Fundo de biodiversidade recebe aporte de BNDES e Soros

Com foco na Amazônia, banco público fará aporte de até R$ 75 milhões; fundo de George Soros investiu outros R$ 75 milhões

vista aérea de trecho de floresta amazônica cortada por rio e céu azul com nuvens
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Com o propósito de investir em pequenas e médias empresas que conseguem explorar a biodiversidade da região amazônica e, ao mesmo tempo, gerar benefícios para a comunidade local, o Fundo de Biodiversidade da Amazônia (ABF, na sigla em inglês) atraiu investidores de peso.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um aporte de até R$ 75 milhões no fundo, limitados a, no máximo, 25% do capital total comprometido.

A entrada do banco público acontece pouco depois de o Soros Development Fund, um braço da Open Society Foundations, rede de filantropia do bilionário George Soros, ter anunciado em novembro um aporte de outros R$ 75 milhões (US$ 15 milhões) no fundo, em seu primeiro investimento no Brasil.

Com as entradas, o ABF agora soma um capital comprometido de R$ 235 milhões. O capital comprometido é requerido pelos gestores conforme as oportunidades de investimento aparecem.

Gerido pela consultoria Impact Earth e administrado pela Vox Capital, o veículo nasceu estruturado sob o modelo de blended finance, que combina diferentes tipos de capital, reunindo recursos privados, públicos e filantrópicos.

A ideia é que esse tipo de estrutura possa financiar projetos de impacto e diminuir o risco das operações para o capital privado tanto em países desenvolvidos – onde o modelo já é mais conhecido – quanto em países em desenvolvimento.

“Com esse tipo de instrumento, a ideia é que a gente não faça o investimento sozinho: damos o start, mas vamos tentar sempre combinar recursos”, explica a diretora de mercado de capitais e finanças sustentáveis do BNDES, Natália Dias, ao Reset.

O ABF foi selecionado em uma chamada pública do BNDES direcionada a investir em negócios de impacto, dentro de uma agenda que vem sendo adotada nos últimos anos pelo banco público.

“Esse fundo é inovador pelo alvo, que é financiar pequenas e médias empresas na região amazônica, o que não é comum, e também porque traz a estrutura de blended finance”, diz Dias. 

O ABF é um fundo de investimento em participações (FIP) com bastante flexibilidade no tipo de instrumento que utiliza, transitando de equity a dívidas lastreadas em receitas futuras com venda de produtos ou créditos de carbono.

Com a entrada dos recursos do BNDES e do fundo de Soros, o fundo pretende triplicar o seu portfólio, passando de cinco para quinze investidas – a intenção é fazer dez novos investimentos nos próximos dois anos, diz o gestor Nick Oakes. O fundo pretende divulgar novas investidas entre o fim de dezembro e começo de janeiro.

Os cheques devem variar entre R$ 4 milhões a R$ 20 milhões por cada ativo. Hoje, o ticket varia de R$ 2,5 milhões a R$ 10 milhões, segundo Oakes. 

“Os atuais investimentos têm um tamanho um pouco menor porque estávamos em fase de captação. Agora que estamos encerrando esse período, conseguiremos fazer mais investimentos e com um volume maior”, explica o gestor.

Assim como nos primeiros investimentos, o fundo deve continuar mirando empresas que já estão estabelecidas e atuam na região amazônica, uma forma de diminuir risco.

Os novos investimentos deverão contemplar quatro áreas: agricultura sustentável, cadeias de valor dos pequenos produtores locais, conservação e reflorestamento das comunidades amazônicas, e inovação no uso da biodiversidade da região.

Hoje, a carteira tem cinco investidas: Amazonia Agroflorestal, que fabrica o Café Apuí, pioneira na região em cultivo de café em modelo agroflorestal; Manioca, marca de alimentos que utiliza ingredientes amazônicos; Horta da Terra, agroindústria que transforma ervas e plantas amazônicas em pó desidratado; Inocas, que regenera pastagens degradadas com o plantio da palmeira macaúba; e o investimento mais recente, o ReforesTerra, um projeto que trabalha com o reflorestamento de áreas degradadas na Bacia do Rio Jamari, em Rondônia – nesse caso, o ABF não entra com capital de risco como nos demais casos, mas financia o projeto.

Criado em 2019, o ABF começou a operar no início da pandemia, em 2020, e só começou a fazer seus primeiros investimentos em 2021, que ocorreram de forma paulatina até 2022. 

“Neste ano, focamos em fechar a captação”, diz Oakes.

O ABF quer também amplificar o impacto que seus investimentos geram na comunidade local. No ano passado, o fundo informava, em seu primeiro relatório de impacto, que havia alcançado 274 pequenos produtores e que tinha melhorado as condições biofísicas de 132 hectares na região – número que sobe para 815 hectares em áreas de impacto indireto.

“Ainda temos bastante gap, mas isso é normal porque o impacto só será realizado no longo prazo”, avalia Oakes.

Seja pelo impacto prometido, seja pela constituição inovadora do fundo, Oakes acredita que o ABF pode estimular mais investimentos do gênero na região. “Os novos investidores – BNDES e Soros – estão olhando para o ABF como um fundo que pode mostrar para o mercado como replicar esse tipo de investimento na Amazônia.”

Além do BNDES e do fundo de Soros, o fundo tem como investidores o Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT); e os fundos ASN Impact Investors, veículo do banco holandês ASN com foco em impacto; e L’Oreal Fund for Nature, da indústria de cosméticos L’Oreal.

Para diminuir o risco da operação, há uma garantia de US$ 100 milhões do Development Finance Corporate (DFC) – um braço do USAID, órgão do governo americano de fomento ao desenvolvimento –, para até 50% de perdas de crédito do fundo.

(Colaborou Sérgio Teixeira Jr., de Dubai)