Um cheque de R$ 30 milhões para a siderurgia “aterro zero”

GK Ventures, Daniel Goldberg e Marco Kheirallah compram 36,7% de holding que extrai valor de rejeitos de aço e de pedras ornamentais

Um cheque de R$ 30 milhões para a siderurgia “aterro zero”
A A
A A

A GK Ventures, gestora fundada por Eduardo Mufarej, e os investidores Daniel Goldberg, ex-Farallon, e Marco Kheirallah, ex-BTG Pactual, se uniram para apostar em soluções que geram negócios a partir de resíduos de siderurgia e mineração.

O trio está fazendo um aporte de R$ 30 milhões para ficar com 36,7% da holding Negócios Verdes, criada no ano passado e que controla duas empresas, a Rolth do Brasil e a Sulminas.

Enquanto a Rolth consegue dar uma destinação integral e rentável à escória das siderúrgicas, a Sulminas reaproveita os resíduos da produção de pedras ornamentais em São Tomé das Letras (MG), diz Thomaz Pacheco, sócio da GK Ventures e responsável pelos investimentos dentro do tema de mudanças climáticas.

Segundo Pacheco, as soluções oferecidas pela Negócios Verdes são “aterro zero”, sem uso de água, com baixo consumo de energia e, principalmente, geram receita enquanto resolvem um problema ambiental da mineração e da siderurgia.

A escória de aciaria da indústria siderúrgica é um pó granulado irregular escuro que pode conter, entre outras substâncias, resíduos de metais, óxido de ferro e óxido de cálcio. 

Separadamente, todas as substâncias têm valor na indústria, mas, para conseguir separá-las, o processo é difícil. Submetida ao calor, a escória se expande sem controle e gera produtos de baixa qualidade que não valem o preço do tratamento. Por isso, o destino final costuma ser o acúmulo nos pátios das siderúrgicas.

A Rolth do Brasil conseguiu domar o resíduo e gerar três produtos: partes metálicas, que voltam para a siderurgia; agregados siderúrgicos que viram insumo para blocos de concreto; e óxidos de magnésio e de cálcio consumidos na indústria de fertilizantes.

Escala industrial

O processo que está protegido por registro de patente vem sendo desenvolvido e testado desde 2012 e já custou à empresa entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões, diz Marcelo Resende, CEO da Rolth do Brasil e acionista da Negócios Verdes.

Danilo Chausson, diretor de sustentabilidade e também acionista da holding, conta que a empresa patrocinou mestrados e doutorados na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) para consolidar o processo e chegar aos produtos finais.

O dinheiro investido também foi usado para a operação de uma planta semi-industrial que processou mais de 40 mil toneladas de escória de aciaria nos últimos oito anos.

Essa planta chegou a tratar cinco mil toneladas por mês. Agora, conta Chausson, a operação será escalada, num primeiro momento, a 11 mil toneladas mensais dentro da planta da ArcelorMittal em Resende (RJ).

Dois terços do aporte feito pelo trio de investidores irão justamente para a implantação da primeira fábrica da Rolth do Brasil dentro da ArcelorMittal.

A holding assinou um acordo com a multinacional que prevê a extensão do contrato para outras plantas da siderúrgica dependendo do sucesso em Resende — e, eventualmente, oferecendo uma porta de saída do investimento no futuro.

Segundo estudos da GK e da Rolth, os investimentos devem se pagar em 2024, quando esperam estar faturando perto dos R$ 50 milhões anuais.

“O potencial de escala é enorme. Com a fábrica plenamente instalada em Resende, poderemos processar 20 mil toneladas de escória por mês. A indústria calcula que o estoque deste produto hoje no Brasil está em 50 milhões de toneladas”, diz Pacheco.

Solução para São Tomé

O terço restante do investimento será utilizado para ajudar a resolver o grave problema ambiental gerado pela mineração e beneficiamento de pedras ornamentais em São Tomé das Letras.

Embora conhecida pelo turismo esotérico e pelas belezas naturais, no fim do mês o que realmente paga as contas em São Tomé é a mineração e o beneficiamento de quartzito, que no mercado de construção civil é conhecido como pedra de São Tomé.

No entanto, o produto gera um descarte de até 85% de matéria prima que hoje degrada os biomas do Cerrado e da Mata Atlântica na cidade e adoece os próprios moradores, que relatam casos de silicose, doença causada pela inalação de poeira contendo sílica.

A poluição é tanta que é possível visualizar no Google Maps as fartas manchas brancas ao redor do núcleo urbano da cidade.

Resíduos do beneficiamento da pedra de São Tomé na imagem de satélite

O processo industrial na Sulminas transforma esse passivo ambiental sem muito segredo. Os resíduos do beneficiamento de quartzito são triturados e convertidos em areia de sílica. 

Até o estabelecimento da holding, a Sulminas, uma empresa familiar operacional há 20 anos, produzia a areia em pequena escala na cidade mineira de Três Corações e a vendia para a construção civil, com pouco valor agregado.

Com o aporte, o objetivo é triplicar a capacidade de processamento dos resíduos de quartzito da empresa e transformar a Sulminas num fornecedor relevante de areia de sílica para a indústria de embalagem de vidro. “A areia de sílica é um insumo chave no forno da caldeira dessa indústria, ampliando a vida útil do equipamento”, diz Pacheco.

No Brasil, o fornecimento desse produto é dominado pela Mineração Jundu. “Pelas características do mercado, entendemos que existe um espaço para conquistarmos no market share ao longo do tempo”, afirma Pacheco.

Além disso, Danilo Chausson, diretor de sustentabilidade da holding, diz que a empresa está trabalhando com pequenas cooperativas na cidade para aliar impacto social ao ambiental, levando renda aos pequenos negócios e evitando a exploração ilegal de areia.

Costura

A conversa entre os investidores e as empresas da holding nasceu em março do ano passado, quando Daniel Goldberg começou a costurar os contatos entre GK Ventures, Chausson e Resende, da Rolth do Brasil, e o Grupo Atalla, que controlava a Sulminas.

A ideia é que a GK tenha uma participação ativa na administração da companhia, enquanto Goldberg e Kheirallah podem assumir assentos no conselho.

O CEO da holding será Jorge Atalla Neto, do Grupo Atalla.  O investimento da GK na Negócios Verdes faz parte do portfólio Good Karma Fund, que levantou R$ 400 milhões ao longo de 2021. O portfólio é focado em apostar em negócios que tragam soluções inovadoras em saúde, educação e mudanças climáticas.