Para que os bancos reduzam sua emissão de carbono, é preciso engajar seus clientes na estratégia. Isso porque o que realmente move o ponteiro na pegada de carbono do setor financeiro são as chamadas emissões financiadas, ou seja, quanto de carbono é jogado na atmosfera pelo ativo financiado, que pode ser uma fábrica ou frota de veículos, por exemplo.
O Banco ABC entendeu a premissa e, ao longo do último ano, estruturou sua governança ESG e investiu em tecnologia para permitir que seu inventário de carbono seja constantemente atualizado. A instituição se prepara ainda para oferecer serviços de medição e compensação de emissões aos clientes.
“Queremos ser um banco que impulsiona os clientes na transição [para economia verde]”, diz Fabiana Silva, head de ESG do ABC Brasil. “Ao mostrar que aquele financiamento ou empréstimo gera ‘x’ toneladas de carbono, o cliente começa a querer entender melhor. Queremos pegá-lo pela mão e impulsionar o desenvolvimento sustentável de seu negócio e a adoção das melhores práticas.”
Desde 2021, o banco, que é controlado pelo Arab Banking Corporation e voltado para o segmento corporativo, compensa suas emissões diretas e referentes à energia consumida – escopos 1 e 2.
Mas foi só no ano passado que as emissões financiadas – que integram o chamado escopo 3 – ganharam atenção no ABC, e foram calculadas pela primeira vez com o apoio da consultoria KPMG. Elas respondem por quase 90% da pegada de carbono total.
Ainda que em estágio inicial, a inclusão de parâmetros de carbono na estratégia não é trivial no setor financeiro local. Ações do tipo costumam ser vistas em instituições de grande porte, como Itaú e Bradesco, mas perdem tração entre as médias, dada a necessidade de investimentos e complexidade de operacionalização. Outra instituição que tem tratado o tema de forma estratégica é o BV.
Carbono na carteira
Um problema crônico quando se fala de pegada de carbono é que os dados são vistos pelo retrovisor. Para mudar isso, o Banco ABC internalizou e automatizou o cálculo de suas emissões financiadas.
Agora, quase em tempo real, a cada nova operação de crédito fechada, a instituição sabe quanto CO2 está emitindo indiretamente. A metodologia de cálculo utilizada é a da Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), referência no tópico.
Um exemplo: se o banco financia a compra de uma frota de caminhões para um cliente, pela metodologia PCAF é possível estimar quais as emissões associadas àqueles veículos. São usadas estimativas que consideram médias setoriais porque apenas uma minoria de empresas calcula sua própria pegada. No caso dos clientes do ABC, Silva diz que apenas cerca de 10% deles medem suas emissões.
“O PCAF vai ser calculado por cada operação. O sistema busca automaticamente esses dados e mostra o equivalente à emissão de carbono”, diz Silva.
A partir da medição e engajamento dos clientes, a meta da instituição é fazer a carteira de crédito de baixo carbono crescer dentro do portfólio total. Mas, por ora, o banco não divulga as emissões financiadas. “Estamos passando por uma verificação externa para dar credibilidade às informações”, diz a executiva.
Segundo Silva, o banco também está fazendo pilotos de consultoria de descarbonização com alguns clientes. Nesses casos, a equipe do ABC senta com a empresa para, além de medir todo o inventário, traçar planos de redução das emissões.
Crédito e ODS
O banco diz que mais de um terço de sua carteira de crédito expandida – R$ 17,48 bilhões de R$ 48,28 bilhões – corresponde a operações atreladas a algum aspecto da agenda ESG, com um aumento de R$ 750 milhões em relação ao fim do ano passado.
A fatia parece expressiva, mas reflete a adoção de um critério de classificação amplo. O banco nomeia como crédito ESG operações que têm alguma contribuição para um ou mais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
O tema passou a ter peso – ainda que simbólico – no bônus de executivos do banco: a carteira ESG precisa crescer mais, proporcionalmente, que a carteira geral da instituição. Esse é um dos seis indicadores não financeiros que compõem 10% da remuneração variável. Os outros 90% seguem atrelados diretamente ao resultado financeiro do banco.
A agenda de sustentabilidade foi definida em meio a uma revisão mais ampla e estratégica do ABC.
“O banco decidiu ir mais fortemente para o middle market, entrou na comercializadora de energia, abriu uma corretora de seguros e criou a área de ESG”, diz Izabel Branco, vice-presidente de marca, talentos e ESG do ABC Brasil, que chegou ao banco há pouco mais de um ano.
Branco é também membro do comitê de ESG da instituição, implementado neste ano e que responde diretamente ao conselho de administração. O CEO, Sergio Lulia, e a executiva Denise Hills, ex-Itaú e Natura e referência em sustentabilidade corporativa, também estão entre os membros.
“O banco definiu ESG como um tema estratégico, em todos os sentidos. E ele não tem que estar só nos negócios, mas sim permeando toda a organização”, diz Silva.