BANCOS

Aliança climática global de bancos encerra atividades

Grupo representou mais de 40% dos ativos bancários em seu auge; Itaú e Bradesco faziam parte

Metas de net zero de 25 empresas são vagas, ambíguas e não entregam o que prometem; Vale e JBS estão entre elas, diz estudo

A Net-Zero Banking Alliance (NZBA) informou nesta sexta-feira (3) que vai encerrar suas atividades imediatamente. Apoiado pela ONU, o pacto tinha como objetivo limitar o financiamento e investimento a indústrias que contribuem para as emissões de gases de efeito de estufa e perdeu boa parte de seus membros no último ano.

“Os membros da Net-Zero Banking Alliance (NZBA) votaram pela transição de uma aliança baseada em membros e pelo estabelecimento de sua orientação como uma estrutura. Como resultado dessa decisão, a NZBA encerrará suas operações imediatamente.”

As orientações que a aliança desenvolveu para ajudar os bancos a definir metas para reduzir suas emissões diretas e indiretas de carbono permanecerão disponíveis publicamente. Junto com o anúncio, a aliança publicou sua “Orientação para Definição de Metas Climáticas para Bancos” atualizada, descrevendo os princípios-chave para a definição de metas líquidas zero alinhadas aos objetivos do Acordo de Paris.

Ao anunciar a saída da aliança, muitos bancos disseram que vão manter suas metas internamente e continuarão a avaliar os riscos climáticos individualmente.

“É muito decepcionante ver os maiores bancos do mundo votarem para se afastar da responsabilidade em relação aos seus compromissos de evitar os piores efeitos do aquecimento global”, disse Jeanne Martin, codiretora de engajamento corporativo da organização sem fins lucrativos de investimento responsável ShareAction, ao Financial Times.

“Os banqueiros seniores precisam ser muito mais corajosos neste momento decisivo — para o futuro de todos nós”.

Grandes nomes de Wall Street desembarcaram da aliança sob pressão de ameaças de litígios alegando práticas anticoncorrenciais. Instituições financeiras estão sob crescente pressão de legisladores republicanos para se distanciar de iniciativas com metas para emprestar menos para a indústria de petróleo e gás e outras fontes de energia poluidoras. 

Os maiores bancos americanos deixaram a aliança antes mesmo da posse de Donald Trump, entre eles JP Morgan Chase, Citigroup, Bank of America, Morgan Stanley e Wells Fargo. Este ano, eles foram seguidos por grandes credores europeus, incluindo HSBC e Barclays, assim como do Japão e do Canadá.  

A aliança foi criada em 2021 com o apoio de Mark Carney, atual primeiro-ministro canadense, quando era enviado especial da ONU para a ação climática. Ela nasceu no auge do entusiasmo pela ação climática do setor financeiro, antes da COP em Glasgow, realizada após a pandemia. 

Após uma rápida expansão de 43 bancos no lançamento, em 2021, a NZBA chegou a ter cerca de 140 bancos, representando US$ 74 trilhões em 2024. No seu auge, ela representava mais de 40% dos ativos bancários globais. 

Coalizões equivalentes entre gestores de ativos, seguradoras e proprietários de ativos, criadas na mesma época, também esbarraram no impasse político e encerraram suas atividades.