Parceria remove frete da equação e quer turbinar reciclagem do vidro

Owens-Illinois, uma das maiores fabricantes de garrafas do mundo, vai garantir a compra do material processado pelo instituto Recicleiros

Fábrica de vidros da Owens-Illinois. Na imagem, um homem usa equipamento de segurança e observa a produção de algumas garrafas de vidro.
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Assim como as garrafas PET e as latas de alumínio, as embalagens de vidro são 100% recicláveis. Apesar disso, a taxa de reciclagem de vidro no Brasil é baixíssima, enquanto o reaproveitamento do alumínio é quase total e o PET é o tipo de plástico mais reciclado no país, com índice estimado ao redor de 50%.

O problema é que o vidro “não viaja”, como diz uma máxima do mundo da reciclagem.

Como o material é muito mais pesado que os demais e são poucas as indústrias de reciclagem existentes no país, o custo do transporte por longas distâncias se torna proibitivo. Esse fator, somado à flutuação dos preços pagos pelos cacos, faz com que muitas vezes a ponta da reciclagem não consiga se desfazer dos estoques.

“Se o custo do transporte for mais alto que o valor da matéria-prima, não tem como fechar a conta”, diz Erich Burger, fundador e diretor institucional do Instituto Recicleiros, organização da sociedade civil que fomenta o ecossistema de reciclagem no Brasil.

Para remover o custo logístico da equação e tentar assegurar que o vidro descartado pós-consumo vai virar uma nova embalagem, o Recicleiros acaba de fechar uma parceria com uma das maiores fabricantes de embalagens de vidro no mundo, a Owens-Illinois (O-I).

O acordo garante que todo o vidro coletado e triturado pelo Recicleiros será adquirido pela empresa. A O-I se compromete a pagar um custo fixo pelos cacos, independentemente da distância que eles tenham de viajar até uma de suas três fábricas, no Recife, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A parceria tem duração de dois anos, com possibilidade de renovação, e a expectativa é recuperar cerca de 3 mil toneladas de vidro no primeiro ano.

Não é muito diante do volume total da empresa. A Owens-Illinois fabrica cerca de metade das mais de 1,5 milhão de toneladas de embalagens de vidro consumidas anualmente no país e tem entre seus clientes Coca-Cola, Heineken e Ambev.

Mas a companhia enxerga dois benefícios imediatos. O primeiro é aumentar a proporção de vidros reciclados no total da matéria-prima.

“O grande consumo do Brasil está próximo às regiões metropolitanas, mas como indústria precisamos ser responsáveis pelo vidro onde quer que ele esteja”, diz Alexandre Macário, gerente de economia circular da O-I.

O segundo tem a ver com qualidade. Muitas vezes, o material de reúso chega contaminado às plantas. O processamento do Recicleiros garante que os cacos entregues estejam quase prontos para os fornos onde serão transformados em novas garrafas.

Economia circular

Desde o ano passado, o vidro é um dos materiais sujeitos a uma regulação mais firme, com o objetivo de reduzir a geração de resíduos e incentivar a economia circular. Regras semelhantes existem para embalagens e eletroeletrônicos.

Comerciantes, distribuidores, fabricantes e importadores têm metas obrigatórias de reciclagem, que são calculadas em relação à produção nacional e aumentam gradualmente.

Para este ano, a porcentagem é de 27,5%, chegando a 35% em 2032. A regra  leva em consideração aspectos regionais – a maior cota cabe a São Paulo, onde a densidade demográfica é maior,  e a menor, à região Norte.

A exigência regulatória é um dos motores do crescimento do Recicleiros. O instituto está presente em 11 Estados, em 14 cidades de pequeno e médio porte, como São José do Rio Pardo (SP), Jijoca de Jericoacoara (CE), e Ji-Paraná (RO). O objetivo é chegar a  20 municípios até metade de 2024 e a 60 até 2026.

O principal trabalho das unidades é limpar e processar diferentes materiais recicláveis, como alumínio e plástico, pós-consumo para que voltem à indústria. Mas Burger diz que esse é apenas um dos objetivos da ONG.

O instituto também capacita pessoas de baixa renda para que possam atuar como catadoras e se unir às cooperativas-parceiras, que fornecem o material processado nas unidades. Outro papel importante, segundo o fundador, é a coordenação dos esforços de prefeituras, cooperativas e empresariado para promover a reciclagem.

Com a garantia de receitas da parceria, o Recicleiros começa também uma nova fase de engajar bares e restaurantes nas cidades onde atua para que façam o descarte correto do vidro.