FINANÇAS

Plataforma mostra como cada mercado adota novas regras de reporte de sustentabilidade

Segundo a IFRS Foundation, que criou as normas ISSB, investidores poderão usar informações para definir em quais países alocar recursos

Plataforma mostra como cada mercado adota novas regras de reporte de sustentabilidade

Investidores que priorizam a alocação de capital em ativos com critérios de sustentabilidade têm uma nova ferramenta para a tomada de decisão.

A organização de normas contábeis IFRS Foundation lançou uma plataforma que permite comparar a política dos países que decidiram exigir novos reportes de sustentabilidade às companhias abertas. 

Um de seus objetivos é disponibilizar informações para investidores e outros interessados sobre como cada uma das jurisdições adota o novo padrão global elaborado pelo ISSB (International Sustainability Standards Board) para a divulgação de dados de sustentabilidade.

Conhecidas como S1 e S2, as normas criam uma padronização para que riscos e oportunidades relacionadas às mudanças climáticas sejam reportados – e, assim, precificados pelos investidores.

Para Sue Lloyd, vice-presidente da ISSB, a plataforma pode embasar a alocação de capital pelo mundo mesmo antes da adoção integral pelas empresas em si, prevista para os próximos anos. “Ao fornecer esses perfis, queremos esclarecer e alertar, principalmente os investidores que dependerão da comparação das informações entre as jurisdições, sobre a semelhança e as diferenças de abordagem, e para descrever até que ponto estamos alcançando a comparabilidade global”, afirma.

Brasil, Canadá e Japão, por exemplo, têm uma adoção integral das normas ISSB criadas pela organização, mas há casos em que os reguladores do mercado decidiram fazer adoções parciais, como em Cingapura.

Das 36 jurisdições comprometidas com as novas regras, 33 estarão na plataforma. A União Europeia está entre as que, por enquanto, ficaram de fora porque a política ambiental do bloco está em revisão. 

“Temos [na plataforma] todas as peças do quebra-cabeça para descrever o que está acontecendo, o que está sendo exigido em cada lugar, quem precisa fornecer as informações e o cronograma dali”, afirma.

Clima no preço

No Brasil, a Vale foi a primeira empresa a divulgar o reporte sob as normas ISSB, de forma voluntária. A empresa prevê que as emissões de carbono, por exemplo, poderiam gerar custos de R$ 19 bilhões.

As normas foram endossadas pela Iosco, organização internacional que reúne os reguladores dos mercados de valores mobiliários, incluindo a brasileira CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A Iosco pediu para que seus 130 integrantes – que regulam 95% dos mercados de capitais – considerassem a adoção das regras.

Espera-se que a divulgação de dados financeiros como os da  Vale passem a influenciar novas teses de alocação. Com informações padronizadas e comparáveis, analistas de bancos e de gestoras de fundos vão poder fazer ajustes nos seus modelos de avaliação das empresas. Para a colunista do Reset, Ana Luci Grizzi, haverá um “rearranjo de placas tectônicas”.

No Brasil, a divulgação dessas informações será obrigatória a partir do exercício de 2026, com as primeiras divulgações acontecendo em 2027. Antes disso, as empresas podem divulgar de forma voluntária. Assim como Vale, Renner também se comprometeu a divulgar o primeiro relatório este ano.

Segundo a IFRS Foundation, a comparação permitirá também que os reguladores pelo mundo conheçam os processos uns dos outros, favorecendo o avanço da agenda nos países. 

No fim de 2024, a Iosco lançou uma iniciativa para dar suporte aos reguladores que estão com dificuldades para criar suas políticas. No Brasil, onde esse aspecto público já foi “vencido”, a CVM agora está ouvindo as empresas sobre a dificuldade.