Mudança do clima pode gerar pânico nos mercados, diz monitor de riscos

Desastres causados ou exacerbados pela emergência climática podem se espalhar pelo sistema financeiro, segundo o Financial Stability Board

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Desastres naturais causados ou agravados pela mudança climática podem desencadear crises que ameaçam a capacidade de instituições financeiras de gerenciar riscos e continuar operando em certas regiões e segmentos de mercado.

O alerta faz parte de um documento publicado nesta quinta-feira (16) pelo Financial Stability Board (FSB), entidade que monitora a saúde e faz recomendações sobre as finanças globais.

A divulgação do texto, que faz parte de um esforço em andamento para entender melhor a relação entre a emergência climática e o setor financeiro, coincide com os incêndios que atingem Los Angeles.

O relatório contém um framework e ferramentas analíticas para avaliar o acúmulo de vulnerabilidades relacionadas ao clima. Além dos riscos trazidos por eventos extremos, a entidade também tenta entender os chamados riscos de transição – como mudanças regulatórias ou no comportamento do consumidor, por exemplo.

O FSB, que reúne bancos centrais, autoridades financeiras nacionais e reguladores, afirma que o documento é “vivo”, ou seja, refinamentos e ajustes serão necessários conforme aumenta o entendimento da interação entre os riscos do clima e a estabilidade do sistema financeiro.

Além das 24 mortes confirmadas até aqui e das dezenas de milhares de desabrigados, a tragédia em Los Angeles, a segunda maior cidade americana, pode ser a mais cara da história do país. Estimativas preliminares colocam as perdas em dezenas de bilhões de dólares.

O relatório do FSB menciona como exemplo justamente um cenário hipotético em que a fuga de seguradoras se traduz em um choque para o mercado imobiliário. A redução na oferta de apólices em várias regiões da Califórnia é realidade há alguns anos, e a crise foi colocada em relevo pelos incêndios dos últimos dias.

O exercício teórico do FSB leva em conta uma situação descrita como “severa, mas plausível” em que a ausência de seguros transfere o risco para os cidadãos ou governos.

Diversos “canais de transmissão e mecanismos de amplificação” que contribuem para choques financeiros podem atuar de formas ainda insondáveis no agravamento de crises precipitadas pelo clima, segundo o relatório.

Entre os causadores de novas incertezas estão os chamados “tipping points” (pontos de não-retorno) e a dificuldade de estimar os riscos futuros com dados históricos que não levam em conta a nova instabilidade do clima.

“Os bancos podem reduzir a oferta de crédito, incluindo para a recuperação de famílias e empresas vulneráveis”, afirma o texto. “Também pode haver uma reprecificação abrupta e ampla dos riscos físicos representados pelo clima, conforme a expectativa de mais perdas futuras é incorporada aos preços atuais.”

O FSB está trabalhando em métricas e parâmetros para que essa nova dimensão de risco, hoje “opaca”, possa ser gerenciada.

A crise do setor de seguros na Califórnia, onde cerca de 10% das casas não são mais atendidas pelas seguradoras tradicionais, é considerada um sinal importante do que pode estar por vir.

Muitas famílias só têm a opção de contratar um seguro público de “último recurso”, mais caro e com mais restrições que as opções convencionais.

Outras estão perdendo apólices por falta de pagamento. Um levantamento recente mostrou que em mais de 150 códigos postais dos Estados Unidos, pelo menos 10 dos seguros residenciais foram cancelados.

As regiões com maior número de cancelamentos incluíram áreas na costa do Atlântico, expostas a furacões, e também na Califórnia.