A Acelen, empresa controlada pela Mubadala Capital, vai produzir no Brasil um biocombustível para aviação com um custo que vai competir com o do combustível de origem fóssil. A promessa é de Leonardo Yamamoto, diretor executivo da Mubadala Capital no Brasil, braço do fundo soberano de Abu Dhabi.
“A gente vai chegar em uma molécula verde, renovável, que provavelmente chegará ao consumidor final a um cash cost [custo direto de produção, sem juros, amortização e impostos], sem incentivos fiscais, que é tão competitivo quanto o combustível fóssil”, disse o executivo nesta segunda-feira (11), em evento em São Paulo organizado pelo banco UBS.
A Acelen Renováveis está na fase final do projeto de engenharia de uma biorrefinaria na Bahia para a produção de diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), usando como matéria-prima o fruto da macaúba, uma palmeira nativa do Brasil. O investimento é estimado em R$ 12 bilhões (US$ 3 bilhões).
As obras estão previstas para começar em 2025 e a operação, no início de 2027. A estimativa é que a planta produza 100 mil barris de SAF por dia. “Essa oportunidade tem uma escala que é muito difícil encontrar quando a gente pensa em transição energética”, disse o diretor.
O projeto surgiu a partir da compra da Refinaria Mataripe da Petrobras, na Bahia, em 2021, por R$ 1,6 bilhão. Pensando na longevidade da planta já em meio a discussões de transição energética, surgiu a ideia de construir uma biorrefinaria integrada, que fosse desde a plantação da matéria-prima até o refino do combustível. “Da fazenda à molécula”, resume Yamamoto.
A empresa vai recuperar terras degradadas para plantar macaúba. O óleo produzido a partir da fruta será refinado em um processo de hidrotratamento, já amplamente usado na produção de combustíveis, e chegará ao fim com uma molécula quimicamente idêntica à molécula fóssil.
“Esse projeto se tornou tão grande que acabou virando um investimento separado [da refinaria], de R$ 12 bilhões nos próximos cinco anos”, disse o diretor.
A refinaria tradicional deve ser vendida. A própria Petrobras assinou um memorando de entendimentos para negociar a recompra e Yamamoto disse que a empresa também está em conversas com outros potenciais compradores.
Oportunidade rara
“O Brasil tem certas características muito proprietárias que o tornam, talvez, o lugar mais competitivo do mundo para desenvolver essas teses”, disse o executivo. Ele destaca que o projeto da Acelen combina a oferta de recursos naturais do Brasil e a capacidade do fundo de reunir capital e trazer investimentos.
A Mubadala tem US$ 6,1 bilhões de ativos sob gestão no Brasil, sendo US$ 3 bilhões de investimentos de terceiros. Da operação global, cerca de 20% dos recursos vêm do fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, enquanto o restante é de investidores terceiros, principalmente dos Estados Unidos.
É raro encontrar projetos de infraestrutura no Brasil que já tenham escala suficiente para atrair capital de grandes investidores globais, afirma Yamamoto. “A nossa biorrefinaria talvez seja um dos poucos exemplos [de oportunidades] que a gente conseguiu criar nos últimos anos.”
Cadeia do reflorestamento
A Acelen planeja restaurar cinco áreas com 200 mil hectare para a plantação de macaúba a ser usada na produção do biocombustível.
Com a emissão de carbono evitada pelo uso de SAF e absorvida com o reflorestamento, seria possível descarbonizar a aviação de todo um país europeu, como Alemanha ou França, compara o diretor do Mubadala.
Um dos principais desafios quando se fala em reflorestamento é a cadeia de valor, já que não são todos os Estados onde há viveiros consolidados ou fornecedores de sementes bem estabelecidos.
Com a macaúba, isso não é diferente. A Acelen e a Mubadala realizaram uma série de testes com a planta para entender o seu comportamento e desenvolvimento em diferentes solos, com protocolos distintos de fertilização e nutrição.
“Com isso, percebemos que existe um potencial enorme de melhoria genética que a gente precisava fazer em casa”, afirmou Yamamoto.
A empresa construiu um centro de pesquisa em Montes Claros (MG) focado em melhoria genética, que conta com financiamento do BNDES. Algumas universidades estrangeiras, como a Universidade de Nova York (NYU), estão trabalhando para melhorar a eficiência das mudas dessa espécie.
As terras usadas no processo, que somam 1 milhão de hectares, virão de parcerias com o governo federal e os Estados da Bahia e Minas Gerais, de acordo com o diretor, a partir do banco de terras devolutas, que pertence à Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e suas equivalentes estaduais.
Uma vez que as terras se encontram degradadas, há quem devolva essas áreas para o governo para se eximir do pagamento de imposto de uma terra sem uso. “Pretendemos fazer um programa com essa parceria no Estado para utilizar essas terras. Faremos investimentos para recuperar essas áreas em troca do acesso e uso delas”, afirmou.