No primeiro dia do Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, quatro painéis debateram de uma perspectiva mais ampla temas relacionados desafio urgente de acelerar o fluxo de recursos para os países em desenvolvimento.
Da necessidade de mecanismos financeiros inovadores ao papel que o Brasil pode desempenhar à frente do G20, este ano, e na presidência da COP30, em 2025, o cardápio de abordagens foi variado.
Participaram das sessões inaugurais o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, o líder da coalizão financeira global Mark Carney, o presidente da COP26, o britânico Alok Sharma, e a ex-ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, entre outros.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, era um dos painelistas aguardados, mas não compareceu porque está com Covid. Ele foi representado pelo secretário executivo adjunto da pasta e um dos mentores do Plano de Transformação Ecológica do governo federal, Rafael Dubeux.
Reunimos em tópicos alguns dos principais temas e intervenções do primeiro dia. O evento, que acontece em São Paulo, continua hoje, com 15 debates sobre temas específicos relacionados às finanças do clima.
Inovação financeira
. Ilan Goldfajn, do BID, citou o programa de proteção cambial também anunciado nesta segunda-feira como um exemplo de contribuição dos bancos multilaterais de desenvolvimento para a agenda do clima.
“Estamos trabalhando em uma carta de intenções com o Banco Mundial, um acordo histórico, e um dos três temas principais é pensar como lançar um bônus amazônico, [uma forma de] outros países financiarem a Amazônia.”
Ele também mencionou o tema das dívidas nacionais, um dos assuntos que dominam a agenda do G20. Goldfajn mencionou o “debt swap” realizado com o Equador no ano passado. O país firmou um acordo para trocar parte de sua dívida por recursos para a proteção das Ilhas Galápagos, a maior operação do tipo já realizada.
A natureza e a taxonomia verde
Mark Carney, do Gfanz, falou sobre a importância das taxonomias verdes, ou as classificações de sustentabilidade segundo as quais projetos se tornam aptos a receber certas fontes de recursos.
O Brasil está discutindo uma versão nacional de taxonomia verde.
“Elas precisam cobrir todas as soluções climáticas, inclusive aquelas baseadas na natureza. Muitas das que existem hoje não fazem isso, então o financiamento privado de muitas jurisdições não faz tudo o que seria possível para reduzir emissões.”
Mais natureza
Adam Wang-Levine, do Departamento do Tesouro americano e co-líder do grupo de trabalho do G20 que trata de finanças sustentáveis, afirmou que as soluções climáticas baseadas na natureza – atividades de restauro florestal são um exemplo – é um dos tópicos prioritários nas discussões das maiores economias do mundo.
“Consideramos essas soluções uma ferramenta incrivelmente importante. Estamos revisando casos de estudo, incluindo swaps de dívidas por [incentivos para cuidar de] natureza e clima. Queremos entender quais são as melhores práticas.”
Com os objetivos conectados de proteção da Amazônia e da biodiversidade, o Brasil é considerado um dos grandes potenciais beneficiários dessa economia baseada na natureza.
O Brasil do agro – e o agro do Brasil
O campo é um dos motores da economia brasileira, mas ainda há um desafio grande no país de promover a transformação e diversificação dos sistemas agrários hoje vigentes no país, quebrando a “monotonia dos sistemas alimentares”, disse Fernanda Machiaveli, secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.
“Não é possível pensar em transição ecológica sem pensar em transformação do sistema agrícola.” Isso passa pela inclusão de atores muitas vezes esquecidos, como comunidades tradicionais, povos indígenas, agricultores familiars que estão no Cerrado, na Caatinga.”
Construindo pontes
Em uma das intervenções mais aplaudidas do dia, a mexicana Sandra Guzmán, coordenadora do Climate Finance Group of Latin America and the Caribbean, afirmou que o Brasil pode desempenhar um papel essencial na construção de pontes entre países ricos e pobres.
Na presidência brasileira do G20, o país também pode ajudar a recuperar a confiança entre os integrantes do grupo. “Porque, acreditem, em nível internacional não confiamos uns nos outros.” Paul Polman, ex-CEO da Unilever e um dos expoentes do “capitalismo de stakeholder”, afirmou que o Brasil precisa aproveitar a oportunidade para servir de exemplo a outros países do Sul Global. “Aproveitem essa oportunidade e tornem-se líderes em todos os grandes projetos que precisamos fazer. Por favor, não a percam. Não entrem em jogos políticos ou [pensem apenas no] curto prazo. Sigam em frente.”