O fundo soberano da Noruega, que gere mais de US$ 1 trilhão em ativos, colocou oficialmente a Vale e a Eletrobras na sua lista de investimentos proibidos, por violações ambientais e de direitos humanos — numa decisão histórica e que pode ser seguida por outros players da indústria.
No caso da Vale, o problema foi “o rompimento repetido de barragens”, numa alusão aos desastres de Mariana e Brumadinho, segundo nota oficial publicada na noite de ontem.
Já na Eletrobras, a exclusão está ligada à “violação de direitos humanos em conexão com o desenvolvimento da hidrelétrica de Belo Monte”, por conta de territórios indígenas que foram desestruturados pelo empreendimento.
Por política e para não gerar pressão de baixa nos papéis, as decisões de exclusão só são divulgadas depois que o fundo já vendeu todas as ações em questão. “Isso explica porque houve um longo período de tempo entre as decisões e a publicação por parte do banco”, disse o NBIM em nota.
O desmonte foi gradual.
Ao fim do ano passado (última informação disponível) o fundo tinha uma posição de US$ 375 milhões em Vale, equivalente a 0,54% do capital total da companhia, e de US$ 52 milhões em Eletrobras (0,41% da empresa).
As fatias já vinham encolhendo. No fim de 2018, o NBIM tinha 1,1% e 0,92% de Vale e Eletrobras, respectivamente.
Um dos maiores fundos do mundo, o NBIM investe a maior parte dos seus recursos em ações e tem uma política de investimento bem estabelecida para fatores ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês).
Ao todo, o NBIM tinha US$ 9,6 bilhões investidos no Brasil em 2019, dos quais US$ 7,6 bilhões estão em ações e US$ 2 bi em renda fixa.
Entre as cerca de 150 empresas na sua lista de exclusão estão outras duas brasileiras. O frigorífico JBS foi banido em julho de 2018 por causa dos “riscos inaceitáveis de que a companhia seja responsável por corrupção”. Já a Eneva, de energia termelétrica, está na lista desde março de 2017 por conta da participação da companhia em térmicas a carvão.
Endurecimento da política ambiental
O fundo soberano, que detém nada menos que o equivalente a 1,5% de todas as ações do mundo, também endureceu sua política em relação a combustíveis fósseis, fechando cerco a empresa produtoras de carvão.
A regra anterior vetava companhias que tinham mais de 30% da receita vinda do combustível ou da energia gerada a partir dele.
Agora, o fundo não investirá mais em companhias que extraem mais de 20 milhões de toneladas de carvão ou usam mais de 10 mil MW de energia gerada pelo combustível.
Com isso, zerou suas posições na Glencore, na mineradora Anglo American, na RWE, empresa alemã de energia elétrica, e na petroquímica sul-africana Sasol.
O NBIM reduziu ainda sua participação na BHP, a maior mineradora do mundo, de 5% para 3,8% e colocou a companhia em ‘observação’. A expectativa é que a mineradora encontre um comprador para a mina de carvão da Cerrejón, na Colômbia, o que a colocaria de volta dentro dos parâmetros aceitos pelo fundo — uma decisão questionada por ativistas.
No ano passado, o Banco Central norueguês, que gerencia o fundo, chegou a defender a exclusão completa de petroleiras do fundo para reduzir a exposição do país ao risco de preço da commodity. Mas a proposta foi rechaçada pelo governo.