Incerteza regulatória trava avanço do net zero no Brasil, diz estudo

Empresas estão motivadas para agir, mas querem segurança antes de fazer investimentos, aponta CEBDS

Arte mostra mulher de costas com caminho a frente e várias setas de multiplos caminhos a perseguir.
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As empresas brasileiras estão motivadas para a transformação de seus negócios rumo ao net zero e acreditam que haverá oportunidades, mas muitas delas esperam mais certezas regulatórias antes de agir.

Essa é uma das conclusões de um estudo divulgado hoje pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, o CEBDS, sobre os desafios da descarbonização do setor privado no país.

Regras para divulgações de informações, no caso das companhias negociadas na bolsa, e o aguardado mercado regulado de carbono são apontados como pontos relevantes para 97% dos entrevistados.

O CEBDS está envolvido no desenho do mercado de carbono brasileiro há seis anos. 

“Agora vai”, disse Marina Grossi, presidente da entidade. “São empresas de setores que serão regulados pedindo para ser regulados e dizendo que se sentem maduras para isso. Mas elas querem segurança para investir.”

A necessidade de programas e marcos setoriais, como as prometidas regras para incentivar a produção de hidrogênio verde no país, também foi destacada por 92% dos que responderam.

Falando no evento de lançamento do estudo, a secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, afirmou que o governo vai “tangibilizar” as metas brasileiras do Acordo de Paris para nove setores da economia.

“Quais são os entraves regulatórios, de financiamento, de tecnologia, de pessoal para que sejamos carbono neutro em 2050”, afirmou Toni.

A pesquisa

A pesquisa teve a participação de  mais de 50 empresas de vários setores da economia.

“O fato de haver motivação interna [para a descarbonização] é um ponto positivo”, afirmou Arthur Ramos, líder de clima da consultoria BCG, que realizou a pesquisa em parceria com o CEBDS. Já existe o entendimento de que se trata de uma “questão de sobrevivência” para os negócios, afirma o consultor.

Embora os nomes das companhias não tenham sido divulgados, o fato de cerca de metade delas trabalharem com o CDP e a SBTi, duas das principais iniciativas globais para o net zero corporativo, sugere que o universo contou com organizações de grande porte e mais adiantadas na descarbonização.

Nove entre dez delas, por exemplo, já fazem cálculos de suas emissões de gases do efeito estufa, e 81% contabilizam tanto os chamados escopos 1 e 2 (as emissões das próprias atividades e da energia consumida) e pelo menos parte do escopo 3 (a cadeia inteira, incluindo os clientes).

Outros dois dados indicam uma amostra composta por companhias mais adiantadas rumo a um mundo sem carbono: 79% afirmam já ter uma estratégia clara para descarbonizar suas atividades, e 71% implementa ações em escala nesse sentido.

Por outro lado, 75% indicaram que é difícil medir as vantagens de longo prazo das ações climáticas. A competição por recursos que terão impacto mais imediato é um problema quase unânime entre as companhias ouvidas (94%).

Reação em cadeia

Outro ponto comum encontrado na pesquisa foi a dificuldade de lidar com as cadeias produtivas. Zerar (ou em alguns casos compensar com créditos de carbono) as emissões dos fornecedores e clientes é um dos grandes desafios das metas net zero.

Apesar de 90% das companhias ouvidas afirmarem buscar esse engajamento, somente 20% o fazem de forma estruturada e abrangente.

“Existe a dificuldade do cálculo em si e também de fatores específicos da realidade brasileira”, afirma Ramos.

Um exemplo são as indústrias que dependem de insumos que vêm do campo. Depois do desmatamento, responsável por metade das emissões brasileiras, a agropecuária vem em segundo lugar, com 21%.

Ainda não existem business cases positivos que levem os produtores a aderir, afirma o estudo do CEBDS. As razões incluem a dificuldade de mensuração das emissões do setor, as diferenças de tamanho e de recursos dos produtores e modelos comprovados que lhe ofereçam benefícios claros.