E o dinheiro para adaptar? Cifras dominam conversas na pré-COP

Brasília – “Pedidos múltiplos, promessas mais limitadas”, disse o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, quando perguntado sobre financiamento para adaptação climática nas primeiras conversas realizadas pela pré-COP.

Promovido pelo Ministério das Relações Exteriores brasileiro, a pré-COP acontece hoje e amanhã em Brasília. Ela não faz parte do calendário oficial da Convenção do Clima da ONU, mas tem sido realizada nos últimos anos pelos países-sede da conferência para antecipar negociações da agenda. 

As reuniões acontecem a portas fechadas. O pouco que foi transmitido na sala de imprensa do evento falou de cifras. Logo na abertura, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, listou as prioridades que um grupo de ministros das Finanças vai apresentar para destravar os tecursos necessários para que os países em desenvolvimento lidem com a emergência climática. 

Na última agenda do dia, foi a vez da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, enumerar o gap de financiamento para a natureza: a necessidade de recursos para a proteção de florestas é estimada em US$ 282 bilhões ao ano. “Mas hoje temos só um quarto disso”, disse a ministra. 

O tema era a implementação do Primeiro Balanço Global (GST, na sigla em inglês). Ele é um mecanismo do Acordo de Paris que avalia o progresso coletivo dos países em relação à meta de limitar o aquecimento global em 1,5ºC. 

“É essencial fortalecer os meios de implementação, mobilizando recursos financeiros, fortalecendo os incentivos positivos e criando instrumentos inovadores”, afirmou Silva.

Uma das iniciativas citadas por ela para preencher essa lacuna é o fundo de florestas, o TFFF, que poderia beneficiar cerca de 70 países com florestas tropicais, entre eles o Brasil. “Não se trata de doação, mas de investimento”, disse a ministra.

Outro gap de financiamento apresentado é o de recursos destinados à conservação oceânica, que somam apenas US$ 1,2 bilhão por ano, quando seriam necessários US$ 16 bilhões. 

Show me the money

A questão do financiamento tem gerado um efeito dominó. Na COP29, em Baku, no Azerbaijão, ficou decidido que os países ricos – historicamente responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento do planeta – teriam de chegar a 2035 provendo US$ 300 bilhões anuais em financiamento climático.

Esse resultado gerou grande descontentamento.

Esse valor está longe do US$ 1,3 trilhão apontado por um painel de economistas como o dinheiro necessário para que os países mais pobres e vitimados pela emergência do clima possam se descarbonizar e principalmente se adaptar a um clima que já mudou

Brasil e Azerbaijão foram encarregados de apresentar na COP30 um plano para passar dos bilhões ao trilhão. Batizado de Mapa do Caminho de Baku a Belém, esse documento não envolve negociação nem será objeto de uma decisão.

Hoje, durante as negociações na pré-COP, foi divulgado que um relatório sobre esse “roadmap” será apresentado na semana do dia 27 de outubro.  

“Esse é um tema absolutamente central para a economia”, disse Corrêa do Lago a jornalistas, ao destacar que essa seria a primeira vez que um ministro da Fazenda comparece a uma pré-COP, se referindo a Haddad.