Solfácil lança primeiro FIDC verde e quer financiar R$ 1 bi em placas solares

Fintech criada em 2018 financiou R$ 100 milhões para residências em 2020 e agora chega a pequenos negócios com linha para empresas

Solfácil lança primeiro FIDC verde e quer financiar R$ 1 bi em placas solares
A A
A A

Está em fase de captação o primeiro fundo de direitos creditórios (FIDC) a receber um selo verde no Brasil. Com o fundo, a fintech Solfácil espera levantar R$ 500 milhões de investidores, como parte do funding para cumprir o plano de chegar a R$ 1 bilhão de projetos de placas solares fotovoltaicas financiadas em 2021.

Com diversos fundos de crédito ESG lançados no ano passado ou no forno no país, agora o mercado vive uma escassez de ativos que atendam aos requisitos para rechear as carteiras. Nesse contexto, a Solfácil se converteu numa das queridinhas entre os gestores desses fundos. 

A fintech é um investimento de temática ambiental por natureza. Fundada em 2018, especializou-se no financiamento de projetos solares residenciais e, em 2020, ultrapassou R$ 100 milhões em créditos concedidos.

Os planos para 2021 são de multiplicar por quase dez essa cifra, chegando a R$ 1 bilhão. Além disso, a empresa também acaba de lançar uma linha de financiamento corporativo, atendendo à demanda das empresas que vendem os projetos solares e que identificavam apetite principalmente de pequenos comércios nas cidades do interior.

Para tudo isso, a empresa precisa reforçar o funding.

Apesar de ter um negócio que agrada os investidores com abordagem ESG, até agora a Solfácil só havia captado recursos por meio de instrumentos de dívida tradicionais. No começo do ano passado colocou uma debênture de R$ 120 milhões e que foi parar na carteira dos primeiros fundos de crédito com pegada ambiental e social.

Ciente do apetite dos investidores e da demanda dos clientes por mais, a empresa resolveu partir para uma captação maior e, desta vez, buscou a certificação verde. O selo foi concedido pela consultoria Sitawi, que avaliou o desempenho ambiental do negócio.

O FIDC da Solfácil tem prazo de 7 anos e meio e benchmark de retorno de IPCA mais 6,75% ao ano para as cotas sênior, segundo o regulamento do fundo. A oferta é destinada a investidores profissionais, aqueles com mais de R$ 10 milhões aplicados, e se dá por meio da instrução 476 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ou seja, para até 50 investidores.

Segundo informações de mercado, foram os próprios gestores e family offices que indicaram que ficariam mais confortáveis com um FIDC do que com uma debênture. Isso porque os fundos contam com as figuras do administrador e do custodiante e todo o fluxo de recebíveis que lastreia o instrumento é constantemente auditado. Com o volume maior captado, os custos de administração do FIDC passaram a caber na conta.

A empresa não comenta a captação por estar em período de silêncio.

De sol a sol

A Solfácil foi fundada pelo engenheiro Fabio Carrara, um ex-consultor que também trabalhou com venture capital. Depois de um ano com uma integradora de painéis solares, que são as empresas de engenharia que vendem o projeto e fazem a instalação dos equipamentos, ele resolveu criar a fintech. 

Seu diagnóstico: enquanto grande parte das pessoas gostaria de instalar uma unidade de geração de energia solar distribuída em casa, os recursos para isso são o grande gargalo.

Carrara parece ter acertado. No fim do ano passado, a empresa estava crescendo a uma taxa de 30% ao mês.

Em 2018, todo o mercado nacional de energia solar distribuída somou R$ 1,6 bilhão. Em 2019, superou a casa de R$ 6 bilhões e no ano passado só não foi maior que os R$ 9 bilhões alcançados por causa da pandemia. 

O potencial de crescimento parece ser mesmo grande, principalmente considerando as condições climáticas do país, com sol em abundância. Enquanto a penetração no Brasil é de 0,4% das unidades consumidoras, nos Estados Unidos é de 3%, na Alemanha é de 5% e na Austrália, 20%.  

Os projetos financiados pela Solfácil têm um tíquete médio de R$ 30 mil reais, mas esse valor tende a diminuir com o tempo. Hoje, o cliente típico são famílias de classe média com vários integrantes que moram juntos e que, portanto, têm uma conta de luz salgada.

A lógica vendida pela empresa aos clientes é que é possível trocar a conta de luz de R$ 300 a R$ 500 reais pela parcela do financiamento durante um prazo de cinco anos (juro de 1,2% ao mês) e, depois disso, ter acesso a energia gratuita pelos próximos 20 anos, que é o tempo de vida útil do equipamento. É energia limpa e blindada de futuros aumentos de tarifa elétrica.

O pulo do gato da Solfácil é que, enquanto os bancões que trabalham com linhas de financiamento de placas solares tratam esse crédito como outro qualquer, avaliando o risco do tomador, a fintech considera o risco do projeto.

O racional é que, se estiver satisfeito com o desempenho da geração de energia e o projeto estiver entregando o prometido, o cliente vai pagar a prestação.

Então, a Solfácil desenvolveu inteligência para aferir a qualidade do projeto em todas as etapas, de forma digital.

Em primeiro lugar, verifica se o número de placas foi bem dimensionado, de acordo com a localização geográfica da unidade (insolação) para gerar a quantidade de energia que a residência ou comércio consome. Essas informações são verificadas por um algoritmo desenvolvido pela empresa que faz os cálculos a partir dos dados fornecidos.

Depois, a execução do projeto também é validada, por meio de fotos e medições feitas após a instalação. A empresa também verifica se a usina foi conectada corretamente à rede de distribuição (para ter acesso aos créditos na conta de energia, a distribuidora tem que homologar). 

Por fim, a empresa monitora todos os projetos financiados continuamente para saber se estão performando bem.

Parece só engenharia, mas é pura gestão de risco de crédito.

LEIA MAIS

CVM vai definir quais fundos de crédito podem carregar rótulo ESG