Com a redução do desmatamento e a menor necessidade de acionar usinas termelétricas movidas a gás por causa das chuvas abundantes, as emissões brutas de gases de efeito estufa brasileiras caíram 8% no ano passado em relação a 2021.
O controle da devastação é de longe a medida mais importante que o país tem a tomar na frente climática. Segundo os autores do levantamento, caso seja cumprida a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de zerar o desmatamento até o fim desta década, o Brasil poderia praticamente dobrar seu compromisso nacional de corte de emissões até 2030.
As informações fazem parte da 11ª edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), divulgado na manhã desta quinta-feira.
Em números absolutos, foram emitidas 2,3 bilhões de toneladas de carbono equivalente (GtCO2e), ante 2,1 bilhões no ano anterior.
Levando em consideração as emissões líquidas, que descontam a absorção de carbono por florestas secundárias e unidades de conservação, a redução foi de 11%: de 1,9 GtCO2e para 1,7 GtCO2e.
Esta é a métrica que o país adota em suas NDCs, como são chamados os compromissos nacionais perante a Convenção do Clima da ONU.
Glossário: aprenda a falar ‘climatês’
No início deste mês o governo formalizou a correção da “pedalada climática” da gestão Bolsonaro. A meta atual do país, hoje, é limitar as emissões líquidas a 1,3 GtCO2e por ano em 2025 e a 1,2 GtCO2e em 2030.
Ambas estão ao alcance. Para atingir a primeira delas daqui a dois anos, quando o país será a sede da COP30, bastaria reduzir o desmatamento na Amazônia em 33% – considerando que as emissões dos outros setores permaneçam mais ou menos constantes.
Na hipótese de o desmatamento ser mesmo zerado até 2030, o país bateria o objetivo com folga: em vez do prometido 1,2 bilhão de toneladas líquidas, o país emitiria somente 685 milhões.
“Os cenários traçados são bastante conservadores. Mas apontam na direção do que o Brasil pode e precisa fazer para liderar pelo exemplo, tanto à frente do G20 quanto como presidente da COP30, em Belém”, disse em nota Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de ONGs que publica o estudo.
O perfil das emissões brasileiras
Em relação à origem do CO2 emitido no país, a distribuição permaneceu largamente inalterada: 48% da contribuição brasileira em termos brutos vem do desmatamento.
Somente na categoria mudança de uso da terra, que inclui a derrubada de floresta para dar lugar à pecuária ou à agricultura, o país lançou na atmosfera 1,2 bilhão de toneladas, o equivalente à soma de todas as emissões de Reino Unido e Canadá.
A queda na devastação da Amazônia no último ano do governo Bolsonaro puxou esse número para baixo. A queda foi de 15% em comparação com 2021, mesmo com o crescimento da destruição no Cerrado (13%).
A agropecuária ficou em segundo lugar, com uma fatia de 27% do total. O consumo de fertilizantes caiu, mas esse ganho foi anulado pelo aumento do rebanho. As emissões do setor subiram 3%, a maior alta em 20 anos.
O setor de energia, terceiro no ranking, registrou uma queda de 5%. As chuvas garantiram a participação das hidrelétricas na geração de eletricidade – e reduziram a necessidade de ativar termelétricas.
“Essas condições climáticas fizeram com que o país reduzisse o equivalente a 36 milhões de toneladas, ou um Uruguai [em emissões]”, afirma Felipe Barcellos e Silva, do Instituto de Energia e Meio Ambiente.
Essa economia ajudou a compensar o aumento no setor de transportes, maior consumidor de combustíveis fósseis do país.
Descolamento econômico
O SEEG cruzou os dados de emissões de carbono com o PIB. A distorção do perfil de emissões do país fica clara quando se incluem os números do desmatamento.
Desconsiderando a mudança de uso da terra, emitimos 0,59 kg de CO2e para cada dólar de riqueza gerada. Quando a conta inclui a destruição ambiental – que não contribui para a economia –, o número dobra: 1,22 kg/dólar.
O enorme peso da derrubada da vegetação nativa também mantém o Brasil entre os maiores responsáveis pelo lançamento de poluentes na atmosfera.
O país é o sexto maior emissor, depois de China, Estados Unidos, Rússia, Índia, União Europeia e Rússia.