Às vésperas da volta de Trump, BlackRock deixa aliança financeira net zero

Com mais de US$ 11 trilhões sob gestão, americana que simbolizou ESG engrossa movimento de saída de coalizões climáticas

Às vésperas da volta de Trump, BlackRock deixa aliança financeira net zero
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A BlackRock, considerada líder na agenda ESG e com mais de US$ 11 trilhões sob gestão, está deixando a maior aliança financeira do mundo pela descarbonização de portfólios, a Net Zero Asset Managers (NZAM).

A saída vem na sequência do esvaziamento de sua coalizão-irmã para bancos, a Net-Zero Banking Alliance (NZBA), que perdeu os americanos Bank of America (BofA), Citi, Goldman Sachs, Wells Fargo, Morgan Stanley e JPMorgan nas últimas semanas. 

Ambas as alianças foram lançadas em 2021, durante a COP26, em Glasgow, como parte da Glasgow Financial Alliance for Net Zero (Gfanz). A NZAM tem 325 signatários, com um total de US$ 57,5 trilhões sob gestão, e o compromisso de apoiar a transição para o net zero até 2050, ou antes disso. 

O anúncio da BlackRock foi feito por meio de uma carta a clientes, na qual a gigante afirmou que sua participação no grupo “causou confusão sobre as práticas da BlackRock e a submeteu a inquéritos legais de diferentes autoridades públicas”. 

A gestora liderada por Larry Fink esteve entre o grupo alvo de uma ação por republicanos no Texas, que alegaram que a estratégia em prol da proteção climática causava prejuízos à indústria do carvão. As gestoras Vanguard, que deixou a aliança em 2022, e State Street também foram acusadas. 

O movimento vem a dez dias do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e em meio a um maior escrutínio de questões regulatórias ligadas ao clima, observa o Financial Times

A pressão de uma onda anti-ESG, porém, é anterior à reeleição do Republicano. Em fevereiro passado, a BlackRock retirou a participação de sua sede da Climate Action 100+ e deixou apenas a subsidiária BlackRock International. A coalizão, que reúne centenas de grandes investidores para pressionar pela descarbonização das empresas em que investe, também perdeu a JP Morgan Asset e a State Street na mesma época. A debandada representou US$ 14 trilhões a menos atrelados ao compromisso. 

Na carta recém-enviada aos clientes, a BlackRock afirma que a saída da NZAM “não muda a forma com que desenvolvemos produtos e soluções para clientes nem como gerimos seus portfólios”. O documento foi assinado pelo vice-presidente da BlackRock, Philipp Hildebrand, e pela líder global de sustentabilidade e soluções de transição, Helen Lees-Jones. 
Desde 2018, Fink falava abertamente sobre a necessidade do mercado financeiro agir para contribuir com mudanças de impacto positivo na agenda ESG e climática. Nos últimos anos, no entanto, o gestor baixou o tom em suas cartas anuais e reiterou o discurso sobre apostar em soluções de transição energética.