Investimentos em tecnologias de baixo carbono atingem US$ 1,1 tri. Ainda é pouco

Total se equipara à indústria dos fósseis, mas precisa triplicar para mundo chegar ao net zero, aponta levantamento da Bloomberg NEF

Investimentos em tecnologias de baixo carbono atingem US$ 1,1 tri. Ainda é pouco
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Os investimentos em energias renováveis e tecnologias que substituem combustíveis fósseis cresceram 31% no ano passado e atingiram US$ 1,1 trilhão, de acordo com um levantamento da consultoria Bloomberg NEF.

É a primeira vez que os recursos dedicados à transição energética chegam a US$ 1 tri num mesmo ano, alcançando o mesmo patamar da indústria de fósseis.

Com exceção da energia nuclear, todos os segmentos analisados – renováveis, baterias, eletrificação de transportes e de sistemas de calefação, hidrogênio verde e materiais de construção sustentáveis – registraram recordes desde que a BNEF começou o acompanhamento, em 2004.

O maior volume se concentrou nas cadeias de produção de fontes limpas, como solar, eólica e combustíveis verdes. Foram US$ 495 bilhões investidos em 2022, um aumento de 22% em relação ao ano anterior.

O maior salto proporcional, entretanto, foi na transformação do setor de transportes. As vendas recordes de veículos elétricos e a construção da nova infraestrutura de pontos de recarga representaram um crescimento de 54%, movimentando US$ 466 bilhões, calcula a BNEF.

A China foi, de longe, o país que mais investiu nas tecnologias da transição energética, com US$ 546 bilhões. O país é o maior emissor do mundo de gases de efeito estufa, e dois terços de sua eletricidade é gerada via queima de carvão.

Em segundo lugar vieram os Estados Unidos, com US$ 141 bi, seguidos por Alemanha, França e Reino Unido, pela ordem.

A dominância da China

Um dado mostra por que existe um movimento global para reduzir a dependência dos chineses e ao mesmo tempo capturar parte dos dólares destinados à transição para o carbono zero: 91% dos investimentos em manufatura dos vários componentes da cadeia da energia limpa ficaram na China.

O país registrou US$ 69,3 bilhões em investimentos na indústria, com a maior parte concentrada na fabricação de baterias e de placas solares.

O levantamento ainda não detectou o impacto da Lei da Redução da Inflação, nome oficial do pacote de estímulo à transição energética aprovado no meio do ano passado nos Estados Unidos.

Com isenções fiscais e subsídios da ordem de U$ 370 bilhões – e que devem alavancar trilhões em novos investimentos do setor privado –, o governo de Joe Biden quer que o novo impulso para a economia americana venha das inovações de baixo carbono.

Hidrogênio emergente

Os investimentos em hidrogênio verde ficaram em US$ 1,1 bilhão. O valor é pequeno em comparação com outras tecnologias mais estabelecidas, mas foi o que apresentou o maior salto anual no estudo da BNEF: 200%.

O sequestro de CO2, outra tecnologia emergente que ainda não atingiu a escala necessária para ter papel decisivo na descarbonização, recebeu US$ 6,3 bi, quase três vezes mais que no ano anterior.

De acordo com a análise da BNEF, os investimentos totais em tecnologias limpas empataram com os direcionados aos combustíveis fósseis no ano passado. Uma virada é questão de tempo, segundo a consultoria.

“Nossas conclusões encerram o debate sobre o impacto da crise energética na implementação de soluções limpas”, afirmou em comunicado Albert Cheung, responsável global pela área de análises da consultoria.

 Apesar da escala, o montante ainda precisa ser pelo menos triplicado para que o mundo entre na trajetória do net zero em 2050, segundo o levantamento.

A aceleração na substituição das fontes poluentes é condição necessária para limitar a 1,5° o aquecimento do planeta.