As (poucas) mulheres que chegam ao topo das empresas sabem: os encontros de networking entre executivos ainda costumam ser dominados por assuntos do universo masculino e não raro acontecem em situações que dificultam o acesso das mulheres, como o happy hour marcado na hora da rotina noturna dos filhos ou numa partida de futebol.
Após um evento de networking “cansativo e desastroso para mulheres”, em 2019, Carolyn Childers e Lindsay Kaplan decidiram criar a Chief, uma rede de networking e coaching onde quem manda são elas.
Começou como um espaço para no máximo cem mulheres em Nova York, mas a proposta rapidamente atraiu uma horda de executivas e passou a acumular listas de espera com milhares de nomes.
Três anos depois, a Chief se converteu numa poderosa rede social voltada exclusivamente para executivas C-level e acaba de levantar US$ 100 milhões numa rodada de investimentos que avaliou a empresa em US$ 1,1 bilhão. A informação foi dada em primeira mão pelo Dealbook.
O maior investidor é o CapitalG, fundo de private equity da Alphabet, dona do Google. Aportes também vieram da General Catalyst, GGV Capital e Inspired Capital.
O valor atribuído à Chief coloca Childers, uma ex-executiva de uma startup de trabalhos domésticos, e Kaplan, ex-vice-presidente de comunicações de uma empresa de colchões, num espaço ainda pouco frequentado por mulheres. A lista das 25 Next Billion Startups da Forbes nunca tem mais que três unicórnios liderados por mulheres por ano.
A Chief foge ao padrão das chamadas femtechs, geralmente relacionadas à saúde da mulher. Segundo o site da rede social, o objetivo da Chief é “conectar mulheres executivas e mantê-las no topo do organograma”.
E o negócio se diferencia dos concorrentes da mesma área por ser essencialmente focado na formação de uma comunidade online e offline. “Nós não somos uma empresa de eventos [como a G100], nem nos vemos como um espaço de coworking [como a The Wing]. Somos ‘comunidade first’”, disse Childers à Forbes.
As usuárias do site desembolsam anualmente entre US$ 5.800 a US$ 7.900 para desfrutar de um network poderoso, com sessões de coach executivo e palestras de líderes famosas como a CEO do Starbucks, Mellody Hobson, e a ex-PepsiCo Indra Nooyi. Saindo do ambiente virtual, as mulheres ainda podem se encontrar para bebericar coquetéis em clubes exclusivos em Nova York, Los Angeles, Chicago e São Francisco.
Atualmente a comunidade já reúne 12 mil executivas americanas e outras 60 mil estão na lista de espera. Parte do investimento será dedicado a criar infraestrutura para receber quem está esperando na porta do clube.
A empresa quer colocar todas as mulheres na lista para dentro, mas está de olho num público muito maior: as cerca de 5 milhões de executivas e vice-presidentes de companhias dos Estados Unidos.
Apenas seniores
A rede social abraça um grupo pequeno, de crescimento lento, mas consistente, que vem ocorrendo há quatro anos. Segundo a Fortune, em março de 2022, mulheres eram CEOs de 74 das 500 maiores companhias de capital aberto dos Estados Unidos. Um recorde, embora represente apenas 15% do total.
É um número crescente de executivas sedentas por ampliar sua rede de negócios e fortalecer suas posições.
Não à toa, as próprias frequentadoras do Chief fomentaram o crescimento do negócio, com um capital semente de US$ 3 milhões em janeiro de 2019 e uma série A de US$ 22 milhões em junho do mesmo ano.
O grupo só aceita mulheres em posição C-level ou vice-presidentes em ascensão. Além disso, as executivas devem ter mais de 15 anos de experiência e demonstrar “compromisso em gerar impacto e apoiar outras mulheres para mudar a face das lideranças empresariais”.
A rede reúne mulheres que, em média, estão nos seus 45 anos e que trabalham em setores muito distintos. Estão lá, executivas da Netflix, Google, Pfizer, The New York Times, Toyota e Nike.
Além de CEOs, COOs e CFOs, a rede social inclui posições chamadas de ‘C-suite emergente’, o que inclui, por exemplo, Chief Wellness Officer ou Chief Privacy Officer, posições que surgiram na pandemia e com uma tendência de serem ocupadas por mulheres.
A Chief ainda não dá lucro e pretende expandir para as demais capitais nos Estados Unidos para sair do vermelho. Segundo Kaplan, é fundamental aumentar a capacidade de atender as mulheres porque 99% da receita vem da anuidade do clube — e só 1% vem dos coquetéis.