Com tíquete de R$ 100, rodada tem 13 negócios do Nordeste e do Norte

Empréstimos coletivos contemplam empresas de moda, alimentação, turismo sustentável e até saneamento básico

Com tíquete de R$ 100, rodada tem 13 negócios do Nordeste e do Norte
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Rodadas de empréstimos coletivos voltadas para o público do varejo para impulsionar negócios de impacto do Sudeste e da Amazônia têm acontecido com cada vez mais frequência. Agora, uma captação aberta na semana passada tem 13 negócios majoritariamente da região Nordeste que estão em busca de crédito e nos quais é possível aplicar a partir de R$ 100.

São empresas de moda, alimentação, turismo sustentável, saneamento e moradia, a maioria liderada por pessoas negras, indígenas e mulheres. No conjunto, elas buscam até R$ 5 milhões e os organizadores esperam atrair ao menos mil investidores.

A iniciativa é uma parceria entre três organizações: a Yunus Negócios Sociais, a articuladora de negócios de impacto Somos Um e a Trê, que desenvolve soluções financeiras para negócios de impacto.

Batizada de Programa Zunne, a rodada paga aos investidores juros de 10% ao ano – abaixo, portanto, da taxa Selic. O pagamento aos investidores é feito em 42 parcelas mensais, depois de seis meses de carência, totalizando prazo de quatro anos. Até 20% de inadimplência serão absorvidos por um fundo criado com recursos filantrópicos.

O programa foi montado com uma estrutura de blended finance, que mistura capital filantrópico e comercial. Os recursos doados – R$ 1,5 milhão – vieram da Fundação Tide Setubal e do Instituto Beja e, além de entrarem para absorver parte do risco de inadimplência, vão pagar pelo apoio técnico às selecionadas, com capacitação nas áreas jurídica, financeira, de marketing digital e vendas, gestão de negócios e outras.

“Entendemos que esse modelo resolveria o risco e os custos de uma estrutura para apoiar um empreendedor early stage”, explica Ticiana Rolim, presidente da Somos Um.  

No total, foram avaliados 97 negócios inscritos em quase todos os Estados do Nordeste e do Norte. Das selecionadas, nove são do Nordeste, três do Norte e uma do Sudeste – mas com atividades nas duas primeiras regiões. 

A startup SDW é uma delas. Criada pela baiana Anna Luísa Beserra e pela cearense Letícia Nunes, busca garantir o acesso à água potável e ao saneamento de qualidade em regiões que não contam com esses serviços. A empresa desenvolveu o Aqualuz, um dispositivo que consegue fazer a desinfecção da água usando a energia solar.

O negócio já atinge 23 mil pessoas em 16 Estados, mas o potencial é maior. “Cerca de 100 milhões de pessoas podem ser ajudadas por nós, só precisamos conseguir escalar”, diz Anna Luísa. A empresa buscava R$ 55 mil na rodada e foi a primeira – e única até agora – a atingir a meta. 

Arthur Coimbra, fundador da Na’Kau, primeira fábrica de chocolates do Amazonas, considera que o acesso a capacitação é um dos principais trunfos do programa. “Não precisamos só de financiamento. É preciso também conseguir dar continuidade, fazer captações, mentorias e formar uma rede que nos apoie.”

Completam a lista de empresas a marca de bolsas artesanais Catarina Mina (foto), Sucré, Um Grau e Meio, Poranduba Amazônia, Refazenda, Oikos, Yan Tec, Ateliê da Sil, Roma Negra, Muda Meu Mundo e Giardino Buffet.

Segundo Marcos Pedote, cofundador e diretor da Trê, a ideia é fazer novas rodadas do Zunne, inclusive trazendo negócios que não foram selecionados agora. “Temos ajustes a fazer para conseguirmos ampliar ainda mais o alcance desse investimento”, diz ele, lembrando que isso passa por conscientizar as pessoas sobre que tipo de negócio seu dinheiro financia.