De universitários a conselheiros: cursos começam a preencher lacuna da formação em ESG

Com cada vez mais investidores e empresas interessados em adotar critérios ESG no Brasil, ficou clara a complexidade do tema e como ele deve se tornar ferramenta essencial para o mundo das finanças e dos negócios. 

Nesse contexto, começam a proliferar os cursos de curta duração que procuram preencher o vazio de formação na área de negócios e finanças sustentáveis, que miram desde estudantes universitários até conselheiros de administração.

Conforme cresce o mercado de green bonds e o tema se mostra cada vez mais transversal aos negócios, as áreas de sustentabilidade terão que se integrar ao restante da empresa — e cada vez mais será tema essencial para profissionais como os de relações com investidores. 

“Há uma junção de preocupações em que as empresas estão de olho, enquanto a demanda dos investidores por informações cresceu em meio a todo esse movimento”, observa Annelise Vendramini, professora de finanças sustentáveis na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Abaixo o Reset separou alguns programas de capacitação em ESG disponíveis:

Da liga de mercado financeiro à liga ESG

Parte do movimento tem vindo de baixo para cima, nos mesmos moldes das ligas do mercado financeiro formadas por alunos de faculdades de administração, economia e engenharia, casos da Poli Finance, Infinance, do Insper, e GV Finance.

A ideia dessas ligas, estruturadas pelos universitários, é promover eventos, estudos e contatos com o mercado para entender quais são os pontos cruciais da formação de um profissional da área financeira e direcionar capacitações nessa direção. 

Seguindo o modelo, um grupo de estudantes da FEA-USP criou o FEA ESG, núcleo de alunos e ex-alunos para promover capacitação dos universitários sobre pautas ESG e fomentar a conexão da escola com o mercado e pesquisadores relacionados ao tema. 

A motivação, conta a idealizadora Elis Cotosky, na reta final do curso de administração da USP, é que ainda são poucas as discussões sobre o tema de sustentabilidade ambiental nas aulas da FEA. Por outro lado, ela vê cada vez mais colegas interessados por temas ESG nas diferentes áreas da administração, economia, contabilidade e ciências atuariais. E a pandemia, completa, trouxe urgência para a discussão desses assuntos.

Para testar o nível da demanda e responder aos interesses já identificados, o núcleo criado há cerca de três meses promove palestras online sobre temas relacionados à sustentabilidade em operações, administração de empresas e investimento.

No médio prazo, o objetivo é institucionalizar a inserção da temática na grade curricular da FEA. Para isso os alunos contam com o apoio do professor Eduardo Flores, mais próximo à pauta ESG na academia e no mercado. 

Nesta semana, o núcleo promove seu primeiro mini curso, batizado de ‘ESG e o impacto nos investimentos’. Destinado aos alunos da própria faculdade, será uma introdução ao mundo das finanças sustentáveis. Isso inclui contextualização e alguns conceitos e ferramentas que norteiam a lógica desses investimentos.

“Boa parte dos alunos terá no curso o primeiro contato direto com o tema, e por isso a abordagem vai ser mais superficial”, conta Gabriela Souza, estudante de contabilidade e co-fundadora da FEA ESG.

O conteúdo foi dividido em duas partes.

Na primeira, de contextualização, serão apresentados os conceitos de desenvolvimento sustentável, as metas e acordos globais para redução das emissões de gases poluentes e o que significa cada letra do ESG.  Para o módulo seguinte ficaram as informações mais técnicas, de ferramentas e modelos de análise financeira alinhadas aos critérios ESG.

O mini curso da FEA tem duração total de três horas, em duas aulas, começando amanhã. Ele será ministrado pelos próprios alunos e membros da FEA ESG.

As inscrições estão abertas até amanhã, mas novos cursos sobre o tema estão no radar. 

Para investidores e RI: Bootcamp ESG da FGV

A FGV vai promover o Bootcamp ESG para um público um pouco mais sênior: profissionais na área de relação com investidores, analistas das assets e os próprios investidores atentos aos critérios ESG.

“O conteúdo não é avançado, e é um guia para quem já sabe uma coisa ou outra, mas precisa entender como estruturar e integrar todas essas informações na prática”, diz Vendramini. 

A proposta é dar as ferramentas para que os profissionais construam sua própria análise financeira dos ativos e empresas, identifiquem as informações relevantes de cada setor e montem uma estratégia de investimentos ESG para sua carteira.

Para isso, o curso vai tratar do conceito da materialidade e de como a sustentabilidade se relaciona com a área de gestão de risco das empresas.

 Para discutir as diferentes estratégias de análise ESG, como integração no valuation, screening negativo, best-in-class ou mesmo a combinação delas, assets brasileiras que já seguem critérios ESG estão sendo convidadas para falar sobre suas experiências.

Elas também vão explicar as diferenças entre as análises ESG nas diferentes classes de ativos. “A estratégia para um fundo passivo, de renda fixa ou de ação é diferente, e vamos discutir isso na prática”, acrescenta Vendramini.

A professora lembra que o tema dos negócios e finanças sustentáveis não nasceu ontem, e o país tem bons exemplos de gestores que trabalham com ESG. Agora que a demanda é para massificação do conhecimento nessa área, o intensivo vai propor diálogo com o mercado.

O curso online foi estruturado em dez encontros, com 16 horas no total, durante o mês de novembro, a um valor de R$ 1.500. As 25 vagas já foram preenchidas e uma nova turma deve ser aberta no início do ano que vem.

Curso: Bootcamp ESG – Encontros sobre estratégias ESG para decisões de investimento

Instituição: FGV

Data: de 9 a 30 de novembro

Quanto custa: R$ 1.500

Empreendedores e profissionais de áreas de projetos: Negócios Sustentáveis na Prática, da FIA

O curso Negócios Sustentáveis na Prática, da Fundação Instituto de Administração (FIA), tem como público empreendedores e profissionais que elaboram e adaptam projetos e negócios dentro das empresas.

“As companhias entenderam que ou se tornam sustentáveis ou perdem relevância. Mas seus funcionários mal sabem por onde começar um projeto sustentável”, analisa Monica Kruglianskas, coordenadora do programa. 

O curso vai dar ferramentas para que os alunos entendam o contexto da sustentabilidade de forma coordenada e saibam como diferentes áreas corporativas se integram. 

A economia circular tem um módulo só para ela. Cada vez mais discutida dentro das empresas, no curso será tratada de forma técnica, com diagramas para pensar o produto e diferentes formas de enxergar o resíduo como matéria prima.

Os indicadores de desempenho sustentável também aparecem aqui. “As pessoas não sabem o que é mais importante reportar a diferentes stakeholders. E vamos falar disso no módulo de indicadores e também no de reputação corporativa”, adianta Kruglianskas.

No Brasil as discussões ainda tratam da mitigação dos impactos negativos, mas à medida que ganham maturidade, os negócios sustentáveis vão muito além e criam impactos positivos. O curso da FIA vai explorar esses diferentes estágios e os processos de evolução entre um e outro.

Previsto para começar no próximo dia 20, o curso terá carga de 27 horas divididas em nove encontros online e presenciais.  O investimento é de R$ 1.890.

Curso: Negócios Sustentáveis na Prática

Instituição: FIA

Data: 20 de outubro a 17 de novembro

Quanto custa: R$ 1.890

Para o time de governança: IBGC

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa preparou o curso ‘ESG: como repensar e inovar os negócios em um mundo em transformação’, com a proposta de aprofundar as discussões sobre o impacto dos temas ambientais, sociais e econômicos na área de governança.

O objetivo é ajudar conselheiros, membros de comitê e executivos a traçarem os melhores caminhos rumo a essas boas práticas, e aprimorarem o que for necessário.

O conteúdo vai dar um norte e clarear as compreensões sobre qual é o papel dos agentes de governança no contexto ESG, as iniciativas da área que mais geram impacto no resultado e valor das empresas e os riscos e oportunidades na cadeia de valor e cultura organizacional que precisam ser considerados no atual contexto, em que seguir a lógica da sustentabilidade é a grande diretriz.

Serão 30 horas de aulas, divididas em 10 encontros. O curso, online, acontece entre novembro e dezembro, a um custo de R$ 4.850 para não associados no IBGC, e R$ 3950 para associados. 

Curso: ESG: como repensar e inovar os negócios em um mundo em transformação

Instituição: Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

Quando: 11 de novembro a 10 de dezembro

Quanto custa: R$ 4.850