Setor privado global entrega recomendações para a COP30

Nova York – A iniciativa Sustainable Business COP (SB COP), que reúne representantes de empresas de 60 países, entregou 23 recomendações do setor privado para o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, durante evento em Nova York nesta segunda-feira (22).

A iniciativa representa um canal inédito de comunicação entre as empresas e a Convenção do Clima da ONU, da qual fazem parte formalmente só os governos nacionais.

Ricardo Mussa, presidente da SB COP, estima que o documento final representa 40 milhões de empresas. Em novembro, em Belém, a entidade estará presente para o “corpo a corpo” com os negociadores, buscando a inclusão do máximo de itens no documento final da conferência.

“Esse documento já prova que a COP no Brasil é um sucesso, pois demonstra que o desejo de implementação gera engajamento”, afirmou Corrêa do Lago. Uma da ambições da presidência brasileira é que a conferência de Belém inaugure uma nova fase das COPs, com foco na implementação.

Isso significa aproximar-se de todos os atores do “mundo real”: organizações da sociedade civil, universidades, governos subnacionais e também o setor privado. 

A SB COP se inspirou no B20, grupo que representa a voz das empresas no G20. Criada em janeiro deste ano, a iniciativa foi reconhecida pela ONU. A experiência do ano passado, quando o Brasil presidiu o clube das maiores economias do mundo, ajudou a formular a estratégia para a interação com a COP, diz Ricardo Mussa, ex-CEO da Raízen.

Menos é mais

O executivo está envolvido com o B20 há alguns anos e trouxe aprendizados para o trabalho da SB COP.

Ele conta que na primeira vez que participou do B20, três anos atrás, o documento final produzido pelo grupo tinha 68 recomendações. “Ninguém leu, fizemos tudo errado”, diz. No ano passado, a lista foi reduzida. “Isso ajudou na argumentação junto à presidência da COP”, disse.

O executivo também reconhece a existência de um certo “choque de culturas” entre o setor privado e a diplomacia do clima. As recomendações apresentadas têm um caráter pragmático, mas a adoção de qualquer uma delas pela COP depende de um delicado equilíbrio político – as decisões exigem consenso entre quase 200 países.

O documento é dividido em oito eixos temáticos, incluindo transição energética, bioeconomia e financiamento climático. A SB COP sugere algumas metas sugeridas, como alcançar 11.000 gigawatts de capacidade de energia renovável até 2030 (em 2024, a capacidade foi de pouco menos de 5 mil gigawatts, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável); promover melhorias constantes nos sistemas de avaliação de soluções baseadas na natureza; desbloquear recursos para redução de emissões em setores de difícil descarbonização.

Uma segunda entrega está prevista para 15 de outubro, durante a pré-COP, reunião preparatória que acontece em Brasília. A SB COP preparou uma lista com 600 exemplos de boas práticas sustentáveis de empresas do mundo todo. A ideia é que ela mostre experiências de descarbonização reais e que já têm aplicação prática. 

Para Mussa, mais importante do que criar um mecanismo oficial de interação do setor privado global com a ONU é garantir que ele tenha continuidade. O objetivo é manter a  iniciativa em funcionamento, passando o bastão para as empresas do país-sede da próxima conferência (ainda está definido se a COP31 acontecerá na Turquia ou na Austrália).

Presença ilustre

O lançamento das recomendações ocorreu na sede da Bloomberg, em Nova York. O próprio magnata Michael Bloomberg participou do evento, enfatizando que as empresas precisam mostrar sua força para gerar lucro por meio de iniciativas sustentáveis. 

“O governo atual em Washington possui uma visão errada sobre o tema, que não entende o momento do mundo. As empresas conscientes precisam ficar mais discretas agora, mas continuam trabalhando, gerando lucros. Acho que as empresas presentes aqui irão mostrar ao mundo como se faz”, disse.

A vice-presidente da Comissão Europeia para o Clima, Teresa Ribera, reforçou que o alinhamento entre empresas e governos é crucial para garantir o bem-estar climático e socioeconômico. “Quem investe em combustíveis fósseis não só prejudica o planeta como também irá perder dinheiro no longo prazo”, afirmou ela, citando a energia solar e eólica como exemplos de como a sustentabilidade pode impulsionar o PIB dos países.

Além do embaixador Corrêa do Lago, o evento contou com a participação de empresas como JBS, Suzano e Natura, que presidiram verticais do SB COP. O governador do Pará, Helder Barbalho, e o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, também estiveram entre os palestrantes.

* O jornalista viajou a convite da Hydro