Quem visita Belém, com frequência inclui na rota de passeios uma ida à Ilha do Combu. Foi assim com o presidente francês, Emmanuel Macron, em sua passagem pelo Brasil em março. É ali, a 15 minutos de barco da capital paraense, onde Izete Costa, conhecida como Dona Nena, fabrica chocolates e doces artesanais com base nos cacaus orgânicos cultivados na floresta.
Com o fortalecimento da marca Filha do Combu, Dona Nena é uma das fornecedoras do chef de cozinha Thiago Castanho e é conhecida por promover uma visita guiada pelo cultivo de cacau e a fábrica que lidera na ilha.
O negócio da empreendedora é um dos selecionados pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) para receber apoio em seu desenvolvimento, a partir de uma verba de R$ 170 milhões concedida pelo governo da Alemanha a título de doação e que será integralmente gerida pela organização.
A FAS estuda como ampliar as experiências turísticas oferecidas por Dona Nena. “Queremos deixar tudo pronto para a quantidade de pessoas que vão a Belém durante a COP30 [conferência do clima da ONU], no próximo ano”, diz Victor Salviati, superintendente de inovação e desenvolvimento institucional da FAS.
Os R$ 170 milhões serão desembolsados pelo Banco de Desenvolvimento alemão KfW pelos próximos três anos.
Ao todo, serão cerca de 300 iniciativas beneficiadas, igualmente divididas entre os Estados do Amazonas e do Pará – assim como a FAS, os Estados passaram por um processo seletivo para receber o dinheiro.
Os recursos devem ser usados no combate ao desmatamento, fomento à bioeconomia e apoio à governança ambiental nos níveis estaduais, e terão seu destino definido em conjunto com as respectivas secretarias estaduais de meio ambiente.
No Amazonas, o apoio às atividades extrativistas, como açaí, pesca do pirarucu e óleos vegetais, integram a lista de iniciativas escolhidas pela FAS. Já no Pará, grande parte está voltada para o fortalecimento da vitrine de negócios para a COP30.
A parcela inicial da doação deve ser liberada pelo KfW ainda na primeira quinzena deste mês.
Expertise na Amazônia
Com 16 anos de experiência na relação com a população local e atuação em mais de 800 comunidades indígenas, caboclas e ribeirinhas em toda a Amazônia Legal, a FAS será a responsável por transformar a doação em ações efetivas.
“Nós concluímos, há poucos dias, o desenvolvimento dos projetos técnicos com os dois Estados, que demonstram que aquelas atividades concatenadas e coordenadas vão contribuir para os três eixos propostos: reduzir o desmatamento, fomentar a bioeconomia e fortalecer a governança ambiental”, diz Salviati.
A fundação deve replicar o que faz no Centro e no Norte do Amazonas, onde facilita a cadeia de beneficiamento do pirarucu para que todas as partes do peixe sejam melhor aproveitadas. A capacitação de servidores públicos em tecnologias de monitoramento do desmatamento também está na lista.
Por exigência do KfW, ao menos metade do dinheiro deve ser direcionada para o público com que a fundação atua diretamente, e a preferência é para iniciativas que beneficiem mulheres e jovens.