A Orizon deu início a um roadshow para uma emissão de R$ 395 milhões em debêntures verdes que vão custear a primeira usina termelétrica da América Latina a gerar eletricidade a partir de resíduos urbanos.
O empreendimento pertence à Barueri Energia Renovável, subsidiária da Orizon que tem como sócia a Sabesp, a companhia de saneamento de São Paulo. A planta vai marcar a entrada da empresa na frente de geração conhecida como waste-to-energy.
A captação completa o plano de investimento de R$ 550 milhões a R$ 600 milhões necessários para a usina de 2023 a 2026. Uma fatia de R$ 118,5 milhões deve vir na forma de capital aportado pelos acionistas até a liquidação das debêntures, segundo prospecto registrado na CVM.
No ano passado, a companhia também lançou a BioE, um negócio que captura o biogás gerado pela decomposição dos resíduos orgânicos e o transforma em biometano, combustível renovável que substitui o gás natural de origem fóssil.
Listada na bolsa, a Orizon começou seu negócio com a aquisição de aterros (foto acima). Hoje a companhia tem 16 unidades, em 11 Estados, que recebem o lixo de 40 milhões de brasileiros.
É a primeira emissão da subsidiária. O prazo de vencimento do título é de 18 anos e 9 meses, em 15 de março de 2043, e a oferta será destinada exclusivamente a investidores qualificados, que têm mais de R$ 1 milhão em investimentos. A definição de preço (taxa de juro) e alocação da oferta para os investidores ocorrerá no próximo dia 31. O teto da remuneração dos papéis é equivalente à taxa do título Tesouro IPCA+ (antiga NTN-B) com vencimento em 2035 mais um spread de 2,35%
O rating atribuído pela S&P Global foi de AA- para a operação.
Os títulos têm garantia firme dos bancos, ou seja, se o mercado não tomar o papel, os bancos tomarão. A operação é coordenada por BTG e XP e conta também com o Banco Modal para sua distribuição.
A construção da usina em Barueri começou em janeiro do ano passado e deve ser concluída até fevereiro de 2027. A expectativa é que a planta incinere até 870 toneladas de resíduos por dia, com uma capacidade de geração instalada de 20 MW. Parte dos equipamentos será fornecida pela WEG, segundo a Reuters.
Solução urbana
É pelo waste-to-energy que a Orizon vai começar a desenvolver seu trabalho para além dos aterros sanitários. Esse modelo é visto pela empresa como uma solução para centros urbanos onde o adensamento populacional é tão alto que não comporta mais um aterro sanitário com seus 2 mil hectares.
A participação de waste-to-energy no mercado brasileiro deve ser pequena por conta da grande área disponível no país, disse o CEO Milton Pilão em entrevista ao Reset, em março.
“Onde você tem área para aterro, acaba tendo ecoparques [como a Orizon chama seus empreendimentos] e não waste-to-energy, que é mais cara. Cada alternativa dessa tem um custo maior para o tratamento do resíduo, porque você coloca a tecnologia, o investimento, o custo operacional.”
Uma vez em funcionamento, a usina vai receber a coleta de lixo de Barueri e de outros municípios nos arredores. A empresa já fechou uma parceria público-privada com a prefeitura da cidade por 30 anos, garantindo um abastecimento constante de resíduos.
Na planta, os caminhões despejarão os resíduos em uma espécie de bunker em vez dos tradicionais aterros. O lixo será levado então para câmaras incineradoras. O calor gerado na combustão aquece uma caldeira, que produz o vapor que vai movimentar uma turbina geradora de eletricidade.
O fator verde
O carimbo de green bond foi dado pela ERM Nint. A operação se enquadrou nas áreas de energia renovável, prevenção e controle da poluição e gestão de resíduos nas metodologias do Green Bond Principles (GBP) e da Climate Bonds Initiative (CBI).
A emissão da Orizon teve o uso de recursos, a gestão e o relato avaliadas no nível mais alto de alinhamento com as melhores práticas.
Todo o valor captado será destinado para o investimento no projeto que contribui para a oferta de energia renovável e para a gestão de resíduos, avaliou a Nint.