A Basf, indústria química alemã que atua no Brasil desde 1911, investiu R$ 41 milhões em uma caldeira elétrica que está sendo instalada no complexo químico de Guaratinguetá (SP), responsável por 60% do faturamento da companhia na América do Sul.
Nas indústrias químicas, o vapor é um insumo essencial. É o que aquece os reatores e alimenta o processo de síntese, ou seja, a criação artificial de compostos químicos a partir de substâncias mais simples. É também o que esteriliza equipamentos e funciona como fluido de transferência de calor em operações de larga escala.
Mas, para gerar esse vapor, as fábricas tradicionalmente dependem de caldeiras movidas a combustíveis fósseis, como gás natural, óleo diesel e carvão. A substituição por sistemas elétricos é vista como um passo relevante na transição energética da indústria.
No caso da Basf, 60% do vapor será gerado pela nova caldeira elétrica, e o restante, via queima de gás natural. O equipamento permitirá que a empresa reduza 22 mil toneladas de CO2, antecipando em quatro anos a meta regional de cortar em 25% as emissões absolutas de escopos 1 e 2 (relacionadas às atividades dentro da fábrica e a energia, respectivamente) até 2030, tomando como base o ano de 2018.
A instalação da nova caldeira já iniciou e ela deve entrar em plena operação no terceiro trimestre de 2026. A Basf opera equipamentos semelhantes na Alemanha, na Espanha e na Bélgica. O projeto na unidade de Guaratinguetá (foto) é o primeiro na América do Sul.
Descarbonização global
A caldeira elétrica é parte de um plano mais amplo de investimentos globais em sustentabilidade. Entre 2025 e 2028, a empresa projeta destinar cerca de € 600 milhões (R$ 3,8 bilhões) por ano, em média, para iniciativas de redução de emissões e uso de energia limpa.
O equipamento que será instalado em Guaratinguetá é do tipo eletrodo: a água é aquecida com a passagem de uma corrente elétrica até a geração de vapor saturado. Trata-se do estado em que o vapor e o líquido coexistem em equilíbrio, com a mesma temperatura e pressão e recebendo calor latente.
Produzida pela canadense Acme, a tecnologia foi escolhida após uma concorrência internacional. “Para o modelo que a gente precisa, não havia fornecedor no Brasil que atendesse às especificações”, diz o gerente-sênior de energias e utilidades da Basf na América do Sul, Santiago Ricco.
Segundo ele, a instalação exige uma infraestrutura adicional complexa: “Não é simplesmente colocar a caldeira e operar. É preciso trazer tubulações, sistema de bombeamento e linhas de energia elétrica adequadas para que a água chegue e seja vaporizada.”
Outras opções foram avaliadas, como as caldeiras de biomassa, hidrogênio verde e bombas de calor, mas a caldeira elétrica apresentou menos desafios técnicos e logísticos, segundo Ricco.
Os modelos elétricos são mais compatíveis com matrizes energéticas renováveis, como a brasileira, onde mais de 80% da eletricidade vem de fontes limpas. Segundo o relatório Perspectivas da Indústria Química para 2025, publicado pela Deloitte, o acesso limitado à eletricidade limpa é um dos desafios mais críticos para a descarbonização do setor.
Desde 2022, todas as unidades produtivas da Basf na América do Sul operam com eletricidade 100% renovável, contratada no mercado livre de energia.
A planta de Guaratinguetá concentra oito das onze divisões da companhia e fornece matérias-primas e insumos aplicados em mais de 1.500 produtos: de proteção de cultivos agrícolas a insumos para tintas, resinas, adesivos e detergentes. A operação brasileira responde por 77% dos negócios da Basf na América do Sul.