Separa o abridor! O net zero da Heineken passa pela sua long neck

Como parte do compromisso para neutralizar até 2040 as emissões de carbono da cadeia de valor, a cervejaria vai abandonar as garrafas que abrem com as mãos

Foto: PJiiiJane/Shutterstock
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Como parte do compromisso para neutralizar até 2040 as emissões de carbono de toda sua cadeia de valor, a Heineken vai precisar que você resgate seu abridor de garrafas. 

Eis uma verdade (um pouco) inconveniente para a sua cervejinha gelada: a facilidade para abrir uma long neck é inversamente proporcional à sua durabilidade. Frágil, o modelo conhecido por twist-off, em que é possível abrir a tampa apenas rosqueando com a mão causa ranhuras na boca da garrafa que impedem que ela seja lavada  e reutilizada. 

A cervejaria holandesa – dona também das marcas Amstel, Bavaria, Devassa, Glacial e Blue Moon – está apostando agora nos modelos pry-off, que contam com vidro mais espesso e um selo prata, e que demandam o abridor (ou truques de bar, para os mais escolados).

A vida útil dessas embalagens é de 25 a 30 utilizações, quando depois podem seguir para a reciclagem. 

A iniciativa está começando pela Região Sul. A meta é que até o fim do primeiro semestre 90% dos bares e restaurantes do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul recebam apenas garrafas de long neck retornáveis, e que a substituição seja totalizada até o fim do ano. O programa deve subir para todo o país até 2025.

Para o mesmo ano, a meta é ter 100% de circularidade nas embalagens utilizadas em bares e restaurantes do país todo. Isso envolve as embalagens retornáveis, a reciclagem ou o reaproveitamento. 

“Em Fernando de Noronha, ajudamos a ilha a ter uma infraestrutura dedicada para vidro. O vidro é o único material que não volta para o continente. Ele é triturado, vira composto e serve para a construção civil na própria ilha”, afirma Ornella Vilardo, diretora de sustentabilidade da Heineken Brasil. 

Hoje, as garrafas de 600 ml já são retornáveis, mas as de 330 ml são descartadas e, só com muita sorte e planejamento, acabam indo para a reciclagem. Menos da metade do vidro é reaproveitada no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) — incluindo aí vidros planos, como os que vão em janelas. 

“Quando olhamos para as embalagens, o índice é ainda menor, em torno de 25%, mesmo o vidro sendo um material infinitamente reciclável”, diz Vilardo.  

Entre as explicações, estão os desafios com a segurança durante o manejo, o preço do material nas cooperativas (baixo quando comparado ao alumínio, por exemplo) e a concentração dos produtores de vidros no Sudeste, o que dificulta a logística.

Do peso total de embalagens da Heineken no Brasil, 60% são retornáveis e 40% são descartados, segundo Vilardo. Esse segundo grupo inclui o percentual que vai para a reciclagem e que hoje não é possível de ser discriminado; 70% dele corresponde a vidro. 

Em 2021, a empresa foi pioneira ao abandonar o uso de PET para embalagens de mais de 1 litro, que eram utilizadas nas suas marcas de não alcoólicos, como Skin e Itubaína. Hoje, os plásticos representam menos de 10% dos materiais utilizados pela companhia no Brasil. 

Quando se fala de embalagens retornáveis, 95% das vendas da Heineken estão no canal de bares e restaurantes e o contato é direto com os donos, o que facilita o controle para que as garrafas voltem às cervejarias. 

Eles só recebem uma garrafa cheia depois de devolverem as vazias, deixando aí um espaço para eventuais perdas e quebras, que normalmente não passam de 5%. O plano é o que mesmo aconteça para as garrafinhas long neck. 

O desafio da reciclagem

Na frente de reciclagem, os maiores gargalos são tanto a logística reversa, que faz com que as embalagens cheguem às cooperativas, quanto a capacidade instalada no país, que não cresce na velocidade necessária. 

Nesse sentido, a empresa pretende trabalhar com a reciclagem do vidro em diferentes frentes, uma vez que suas milhões de embalagens estão distribuídas pelo país. 

A Heineken conta com parcerias com cerca de 270 cooperativas de catadores no país e trabalha para sua capacitação e melhora na infraestrutura, afirma Vilardo. 

“Muitas cooperativas ainda têm que ficar quebrando garrafa por garrafa, por exemplo. Desenvolvemos uma máquina em que o vidro é quebrado sem manuseio humano”, diz Vilardo, acrescentando que a quebra ocorre de uma forma que favorece o aproveitamento do material.

Se na frente de bares e restaurantes, a fabricante tem maior controle no relacionamento com os pontos de vendas, no canal de mercados e consumo em casa, o plano é tentar mudar o comportamento do consumidor – e facilitar o descarte correto. 

Desde 2018, a empresa promove o Volte Sempre, por meio do qual consumidores de sete capitais brasileiras ganham descontos em produtos e serviços na região em troca do descarte em uma das estações. Até agora, foram 5,3 mil clientes ativos e 269 toneladas de vidros resgatados. 

O programa começou com uma parceria com o Grupo Pão de Açúcar, com as estações disponibilizadas em supermercados da rede, além de condomínios e, neste ano, está sendo ampliado para bares e restaurantes em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife.

Novo programa para engajar fornecedores

Com mais de 96% das suas emissões de gases de efeito estufa no chamado escopo 3, na cadeia de valor, a companhia está lançando também um programa de engajamento voltado para a descarbonização dos fornecedores. 

No primeiro momento, farão parte do programa nove fornecedores, cujas emissões correspondem a 40% de toda a cadeia. Os fabricantes de embalagens estão entre as principais fontes de emissão de gases de efeito estufa da cadeia de valor da companhia. 

A ideia, num primeiro momento, é fazer a aproximação e o diagnóstico  dessas empresas e ajudá-las na trajetória de redução de emissões, com compartilhamento de expertise. A Heineken não divulgou metas intermediárias nesta frente. 

“Até o fim do ano, teremos 100% de energia elétrica e térmica renovável em nossas cervejarias. Então por que não levar esse aprendizado que tivemos internamente para nossa cadeia de fornecedores de vidro, que têm um baita desafio de energia na operação deles?”, diz Vilardo.

*Foto: PJiiiJane/Shutterstock