ECONOMIA CIRCULAR

Circular Brain dobra volume processado e repassa R$ 45 mi a recicladores

Startup de economia circular processou 54 mil toneladas de eletroeletrônicos em 2024, impulsionada por metas da Política de Resíduos Sólidos

Reciclagem de celulares descartados

A Circular Brain, startup de economia circular para resíduos eletroeletrônicos, repassou R$ 45 milhões para recicladores em 2024. A empresa processou o dobro do volume de resíduos em relação a 2023. Enquanto ano passado a companhia processou 25 mil toneladas de resíduos, este ano o número saltou para 54 mil. Os dados são do Relatório de Sustentabilidade de 2024 da Circular Brain, divulgado esta semana.

Um fato que explica a escalada dos números da empresa é a progressividade da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que obriga empresas a garantir o descarte correto de um volume equivalente a uma parte de sua produção anual (seja ela no Brasil ou importada).

As metas estabelecidas pela norma começaram em 1% em 2021 e chegaram a 12% em 2024. Para 2025, as empresas deverão garantir a logística reversa de um volume equivalente a 17% de tudo o que produzem.

O modelo de negócios da Circular Brain consiste em gerenciar a logística reversa de empresas como a Whirlpool, por exemplo, dona das marcas Consul e Brastemp. 

A Circulan Brain, em nome dessas empresas, atende pedidos de coleta de um eletroeletrônicos acima de 30 quilos em qualquer lugar do Brasil, mesmo que eles sejam de outra marca. No caso de aparelhos menores, os resíduos podem ser descartados em um dos 17 mil pontos de coleta da empresa.

“Assim, a indústria interage com os consumidores finais. Els podem solicitar um descarte de uma geladeira no Amazonas e nós retiramos para levar ao reciclador mais próximo”, diz Marcus Oliveira, CEO da Circula Brain.

Economia circular

Em maio deste ano, a Circular Brain recebeu um aporte de R$ 20 milhões da Lorene Urban Mining, especializada na extração de metais de placas de computador e baterias, o que permitiu a saída dos investidores anjos da empresa, a Barn Investimentos e a BR Angels, com um retorno de 600%, após um investimento de R$ 3 milhões em 2022.

Em 2024, a Circular Brain capacitou 100% dos recicladores da rede, que cresceu de 17 para 38 operadores, que atuam em 18 Estados. A startup tem uma carteira de 20 clientes, que além da Whirpool também inclui a Huawei, fabricante chinesa de celulares, e a Caloi, de bicicletas. 

O negócio tem uma vantagem, que são as múltiplas possibilidades de reciclagem dentro dos aparelhos eletroeletrônicos: é possível extrair vidro, ferro, cobre, ouro, prata, platina, chumbo e mercúrio. Até as terras raras, minerais críticos que ganharam espaço no noticiário nas últimas semanas, podem ser recuperadas.

Isso torna o setor ainda mais complexo, pois alguns materiais como o chumbo exigem documentação e rastreabilidade. Isso significa que o processo dependa de recicladores mais preparados, um desafio na opinião de Oliveira. 

“Nosso desafio é encontrar recicladores comprometidos com a parte regulatória e mostrar, no dia-a-dia, a implementação das transformações culturais necessárias, de empresas que às vezes são analógicas e precisam ser digitalizadas”, aponta.

Rastreabilidade 

Para ajudar na missão, a equipe aumentou de 38 para 70 pessoas em 2024. E boa parte desse é por conta do time “recycler success“, que une treinamento, presença constante na plataforma e supervisão operacional no corpo a corpo com os recicladores.

Tereza Sita, gerente de ESG da empresa, avalia que a documentação é chave neste mercado. Ela conta que a plataforma da empresa possui mais de 70 mil documentos comprovando processos, um sinal de maturidade do mercado. 

“A gente sabe quem descartou, para onde foi, o que gerou e como, com notas fiscais, certificados de destinação final, de maneira automatizada no sistema e auditadas por verificadores de terceira parte da Central de Custódia, que é homologada pelo Ministério do Meio Ambiente”. 

É neste caminho, baseado em documentação e rastreabilidade, que a Circular Brain agora oferece um novo serviço para os clientes: uma ferramenta que calcula os gases de efeito estufa evitados por meio da reciclagem do eletroeletrônico. São informações que podem ser adicionadas aos relatórios de sustentabilidade desses clientes e, no futuro, com um mercado regulado de carbono no Brasil, tornarem-se ativos valiosos. 

O modelo foi desenvolvido em parceria com a WayCarbon, consultoria de soluções para descarbonização que foi comprada pelo Santander em 2022, e une dados de percentual de emissões evitadas, por enquanto, de três cadeias de reciclagem: de ferro, cobre e gases refrigerantes. 

“Sabemos que a reciclagem tem um impacto na pegada de carbono e é importante que isto esteja contabilizado e relatado. Isso também contribui para que a transição econômica seja mais circular e interligada”.