Apesar de o Santander Brasil carregar os genes do antigo Banco Real, pioneiro em sustentabilidade no mercado financeiro brasileiro, esse legado está hoje um tanto difuso.
“Existe uma soma de competências aqui dentro, mas a percepção disso, tanto dentro quanto fora do banco, acabou sendo diluída”, diz Maite Leite, executiva com décadas de experiência no mercado financeiro, inclusive no Real, e que há sete meses assumiu a vice-presidência institucional do Santander Brasil, liderando, entre outras, a área de sustentabilidade.
Sua missão, diz, é fazer com que as várias iniciativas existentes nas diversas áreas, herdadas do Real e desenvolvidas pelo Santander, se aproximem mais do core do banco, com um olhar voltado para a execução.
“Nossa ambição é fazer negócios que sejam reconhecidos como negócios de impacto e que sejam cada vez mais relevantes.”
Para entregar esse objetivo, a executiva resolveu reorganizar a governança da área. O banco está criando diversos pilares com temas ligados à sustentabilidade que estão dispersos por várias áreas do banco e ter um executivo responsável por liderar cada uma deles.
A primeira leva de cinco pilares foi criada agora no início do ano: net zero, carbono, finanças sustentáveis, inovação sustentável e regulatório. Três delas com lideranças na sua vice-presidência e duas no banco de investimentos (carbono e finanças sustentáveis).
“Essas pautas têm muitas sobreposições, precisamos otimizar os recursos e dar foco. Agora estamos dando mais clareza de qual caminho queremos seguir e qual a proposta de valor.”
Para coordenar todos os pilares, garantir coesão e dar tração à agenda, foi criada uma nova função de execução estratégica. A vaga foi preenchida por Gabriela Bertol, vinda da consultoria Oliver Wyman, que também é a líder do pilar de net zero do banco.
Os pilares
Numa sinalização clara de que a ordem é conectar sustentabilidade aos negócios, o pilar de carbono ficou sob a liderança de Luiz Masagão, o chefe da tesouraria.
A consultoria Way Carbon, comprada pelo banco no ano passado, foi colocada dentro dessa área.
“Um dos nossos objetivos é fazer a originação de créditos de carbono para alimentar uma mesa de negociação que está em construção na Espanha”, diz Leite. Um trabalho de advocacy para destravar o mercado regulado de carbono também faz parte da agenda do banco.
O pilar de finanças sustentáveis é o que Leite chama de ‘business as usual’, como financiamento de painéis solares e empréstimos com metas de sustentabilidade. “Já tínhamos um orçamento no banco para isso, mas agora ele é mais ousado, com a intenção de crescer essas carteiras e gerar resultado.”
Sob o guarda-chuva de inovação sustentável estão os negócios que demandam novas tecnologias e estruturas mais sofisticadas de funding para financiar a transição para uma economia de baixo carbono. “Nessa área fazemos operações mais disruptivas e indutoras”, diz ela.
Um exemplo foi um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) verde em que o banco investiu em janeiro para financiar sistemas agroflorestais.
Dentro da vertical, liderada por Leonardo Fleck e com uma equipe de oito pessoas, estão também projetos do banco desenvolvidos em parceria, como o Plano Amazônia, criado com Bradesco e Itaú, e a empresa de reflorestamento e preservação de florestas Biomas, criada com outras cinco empresas (Itaú, Vale, Marfrig, Rabobank e Suzano).
A iniciativa, diz ela, está avançando. “Todos os sócios já aportaram o capital, uma equipe da Suzano [especializada em florestas] foi transferida para a empresa e já escolhemos um CEO para o negócio.”
Maite Leite diz que novos pilares serão criados, entre eles, um social, outro de diversidade e inclusão, um de finanças e risco e um negócios de impacto.
A meta é chegar ao fim do ano com uma visão mais integral de todo esse ecossistema e, no futuro, ter negócios mais emblemáticos para mostrar.