Future Carbon quer entregar o pacote completo da descarbonização

De geração de créditos a estruturação de fundos, empresa de Fabio Galindo e Marina Cançado quer unir capital a projetos para dar escala ao mercado de carbono

Fabio Galindo e Marina Cançado são co-CEOs da Future Carbon, startup que quer ser a one-stop-shop do carbono
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Com a explosão na demanda por créditos de carbono, cada vez mais empresas estão interessadas nas oportunidades de monetizar alternativas mais sustentáveis dentro de seus processos e há cada vez mais investidores interessados neste mercado. 

A Future Carbon quer unir essas pontas, trazendo capital para financiar projetos de carbono por meio de uma área de estruturação financeira, ao mesmo tempo em que pluga empresas compradoras e vendedoras e equipe técnica para colocá-los de pé – num modelo que batizou de “one-stop-shop do carbono”. 

“O mercado de carbono ainda é muito artesanal, de contratos pontuais, que levam muito tempo para se materializarem”, afirma Fabio Galindo, co-CEO da Future Carbon. “Queremos trazer para ele as características dos mercados mais maduros, que são a escalabilidade e o volume”. 

Ex-presidente do conselho da Aegea, de saneamento, Galindo fundou a Future Carbon em parceria com Marina Cançado, que liderava a área da XP responsável por fazer a transição de clientes de alto patrimônio para um portfólio mais sustentável e dedica sua carreira a atrair capital para investimentos sociais e ambientais. 

O perfil dos sócios dá o tom do papel que a Future Carbon pretende cumprir. 

“Muito do papel da Future é aproximar a Amazônia da Faria Lima, o técnico do financista. É como a gente constrói pontes para alavancar essa agenda pensando no Brasil como protagonista de soluções verdes para o mundo”, aponta Cançado, que divide com Galindo a cadeira de CEO. 

One-stop-shop

O mercado de soluções para redução de emissões, geração de créditos e compra e venda desses títulos ainda é muito pulverizado. 

O resultado é que as empresas têm que lidar com diversos elos na sua jornada de descarbonização: de um lado, consultorias para fazer inventários de carbono e pensar mudanças de processos, de outro, desenvolvedoras de projetos que pretendem emitir créditos, além de brokers que fazem a compra e venda de créditos de compensação de emissões.  

A proposta da Future, bastante ambiciosa, é entregar o pacote todo – uma tarefa que, num mercado ainda nascente e repleto de complexidades, é cercada de desafios de execução. 

Para isso, a empresa criou uma estrutura descentralizada, em que várias unidades de negócio ficam debaixo do guarda-chuva da holding.

Só para a atividade de geração de créditos de carbono, são três unidades com especialidades diferentes.

A Future Forest vai gerar créditos de conservação e restauração florestal, a Future Energy, de energias renováveis, e a Future Agro vai ficar responsável pelo carbono no agronegócio, incluindo alternativas como agricultura regenerativa e estoque de carbono no solo e pecuária de baixo carbono. 

A equipe das três unidades, que conta com mais de 15 anos de experiência e tem um portfólio conjunto de mais de 100 projetos, veio principalmente da consultoria Sustainable Carbon, tradicional no setor.

Para fazer a interface com as empresas que querem entender os desafios e as oportunidades de seu processo de descarbonização foi criada a Future Solutions.

“Somos muito procurados por empresas que querem fazer uma jornada climática, mas não sabem por onde começar”, diz Cançado. “A Future Solutions vai apoiar a construção da governança climática das organizações, mas com o foco em buscar as oportunidades de geração de créditos de carbono, seja no core business da organização ou na sua cadeia de valor.” 

Outros braços incluem a Future Tech, para prospectar ferramentas de inovação e tecnologia para gerar e monitorar os créditos, e a Future Academy, de educação sobre o mercado. 

Mobilizando capital 

Um dos principais diferenciais em relação a outras empresas que já atuam no segmento é que a Future Carbon quer ter uma área dedicada à estruturação de fundos, batizada de Carbon Finance, que quer mobilizar capital para investir e dar escala aos projetos de geração de créditos. 

Hoje, há diversas gestoras nacionais e internacionais que querem investir no mercado de créditos de carbono, de olho no crescimento e na valorização desses ativos diante da explosão dos compromissos de net zero. 

Mas, com frequência, elas esbarram nas peculiaridades técnicas desse mercado. 

“Estamos desenvolvendo diferentes estratégias com gestoras parceiras, como um fundo para compra de terra para desenvolvimento de projetos do zero, outro fundo para o arrendamento de terras”, afirma Galindo. 

Outro instrumento em estudo são mecanismos de antecipação de receita, em que um grande comprador dá garantia firme de compra dos créditos para tirá-los do papel. 

A ideia é atuar não como projetista, mas como co-gestor com os investidores, fazendo desde a identificação das oportunidades de investimento, com as melhores terras e projetos para desenvolvimento, como a implementação e o monitoramento. 

De um lado, os investidores encontram oportunidades e de outro as empresas que potencialmente podem gerar os créditos ganham segurança para implementar os projetos tendo o financiamento na frente. 

Mercado internacional 

O foco é em investidores internacionais, que trazem o capital paciente nos volumes necessários para investimentos que têm maturação de longo prazo. Outro perfil são os family offices nacionais. 

“Entendemos que as famílias brasileiras querem ter um papel relevante na conservação da Amazônia, mas não acham muitos caminhos para fazer isso. Nossa visão é ser o parceiro que apoia esses investidores com visão clara de Brasil e da proteção do meio ambiente, com rentabilidade financeira e visão de longo prazo”, acrescenta Cançado. 

De olho no mercado internacional, tanto de investidores quanto de compradores para os créditos, a Future tem bases também nos Estados Unidos e na Suíça. 

E criou de largada uma estrutura de governança corporativa em que o conselho conta com membros independentes (incluindo Carlo Pereira, diretor do Pacto Global da ONU no Brasil) e diretoria de compliance para dar segurança ao investidor quanto à integridade dos créditos. 

“Fora do Brasil temos uma grande desconfiança sobre como esse crédito de carbono é gerado, de quem é aquela terra. Quando a gente traz uma governança robusta, transparência e interlocutores fora do país que falam a língua do investidor, a gente aproxima mundos”, diz Cançado. 

Estoque de créditos

Fundada no começo deste ano, a Future Carbon nasceu com um portfólio parrudo de projetos para os padrões nacionais. 

Ao todo, são 18 projetos em créditos florestais, principalmente de desmatamento evitado na Amazônia, que correspondem a cerca de 1,3 milhão de hectares, capazes de gerar 150 milhões de créditos de carbono ao longo de 30 anos – ou cinco milhões de créditos por ano, se todos forem validados. 

“Se pegarmos os valores do mercado de carbono voluntário no Brasil no ano passado, a gente teria 12%, 13% de share”, afirma Cançado. 

A maior parte dos projetos foi comprada de desenvolvedoras que já atuavam no mercado. Mas quatro projetos já foram desenvolvidos do zero dentro da Future. 

No portfólio de energia renovável, são 18 projetos de 9 empresas desenvolvidos do zero e que podem gerar 70 milhões de créditos de carbono em 10 anos se forem validados.  

O capital para colocar a Future de pé veio essencialmente do family office de Galindo, e a expectativa é que, com a área de estruturação financeira, não seja necessário abrir mão de participação acionária em troca de aporte, ao menos no médio prazo. 

A companhia já tem 55 funcionários e pretende fechar o ano com 120.