Índice mede a desigualdade das mulheres negras no mercado de trabalho

Indicador, calculado pelo Pacto de Equidade Racial, mostra que houve melhora na última década, mas o quadro geral ainda é de sub-representação e baixos salários

Mulher negra sentada a mesa, digitando num laptop, com unhas pintadas de vermelho.
A A
A A

As mulheres negras são sub-representadas no mercado de trabalho formal e ganham muito menos que os demais grupos demográficos, dois fatos que escancaram a intersecção entre duas grandes desigualdades brasileiras: a racial e a de gênero.

Houve avanços na última década, mas foram lentos, aponta um levantamento da Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial. A participação da mulher negra no mercado de trabalho aumentou, com ligeira melhora na remuneração, mas elas ainda estão nos cargos com menores salários.

A pesquisa, apresentada na primeira Conferência Empresarial ESG racial, nesta terça-feira, contou com as mãos de representantes da Ambev, Vale, Instituto Guetto e Senado Federal, entre outros integrantes do Pacto. 

Na leitura do Índice ESG de Equidade Racial (IEER) houve evolução. O índice foi criado pelo pacto para mostrar o quanto da massa salarial vai para determinado grupo da população ponderado pelo perfil racial das diferentes regiões onde a empresa atua.

O IEER segue uma escala de -1 a 1, em que o nível mais baixo representa uma composição totalmente branca e a mais alta, totalmente negra. Quanto mais próximo do 0, maior a equidade. 

Em 2020, com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o IEER ponderado para mulheres negras no Brasil foi de -0,665, o que representou uma desigualdade racial menor que em 2010, quando o indicador ficava em torno de -0,77. 

“O resultado é negativo, pois indica que existe dominância dos demais grupos demográficos (não-mulheres negras) nas ocupações no mercado de trabalho formal no Brasil. No entanto, como mostra o relatório, esse resultado é muito melhor hoje do que em 2010, quando o nível de sub-representatividade de mulheres negras era maior”, diz Lucas Cavalcanti, economista do Pacto e um dos responsáveis pelo levantamento.

Fonte: Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial.

A conquista de espaço 

A pesquisa aponta que a participação da mulher negra no mercado de trabalho formal tem crescido nos últimos anos e relaciona o fenômeno com avanços na formação escolar de pretos e pardos. A parcela de mulheres negras com ensino superior saltou de 13% para 21%, entre 2010 e 2020. 

Aqui são feitas duas ponderações. Primeiro, tal avanço se deu em meio a políticas públicas que miravam aumentar o acesso à educação, como a Lei de Cotas, que completou dez anos neste ano. Metade das vagas em instituições federais de ensino superior são  reservadas para estudantes de escolas públicas, com parte delas levando em conta critérios raciais e de renda. 

O segundo ponto é que essa maior participação se concentrou em instituições privadas de ensino e cursos considerados de menor prestígio, ressalta a pesquisa, o que tende a aumentar a probabilidade de que mulheres negras sejam alocadas em setores de menor remuneração.

Há dois anos, cerca de 45% das mulheres negras com ensino superior trabalhavam nos cinco setores de mais baixa remuneração da economia, enquanto apenas 25% dos homens brancos estavam nesses mesmos setores. Ao analisar os cinco setores com maior remuneração, a relação se inverte. 

Para Cavalcanti, é aqui que se encontra a maior fragilidade apontada pela pesquisa, com a sub-representação de mulheres negras em ocupações de maior remuneração.

“Embora a representatividade da mulher negra tenha aumentado no mercado formal brasileiro na última década, elas  ainda estão predominantemente em ocupações com menores salários. Vimos aumento da participação, mas relativa estagnação no salário relativo da mulher negra”. 

Região e faixa de renda

As desigualdades salariais no Sudeste são “muito mais pronunciadas” do que no Nordeste, afirma a pesquisa. No primeiro, a mulher negra recebe 62% do rendimento de uma branca. No segundo, a porcentagem sobe para 71%. 

Nos quatro grupos analisados, a lacuna é maior no Sudeste do que no Nordeste. 

Outra questão levantada pela pesquisa é a chamada “discriminação elitista”: quanto mais alta a classe social, maior a diferença de renda entre bancos e negros.