Fazer o controle de pragas é um dos maiores desafios da agricultura no Brasil. Além do debate sobre os efeitos do abuso dos químicos para a saúde humana e para o meio ambiente, em grande parte das vezes, defensivos estão entre os três principais custos dos produtores.
De olho nisso, a Solinftec, uma startup de agricultura de precisão com sede no interior de São Paulo, está lançando uma nova solução que promete matar insetos que atacam as plantações de soja e algodão apenas com frequências de luz.
Batizada de Hunter, a tecnologia pode ser acoplada a um robô que anda pelas lavouras durante a noite emitindo faixas de luz para atrair apenas os insetos prejudiciais às culturas para uma armadilha elétrica, que os elimina por meio de choques.
“O fato de que há frequências de luz que atraem insetos não é novidade. Mas o que nossa equipe de P&D conseguiu descobriu são faixas específicas que atraem determinados insetos de interesse agronômico”, afirma Guilherme Guiné, chefe de operações da Solinftec na América do Norte.
Com a frequência exata, o robô mata apenas os insetos que são prejudiciais à cultura, sem afetar joaninhas, por exemplo, que são predadores naturais de certos lagartas, ou abelhas e insetos polinizadores.
O lançamento, que será feito nesta semana durante a Agrishow, maior feira do agronegócio do país, é o segundo da plataforma de robótica da companhia, batizada de Solix.
No ano passado, a Solinftec lançou o robô que serve de base para toda a plataforma, chamado de Scouting. Abastecido por energia solar, ele consegue caminhar lentamente pelas lavouras colhendo dados e fazendo uma análise detalhada, planta a planta.
Ele consegue descobrir, por exemplo, o surgimento de pragas em estágio inicial, permitindo o controle mais direto e rápido.
“A plataforma Solix é disruptiva porque ela é como se fosse o olho do agricultor, dentro de cada talhão, mas consegue agregar esses dados em escala”, afirma Guiné. As informações ajudam a abastecer um sistema de inteligência artificial, que recomenda como fazer o manejo de cada área.
Hoje, cerca de 50 unidades do Scouting já rodam nas lavouras do Brasil, em propriedades de empresas como Amaggi e Schmidt, e há uma lista de espera para mais 100 unidades. O equipamento, que custa o equivalente a um carro popular”, nas palavras de Guiné, consegue percorrer uma extensão de 200 hectares. O carro mais barato vendido hoje no Brasil custa cerca de R$ 70 mil.
O Hunter, que faz o controle de pragas, é uma espécie de gadget que é acoplado ao robô original, complementando a sua atuação à noite, quando ele fica parado, e custará “uma fração” do Scouting.
Ele é voltado para insetos já adultos, em fase reprodutiva. “O manejo de pragas é multidimensional. O Scouting identifica pragas em estágio inicial, mas às vezes o agricultor não consegue combatê-las de cara”, diz Guiné.
Segundo ele, o novo lançamento vai atuar em complemento a defensivos biológicos, que também costumam agir melhor no começo das infestações. A estimativa da Solinftec é que, com o robô, seja possível economizar mais de 90% de químicos usados para combater pragas na fase adulta.
Ajustando o ritmo
Fundada em 2007 pelo cubano radicado no Brasil Britaldo Hernandez, a Solinftec conecta toda a fazenda. Com uma solução que engloba hardware e software, a empresa instala sensores ao longo de todo o processo produtivo, desde as máquinas utilizadas para o plantio, aplicação de pesticidas e colheitadeiras até estações meteorológicas, além de fazer uso de imagens de satélite.
Além de conseguir dar uma visão completa do que está acontecendo na produção em tempo real, ferramentas de inteligência artificial analisam os dados gerados no processo e dão recomendações sobre como o agricultor pode ser mais produtivo. A ideia é utilizar menos recursos – gerando economia e menos impacto ambiental.
Com investidores como o TPG Group, Unbox Capital, da família Trajano, e as gestoras focadas em impacto Blue Like an Orange e Lightsmith, a startup já captou US$ 160 milhões em duas rodadas de investimento, a última delas concluída há pouco mais de um ano.
A empresa abriu a captação de uma nova rodada, de US$ 100 milhões, logo em seguida. Mas diante do endurecimento das condições de mercado, com o aumento dos juros e da aversão ao risco, o plano esfriou.
“A rodada continua aberta, o dinheiro não sumiu completamente no nosso segmento de atuação, mas o problema são os valuations”, afirma Guiné, em referência ao fato de que os investidores estão menos dispostos a pagar na frente por crescimento.
Segundo ele, ao contrário de outras empresas que estavam com o caixa apertado, a empresa utilizaria os recursos para investir em crescimento. “Temos uma base de clientes muito grande, nossos contratos são recorrentes. O que fizemos foi ajustar o ritmo de expansão para olhar para dentro de casa e gerar eficiência.”
No ano passado, a companhia faturou R$ 275 milhões, com alta de 66% em relação ao ano anterior. Para este ano, a meta é crescer o faturamento em 25% e atingir breakeven.
A Solinftec já cobre mais de 85% da área plantada com cana-de-açúcar no Brasil e tem forte presença nas culturas de grãos, além de estar presente nos Estados Unidos, Canadá e em 14 países da América Latina.