A Engie acaba de anunciar a venda da usina termelétrica de Pampa Sul, concluindo o processo de desinvestimento em ativos de carvão no Brasil anunciado em 2016, quando a companhia se comprometeu globalmente a ter 100% de energia renovável.
A usina foi comprada pelas gestoras Starboard e Perfin, que terão 50% cada uma e vão pagar R$ 450 milhões pelo ativo.
Os novos acionistas estão se comprometendo a encerrar as atividades da usina até 2040 – dez anos antes do prazo da concessão e três anos e meio antes do fim de um contrato de venda de energia no mercado regulado firmado em 2014.
“Isso para nós é uma tese de transição energética feita de forma sustentável”, afirma a diretora de operações da Perfin, Carolina Rocha. “Tem um player como a Engie que precisa vender o ativo e entra um player financeiro, dando saída e investindo para reduzir emissões, antecipando o fechamento dessas térmicas.”
Além da antecipação do fim da outorga, os acionistas estão se comprometendo a investir R$ 150 milhões para melhorar a eficiência da termelétrica e a investir a verba de 1% da receita que, por regulação da Aneel, precisa ir para pesquisa e desenvolvimento, em projetos de captura de carbono.
Os compromissos foram assumidos no regulamento do Perfin Space X, veículo constituído pela gestora especializada em infraestrutura para fazer a aquisição.
Localizada em Candiota, no Rio Grande do Sul, Pampa Sul foi o último grande ativo de geração a carvão a entrar em operação no país, em 2019.
Os novos acionistas vão assumir uma dívida de R$ 1,8 bilhão associada ao projeto, formado pelo financiamento do BNDES e uma debênture de R$ 582 milhões captada em outubro de 2020, com vencimento em 2035.
Na época, a debênture provocou polêmica ao viabilizar financiamento para uma alternativa suja de energia, num momento em que a maior parte dos bancos se recusa a dar financiamento para o carvão.
O BTG, que coordenou a emissão da debênture na época, foi também quem garantiu a carta fiança que dá a garantia para que os novos acionistas assumam as dívidas.
Quando a transação for concluída, deve ser formado um comitê ESG com representantes dos acionistas e do banco fiador.
No mercado, a avaliação é que os novos acionistas pagaram barato pelo ativo — e o preço comporta com folga tanto a redução do prazo dos contratos quanto os investimentos para melhoria da eficiência.
“Foi uma pechincha, porque a Engie realmente queria se desfazer do ativo”, afirma um gestor que acompanha o setor.
Pampa Sul é uma usina relativamente pequena para a Engie, representando 4% da sua capacidade total de geração no país.
“A venda é muito positiva para os planos da Engie de direcionar esforços e investimentos aos empreendimentos de energia renovável e infraestrutura de transmissão”, disse em nota o CEO da Engie, Eduardo Sattamini.
A multinacional francesa tem o compromisso global de se desfazer de ativos de carvão até 2027. No Brasil, esse prazo se encerrava em 2025.
Há um ano, a companhia já tinha vendido o Complexo de Jorge Lacerda, em Santa Catarina, também movido a carvão para a Fram Capital, por R$ 325 milhões. A gestora recentemente anunciou um plano para converter a térmica para gás natural.