COLUNA - ESG VEM DE BERÇO

Fábula infantil aborda poder da mediação dos conflitos

Livro faz pensar sobre prevenção e solução de conflitos num mundo de guerras declaradas e dissimuladas 

Fábula infantil aborda poder da mediação dos conflitos
A A
A A

“Há muitos anos, quando a Terra estava ainda num certo rebuliço, montanhas, rios, lagos, árvores e vales se acertavam para ver quem ficava onde, quem fazia o quê.” Assim começa Da Guerra dos Mares e das Areias, Fábula sobre as marés, de Pedro Veludo e Murilo Silva, publicado pela editora Quatro Cantos há mais de 10 anos. 

A obra conta como dois personagens permanentemente em guerra – os mares e as areias – resolveram sua contenda a partir da sugestão de um mediador – que passa a ser o guardião dos interesses de ambos – e da nomeação de um regulador independente, com distância e isenção para determinar as regras do jogo.    

Os mares não suportam o silêncio das areias. Estas, por sua vez, não aguentam os barulhos dos mares. O mediador (não haverá spoiler aqui) entende as necessidades e propõe uma solução que equilibra as preferências de um e de outro. Ganham os três e quem está em volta.  

Para que a solução seja duradoura, o regulador eleito pelos mares e pelas areias (quem será?) passa a reger o espetáculo, permitindo que estes e aquelas convivam harmoniosamente. 

Uma história sobre o poder da governança. 

Instrumentos de prevenção e mitigação de conflitos, assim como um código de conduta que guia as relações, nascem com os bebês e com as interações que vão estabelecendo pouco a pouco com seus cuidadores. São diversas as maneiras desenvolvidas e estabelecidas para esse fim. Não apenas porque cada criança é única, mas porque se comportam de maneira diferente conforme o cuidador responsável e/ou o ambiente. Com a mãe é uma dinâmica, com o pai outra, com os avós uma terceira. Na escola, outras tantas.  

À medida que as crianças crescem e que seu círculo social aumenta, essas “regras de comportamento” vão se tornando mais formais e mais amplas, sujeitas a também a questões culturais, sociológicas, econômicas, entre outras. Nascem, em geral, de boas intenções. Especialmente a de permitir uma convivência pacífica, baseada no respeito mútuo. 

Cada uma dessas interações as preparam para relações futuras, os assuntos de “gente grande”. As formas de coexistir, porém, nunca se esgotam. Muda o ambiente, mudam as pessoas, muda o próprio indivíduo. 

Quando se observa a última reunião da COP, no Azerbaijão, ou a do G20, no Rio de Janeiro, por exemplo, constata-se que o mundo ainda está num certo rebuliço. Num baita rebuliço. Fica difícil não concluir que ele só vai aumentar dados os desafios ambientais, políticos e sociais que se alastram, incontroláveis, pelo planeta. Mais do que nunca as bases da governança são essenciais para a sustentabilidade (em todos os sentidos) e perpetuidade das relações. Independentemente das fronteiras demarcadas pela política e por instâncias administrativas quanto mais gente agindo pela paz, desde a mais tenra idade, melhor. 

Da Guerra dos Mares e das Areias levou o segundo lugar do Prêmio Jabuti de 2014, na categoria infantil, entrou na lista dos 30 Melhores Livros da Revista Crescer no mesmo ano, e compõe o acervo básico da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). 

Sobre os autores 

Pedro Veludo nasceu no Porto, Portugal. Passou a infância e a juventude em Moçambique, onde se formou em engenharia. Enquanto viveu no Brasil, fez formação de ator e direção de atores e passou a dedicar-se à escrita de teatro, livros infantis e paradidáticos. Faleceu em 2019. 

Murilo Silva é pernambucano, ilustrador e professor. Dedica-se atualmente à xilogravura tradicional e à sua associação ao desenho digital.