A jovem paquistanesa Malala Yousafzai foi baleada aos 15 anos porque queria estudar. Em 2014, se tornou a pessoa mais jovem a receber o prêmio Nobel da paz em reconhecimento pela sua luta por educação para meninas.
Em 2018, Greta Thunberg tornou-se conhecida mundialmente por fazer protestos solitários na frente do parlamento sueco em busca de ações que combatessem as mudanças climáticas. Sua atitude estimulou milhares de jovens mundo afora a fazer o mesmo.
Essas jovens são bons exemplos para mostrar que as novas gerações têm uma consciência social, ambiental, ética e cidadã que as gerações anteriores não tiveram.
Os jovens, em geral, querem saber a origem dos produtos, a quantidade de sódio e açúcar nos alimentos, querem mais diversidade e inclusão social. Ademais, esperam que as empresas busquem agir com essa mesma consciência nos seus negócios.
Não é toa que todos os dias vemos empresas assumindo compromissos públicos de redução das emissões dos gases de efeito estufa, empresas do agronegócio anunciando investimentos para garantir a rastreabilidade de grande parte das cadeias produtivas, outras empresas anunciando processos seletivos só com pessoas negras para promover a diversidade.
São notícias cada vez mais comuns, mas que não se via há cerca de cinco anos.
Numa sociedade onde consumidores, investidores e talentos vão subindo o sarrafo e incorporando novos padrões às suas decisões, a empresa tem que estar conectada e ter “visão de futuro” para poder continuar a ter resultados.
ESG é moda?
Por tudo isso, acho muito curioso quando participo de eventos sobre os critérios ESG, tão frequentes nos últimos tempos, e a principal pergunta é: “Você não acha que é uma moda passageira?”.
A minha resposta é sempre a mesma: “Não, eu não acho”.
Há mais de 20 anos estou nessa jornada da sustentabilidade. Ao longo desse tempo, vi o quanto evoluímos tanto em nossas ações empresariais, quanto nas ações corporativas.
No começo, por volta dos anos 90, falávamos em doações aqui e acolá — a filantropia tem muito valor em um país tão carente quanto o nosso, mas não é esse o ponto aqui.
Depois, vimos o surgimento do termo sustentabilidade em si e muitas empresas começaram a desenvolver projetos importantes que iam muito além de coleta seletiva e uso de papel reciclável.
Cada companhia foi entender o que fazia sentido dentro da sua área de atuação, surgiram ações que variavam da redução de plásticos nas embalagens até o incentivo ao microcrédito produtivo no setor financeiro.
Hoje, muitos já entenderam que, quando falamos em critérios ESG, estamos falando de um pensamento estratégico que está diretamente conectado à essência dos negócios.
Os conceitos ESG podem ser usados no desenvolvimento de produtos, no desenvolvimento organizacional promovendo mais inclusão e diversidade e atraindo novos talentos, e até na captação de recursos. Diversas empresas brasileiras estão conseguindo taxas de juros mais atrativas com os chamados Sustainable-Linked Bonds, que são títulos de dívida atrelados a metas de sustentabilidade. Só para citar alguns exemplos.
Para as empresas, a utilização dos conceitos ESG significa, em última instância, estar conectado com o jovem consumidor, o jovem investidor e o jovem profissional.
Costumo dizer que fazer projeções para a economia brasileira é muito complicado, mas em demografia é muito mais simples. A cada dia entra no mercado um jovem que leva em conta os critérios ESG para tomar a maioria de suas decisões e se aposenta um profissional que achava tudo isso uma bobagem. É um movimento sem volta.
Percebam que eu comecei esse texto citando exemplos de duas jovens que se tornaram conhecidas em 2014 e 2018, portanto, antes da pandemia. Eu acredito que a pandemia apenas acelerou essas mudanças que já víamos em nossa sociedade.
Sei também que ainda há muitas pessoas que veem esse movimento ainda como uma série de restrições.
Eu acredito, no entanto, que representa uma série de oportunidades para resolver problemas complexos como a transição para uma economia de baixo carbono. Talvez a preocupação seja saber se a velocidade dessa transição está adequada às necessidades do planeta. Certamente temos que acelerar.
Como um avô de quatro crianças que me enchem de alegria, é um privilégio ver a transformação que as novas gerações trazem para a nossa sociedade.
* Fábio Barbosa foi presidente do Banco Real/ Santander, atualmente é membro do conselho de administração da UN Foundation e passa a ser colunista do Reset.