A Alemanha vai lançar seu primeiro green bond — e deve abrir novo capítulo para o mercado

Emissão deve criar benchmark livre de risco para o segmento e, com estrutura inovadora, vai permitir avaliar se há prêmio para os títulos verdes

A Alemanha vai lançar seu primeiro green bond — e deve abrir novo capítulo para o mercado
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(Atualizado dia 3/set: A emissão saiu no último dia 2, com uma demanda robusta, de 33 bilhões de euros, mais de cinco vezes a oferta total, de 6 bilhões)

A Alemanha deve lançar seu primeiro green bond soberano nas próximas semanas, numa aguardada emissão que deve ser um marco para as finanças sustentáveis, estabelecendo um benchmark para novos títulos verdes.

O país não é o primeiro a emitir green bonds. A França já fez uma emissão no começo de 2017, um caminho que já foi seguido por países, como Holanda, Irlanda, Polônia e, na América Latina, o nosso vizinho Chile. 

Mas a dívida da maior e mais segura economia da Zona do Euro serve como referência para toda a região. E o governo alemão pretende lançar títulos verdes com diversos vencimentos, o que vai ajudar a estabelecer uma curva de juros para títulos verdes.

“Até agora, você não tinha um ativo verdadeiramente livre de risco no espaço de green bonds”, disse David Zahn, chefe de renda fixa da Franklin Templeton para a Europa, ao Financial Times. 

“A maior parte dos países nessa área lança um ou dois bonds, mas ninguém tem uma curva [de vencimentos]. Construir uma curva completa vai ajudar os emissores corporativos de green bonds ao estabelecer uma referência”.

Emissores supranacionais ‘triple A’ — a melhor escala de classificação de risco —, como Banco Mundial, European Investment Bank e o KfW, banco de desenvolvimento alemão, já montaram suas curvas de green bonds, com prazos e moedas distintas.

Mas a emissão soberana alemã traz mais peso à agenda.

De acordo com o FT, o governo está preparando uma emissão de 6 bilhões de euros com vencimento em 10 anos para esta semana.

Num movimento alardeado desde o fim do ano passado, a Alemanha já disse que pretende lançar cerca de 12 bilhões de euros em títulos verdes em 2020, com a segunda parte da emissão prevista mais para o fim do ano. 

“De agora em diante, o governo alemão vai emitir green bonds federais todo o ano. Dessa forma, estamos criando um momentum importante em direção a um mercado financeiro sustentável mais robusto”, disse o secretário de Estado do Ministério das Finanças, Jörg Kukies, no lançamento da estrutura para a emissão verde na semana passada.

‘Twin bonds’

Uma inovação crucial na emissão alemã é um esquema de ‘twin bonds’, ou ‘títulos gêmeos’: os títulos verdes serão pareados com títulos convencionais, de mesmo vencimento e cupom. 

Essa estrutura foi desenhada para aplacar os riscos de liquidez, já que os títulos verdes são menos líquidos e muito menos volumosos que os ‘bunds’ tradicionais.

“Nossa abordagem inovadora de ‘títulos gêmeos’ é desenhada para atrair novos investidores e emissores para o mercado de títulos verdes e, portanto, deve agir como catalisadoras, canalizando mais investimentos para uma economia mais verde”, disse Kukies.

Além disso, a estrutura deve ajudar a evidenciar se os green bonds têm efetivamente um prêmio verde. Estudos tem mostrado um ‘greenium’ em algumas emissões corporativas e supranacionais, especialmente em euros, mas ainda não há um consenso em relação ao assunto.

O governo alemão vai assegurar que o preço do ‘gêmeo’ verde seja sempre pelo menos aquele do bônus convencional, comprando os green bonds se eles caírem abaixo deste nível.  A operação gêmea convencional foi lançada em junho, no valor de 14 bilhões de euros e com cupom de 0%.

O ISS ESG é o provedor de segunda opinião da emissão, que é alinhada com o Green Bonds Principles, administrado pela International Capital Market Association (ICMA), uma espécie de Anbima global. 

Os recursos serão carimbados para projetos dentro da retomada verde que vem sendo conduzida pelo governo alemão, e vão financiar desde a construção de novas ferrovias e ciclofaixas a pesquisas para energias renováveis.