A Ambev acaba de injetar capital semente na startup GrowPack, que desenvolveu uma tecnologia para embalagens biodegradáveis feitas a partir de resíduos agrícolas.
Mas, mais do que dinheiro, a cervejeira entrou também como ‘cliente-anjo’ da startup, se comprometendo a comprar um dos seus produtos em grande quantidade e trazendo tração comercial ao negócio.
Fundada em 2018 na Argentina, a empresa ficou em segundo lugar no último programa de aceleração da Ambev, concluído em março deste ano.
“Conseguimos achar esses empreendedores de alto impacto, com um produto que tem todas as características de resistência necessárias. E o protótipo se viabilizou também economicamente”, diz Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de sustentabilidade e suprimentos da Ambev para América Latina.
O produto criado em parceria com a Ambev foi o “bio ring”, uma espécie de suporte para encaixe de seis latas de cerveja para substituir o pack de plástico ou de papelão.
Entre outras metas, a Ambev prometeu que até 2025 pelo menos 50% de suas embalagens serão feitas de material reciclado, além de eliminar ou neutralizar a poluição plástica de 100% delas.
Neste primeiro momento, o que a GrowPack faz é usar a palha do milho que iria para o lixo — ou, pior, seria queimada — e, a partir de um processo que dispensa produtos químicos, criar uma pasta que é compostável e totalmente moldável.
Os dois ingredientes principais extraídos da palha são a celulose e a lignina, esta última um componente com propriedade de resistência, uma espécie de cimento natural. Como o biomaterial é moldável, ele se presta a variadas aplicações, como embalagem para delivery de refeições, por exemplo.
“Nosso modelo é de ‘farm to market’”, diz o argentino Exequiel Bunge, de 28 anos, CEO da GrowPack. Isso quer dizer que, a partir da tecnologia, a empresa está desenvolvendo a cadeia de fornecimento no agro e o mercado consumidor.
Toda a palha de milho necessária para a fase de piloto e atendimento inicial à Ambev virá de uma sementeira de milho do interior paulista. No futuro, conforme a produção ganhe escala, o material dispensado pelos agricultores ligados à própria Ambev deverá ser aproveitado, ou mesmo o bagaço da cevada que sobra nas fábricas da cervejeira. “Com a mesma tecnologia, podemos usar muitos tipos de biomassa”, diz Bunge.
A rodada seed é de US$ 1,2 milhão e tem como líderes a Ambev e um empresário argentino do agronegócio. O dinheiro será usado na implantação da primeira fábrica da GrowPack, num condomínio industrial em Vinhedo, a cerca de 100 quilômetros da capital paulista, para onde Bunge se mudou recentemente.
Nos próximos meses chega o maquinário importado que permitirá à startup moldar os produtos localmente — na fase de testes, a pasta era enviada ao exterior para moldagem.
Os bio rings serão testados em alguns pontos de venda em São Paulo ainda em 2021 e, a partir de 2022, a ideia é começar a usá-lo para valer em pelo menos uma das marcas de cerveja. “Em termos de custo, a solução é até mais barata do que a embalagem de papelão de celulose, por causa da disparada do preço das commodities”, diz Figueiredo.
A produção das embalagens da GrowPack consome 80% menos água do que uma embalagem de papel cartão, reduz em 50% as emissões de gás carbônico (CO2) e economiza 25% de energia elétrica, segundo as duas empresas. “São essas ações que vão ajudar a gente a atingir nossos compromissos de sustentabilidade”, diz Figueiredo.
A fábrica terá capacidade de produzir até 2 milhões de unidades por mês, o que a startup espera atingir em meados do próximo ano. A partir daí, o plano é partir para uma nova rodada de captação para ampliar a capacidade de produção, diz Bunge.