
A Omnia, empresa criada pela Pátria Investimentos no início deste ano, anunciou a construção de um data center de 200 MW, no Ceará, que vai atender a chinesa ByteDance, dona do Tiktok, segundo apurou o Reset.
A ByteDance deve ser a única cliente do empreendimento. Procurada, a companhia não confirmou a informação. A Omnia também não comentou.
Batizado de Pecém, o centro terá como principal função o treinamento de inteligência artificial, mas também será flexível para outros usos como serviços de armazenamento na nuvem (cloud), processamento tradicional e de alta performance para atender cargas globais – ou seja, não será dedicado a dados exclusivamente brasileiros.
A Omnia é responsável pelo investimento na infraestrutura física – terreno, prédios, sistemas de refrigeração e distribuição elétrica – com um aporte de US$ 2 bilhões.
O cliente será responsável pela parte mais cara: cerca de US$ 7 bilhões em servidores equipados com GPUs usados para treinamento de IA e sistemas de armazenamento, segundo a Omnia.
A Casa dos Ventos, uma das maiores desenvolvedoras de energia limpa do país e parceira do projeto, investiu R$ 4 bilhões em novos parques de energia.
A localização no Ceará é estratégica. O empreendimento será instalado na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Porto do Pecém, área de livre comércio que oferece incentivos fiscais e aduaneiros para empresas voltadas à exportação.
O porto fica a 50 km de Fortaleza. A cidade tem um dos três pontos de conexão dos cabos submarinos de dados que ligam o Brasil à América do Norte, Europa, África e América Latina.
“O Ceará reúne as melhores condições para abrigar esse polo: uma ZPE madura, ampla disponibilidade de energia renovável e conectividade internacional”, afirma Rodrigo Abreu, CEO da Omnia (ex-CEO da Oi, TIM e Cisco).
O terreno do projeto tem cerca de 700 mil metros quadrados. Inicialmente, serão construídos dois prédios, cada um com capacidade de 100 megawatts. A previsão é iniciar as obras ainda em 2025 e entrar em operação no segundo semestre de 2027.

Emissão zero
A Agência Internacional de Energia estima que 30% da energia dos data centers em 2024 foi proveniente do carvão (por conta da China). As fontes renováveis foram responsáveis por 27%. Projeções da agência estimam que o setor chegue a emitir 300 milhões de toneladas de CO2 em 2030, um terço a mais do que em 2025.
Para Abreu, o Brasil tem potencial para ser competitivo nesse cenário.
“Nosso objetivo é que o projeto seja o primeiro passo de uma expansão de data centers verdes que começa pelo Brasil, mas já nasce olhando para México, Chile e Colômbia”, diz Abreu.
“Apesar de ser um grande consumidor de energia, é um projeto de emissão zero”, diz.
Data centers são medidos pela energia que consomem. O centro da Omnia terá 200 MW dedicados à operação de tecnologia da informação (TI) e um consumo total de cerca de 300 MW – valor equivalente ao consumo de um milhão de casas brasileiras em um mês.
A Casa dos Ventos é a fornecedora de energia do projeto. Garantir contratos de energia renovável em escala suficiente e assegurar a conexão direta ao grid de transmissão do país foram partes essenciais do projeto, segundo Abreu.
Outro aspecto é o baixo consumo de água. Localizado numa região semiárida, o Pecém foi projetado para usar cerca de 30 metros cúbicos por dia, equivalente ao consumo de 75 residências.
A refrigeração usa circuito fechado com reuso de água, o que elimina o desperdício por evaporação – que é o caso de muitos datas centers. O consumo específico desse sistema será de até 3 mil litros por dia, valor próximo ao consumo de dez casas.
Sob medida
A Omnia é um novo tipo de operadora de data centers conhecida como hyperscaler, ou de hiperescala. Como sugere o nome, empresas capazes de entregar estruturas que podem crescer rapidamente em tamanho (tanto físico quanto em poder computacional). Os clientes desse tipo de instalação são as Big Techs, como Microsoft, Meta, Google e Amazon.
“Estamos falando de no máximo cinco ou dez clientes globais”, diz Abreu.
Essa concentração de demanda exige que projetos dessa magnitude sejam desenvolvidos em parceria direta com o cliente final, eliminando a possibilidade de construção especulativa.
A abordagem sob medida garante que cada projeto atenda aos requisitos específicos do cliente, incluindo sistemas de controle, refrigeração, backup e refrigeração líquida.
Além de fornecer o terreno e a infraestrutura física, a Omnia também coordena o processo de licenciamento ambiental. Segundo Abreu, o baixo impacto facilita parte do trâmite. “Não há emissão [de gases de efeito estufa associados à operação], o consumo de água é reduzido, não há rejeitos nem fluxo de cargas perigosas”, explica.
A Omnia surgiu após a experiência da Pátria Investimentos com a Odata, operadora de data centers, entre 2015 e 2022, que chegou a ter 45 MW de capacidade distribuídos em sete unidades em quatro países. Na época, um data center de 10 MW era considerado “muito grande”.
Em 2022, a Pátria vendeu a operação. “Curiosamente, o ChatGPT se tornou público apenas algumas semanas depois da venda”, conta Abreu.
A ascensão da inteligência artificial generativa provocou uma revolução no setor e criou uma demanda global sem precedentes por capacidade de processamento – e muita energia.
Essa nova realidade redefiniu o conceito de escala. Data centers de 10 ou 20 MW continuam relevantes, mas a demanda da inteligência artificial migrou para instalações de hiperescala.. “Os data centers de hiperescala são os de 100 MW ou mais. Esse é o foco da nossa atuação”, explica Abreu.