra – 1

Eles pedem uma simplificação do sistema de cooperação global. “Está claro que a COP não atende mais às necessidades. Precisamos passar de negociação para implementação.” Os autores pedem reuniões da COP menores e mais frequentes, focadas em soluções e nas quais os países teriam de reportar progresso e serem cobrados de acordo com a ciência mais recente. “Isso vai permitir ajustes baseados em descobertas científicas emergentes e mudanças nas circunstâncias globais.”

Mãos à obra – 2

O sistema do Acordo de Paris, baseado na entrega de planos de descarbonização nacionais, não está funcionando, argumentam os especialistas. “Os governos não são cobrados por planos alinhados com as últimas evidências científicas.” Países pobres devem ter mais voz, e a natureza precisa de mais atenção. “A COP do clima precisa reconhecer que o atual ritmo de perda de natureza (escassez de água, degradação da terra e do solo, declínio da polinização, poluição dos oceanos) afeta a estabilidade do planeta. E a estabilidade planetária, sob grave risco, é impossível sem ações por igualdade, justiça e redução da pobreza.”

Eles estão por toda parte

Estão presentes na COP29, em Baku, mais de 1750 representantes de empresas de combustíveis fósseis, segundo uma análise da planilha de participantes da conferência realizada pela organização Kick Big Polluters Out. No ano passado, foram quase 2.500. Do total de credenciamentos neste ano, 132 foram concedidos pela presidência da COP. “Para que a COP30, no Brasil, sirva às necessidades da sociedade civil, populações indígenas e todos aqueles que ela espera representar, exigimos que os lobistas fiquem fora das salas de negociação”, afirmou em nota David Tong, da organização Oil Change International.

Medalha de prata

No ranking dos países, o Brasil, mais uma vez, ficou atrás só dos anfitriões no número de delegados inscritos. Ao todo, 65.000 pessoas se registraram para vir a Baku, o que faria da COP29 a segunda maior conferência do clima, de acordo com o site especializado Carbon Brief. São 2.229 azerbaijanos credenciados, 1.914 brasileiros e 1.892 turcos, completando o pódio. Na sequência vêm Emirados Árabes Unidos (1.101), China (969), Rússia (900), Indonésia (810), Nigéria (634), Japão (595) e Cazaquistão (478).

Festão

A organização da COP em Belém teria sido instruída pela ONU a não credenciar mais que 50.000 pessoas. Muitos dos brasileiros na conferência têm crachás de “party overflow”, que são obtidos via governo. O termo indica um contingente além dos representantes oficiais do país nas negociações – autoridades e diplomatas recebem credencial de “party” (que neste caso significa parte, não festa, claro). Também há muitos brasileiros que recebem credenciais de “observadores”, o que lhes permite acompanhar as discussões em primeira mão.

‘Você sabe com quem está falando?’

Com o hype em torno da COP em Belém do Pará e o, digamos assim, apreço dos brasileiros por eventos, imagina-se que os responsáveis no governo pela alocação das credenciais vão se cansar de dizer “não”. Em anos passados, de Glasgow a Dubai, não era incomum ver políticos que nunca tiveram nada a dizer sobre meio ambiente e clima em suas vidas circulando pelos corredores da conferência – ou mais provavelmente passeando pelas cidades-sede. Promete ser grande a disputa para estar dentro da zona azul (onde acontecem as negociações e ficam a parte da “feira” da COP, com os estandes). Em 2025, além da COP, devemos sediar o festival da carteirada.