Nos três primeiros meses do ano, as perdas provocadas por desastres naturais devem chegar a US$ 63 bilhões ao redor do mundo, bem acima da mediana de US$ 38 bilhões de todo o século 21 para o mesmo período — e os prejuízos também são sentidos no Brasil.
Essas são as primeiras estimativas do novo relatório sobre catástrofes globais produzido pela Aon, uma das maiores gestoras de risco do mundo, com base em dados disponíveis até meados de abril.
O terremoto que atingiu a Turquia e a Síria em fevereiro deixou 50 mil mortos e foi responsável pelas maiores perdas financeiras: US$ 39,1 bilhões, segundo cálculos baseados nos danos materiais diretos reportados pelo Banco Mundial ao fim daquele mês.
Mas são os efeitos da mudança climática o motivo de maior preocupação no resto do mundo, inclusive no Brasil. A seca que ainda atinge o sul do país e os vizinhos Uruguai e Argentina ficou em segundo lugar no ranking da Aon.
A estiagem foi o fenômeno mais custoso da América do Sul no primeiro trimestre e provocou perdas de US$ 5,9 bilhões às três economias locais, com principais impactos no setor agrícola.
Pelo menos outras 12 catástrofes naturais atingiram os sul-americanos nos primeiros três meses do ano. Delas, seis foram enchentes que atingiram o Brasil – ocorridas ao fim de janeiro, início de fevereiro e meados de março – e provocaram perdas de US$ 1,1 bilhão, segundo cálculo da Aon.
Para efeitos de comparação, nos anos de 2020, 2021 e 2022 catástrofes naturais custaram à economia brasileira US$ 3,8 bilhões, US$ 6,1 bilhões e US$, 5,5 bilhões, respectivamente.
Inundações fluviais são o tipo de catástrofe mais provável no país, com base em dados históricos, incluindo os eventos de 2022. “No primeiro trimestre de 2023, essa probabilidade se confirmou, considerando principalmente as chuvas extremas no início do ano”, diz o CEO de resseguros da Aon Brasil, Antonio Jorge Rodrigues.
Onde o risco faz preço
Regido pela lógica do retrovisor, o mercado de seguradoras e resseguradoras se baseia em dados passados para projetar cenários e riscos futuros em um momento de mudanças climáticas. Esse impacto já vem sendo sentido pelo setor, ainda que de forma limitada.
“As perdas advindas da seca, por exemplo, tornaram-se um sinistro de grandes proporções, que tem movimentado todo o mercado de seguros e resseguros agrícolas”, diz Rodrigues, que afirma que o clima tem se mostrado um fator cada vez mais relevante para as avaliações de risco.
“Observamos uma tendência de aumento da frequência e severidade dos eventos climáticos, o que, consequentemente, provoca maior sinistralidade, além do aumento na procura por coberturas mais personalizadas, que levem em consideração índices climáticos específicos”.
Na indústria, isso é conhecido como seguro paramétrico. A ideia, que atrai especialmente o setor agrícola, é que o acionamento do seguro deixe de ser atrelado a danos materiais e passe a ser vinculado a determinados gatilhos, como temperaturas acima de certo nível ou falta de chuva por determinado período.
Do total de prejuízos por desastres naturais no início do ano, apenas US$ 15 bilhões (24%) estavam segurados, segundo a Aon. A maioria das perdas seguradas se deu nos Estados Unidos (58%) e Europa, Oriente Médio e África (25%). Não há dados específicos para o Brasil.
Na estiagem da região da Bacia da Prata, onde a perda econômica esteve em US$ 5,9 bilhões, apenas US$ 0,4 bilhão tinha cobertura.
*Foto: Pedro Devani/Secom