A Renner anunciou hoje a compra da Repassa, espécie de brechó virtual fundado em 2015, marcando a entrada da maior varejista de moda brasileira no mercado de ‘second hand’.
O negócio posiciona a companhia em um mercado que já cresce 25 vezes mais rápido que o de produtos novos e pode movimentar algo em torno de R$ 31 bilhões, segundo estimativas apresentadas hoje pela empresa ao mercado. O segmento já movimenta R$ 7 bilhões por ano no Brasil.
Dados do mercado americano, onde a tendência de moda circular já está mais consolidada, mostram que pelo menos 40% dos jovens de até 24 anos são consumidores do mercado de revenda. Entre os millennials, de 25 a 38 anos, o percentual é superior a 30%.
O Repassa é focado principalmente no público feminino das classes B e C+ e estimula o consumo consciente de vestuário, com o reaproveitamento das peças — o que está dentro da estratégia da Renner de ter produtos mais sustentáveis.
“A moda circular gera uma maior longevidade aos produtos, o que impacta menos o meio ambiente. Quanto maior a durabilidade e o ciclo de vida das roupas, menor o impacto”, disse o CEO Fabio Faccio em vídeo para investidores.
Para além do ESG, o Repassa também reforça o posicionamento digital da Renner. De acordo com o diretor de estratégia e novos negócios, Guilherme Reichmann, o Repassa tem uma recorrência de compra “superior aos pares”, além de um alto engajamento dentro da plataforma.
Foi essa mesma tese que engajou os investidores no IPO da Enjoei, a plataforma de venda de usados focada em moda, que estreou na bolsa em novembro avaliada em R$ 2 bilhões.
Apesar de atuarem no segmento, as duas empresas atuam com modelos um pouco diferentes.
Enquanto no Enjoei, a maior parte das vendas é feita diretamente entre os compradores e vendedores, que cadastram o produto na plataforma e cuidam de toda a cadeia de logística, o Repassa tem um controle maior sobre o processo.
Quem quiser comercializar algo no site precisa obrigatoriamente enviar os produtos que deseja vender no site utilizando uma “Sacola do Bem”, uma embalagem enviada pela empresa para o endereço do vendedor e que é usada para que ele deposite tudo o que deseja comercializar no site.
Ao custo de R$ 24,90, a sacola comporta até cerca de 35 itens que são enviados e conferidos pela startup. Após este processo, a própria empresa fotografa e faz a descrição das peças que serão comercializadas no site.
O processo de venda e entrega também é feito pela empresa, restando ao vendedor apenas receber o dinheiro, descontadas as taxas da plataforma. (O Enjoei começou a oferecer o serviço de logística completa, da curadoria à entrega, com o Enjoei PRO mais recentemente, mas o modelo ainda representa uma fatia menor do negócio)
“É um modelo que se preocupa muito mais com a experiência do vendedor e do comprador. Não é uma simples plataforma de intermediação de relação comercial, mas um modelo gerenciado”, disse Faccio.
Outra diferença é que parte do dinheiro obtido com a venda de um produto pode ser destinado para ONGs caso o vendedor queira realizar uma doação.
O interesse da Renner no negócio não é recente. Em 2020, a companhia já havia firmado uma parceria com a startup em que disponibiliza 15 lojas como pontos de coleta gratuita para os produtos que seriam vendidos pela plataforma da startup.
O valor da transação não foi divulgado. Trata-se da primeira aquisição feita pela Renner desde que a companhia levantou R$ 4 bilhões num follow-on em abril deste ano, voltado especificamente para reforçar a estratégia de M&A.
A aquisição será paga em dinheiro e os executivos que comandam a operação vão continuar no negócio.
A Renner não é a primeira grande varejista a apostar na tendência de reúso na moda. Em novembro do ano passado, a Arezzo já tinha anunciado a compra de 75% da TrocReal.