Verra recebe selo de integridade – mas créditos florestais têm de esperar

Aprovação de certificadora é primeiro passo; créditos florestais ainda dependem de segunda rodada de análise

Verra recebe selo de integridade – mas créditos florestais têm de esperar
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A Verra, maior certificadora de créditos de carbono do mundo, recebeu a aprovação do Integrity Council, um organismo independente que busca restabelecer a integridade do mercado voluntário de emissões.

A empresa, responsável por emitir a maioria dos créditos gerados no Brasil, recebeu a chancela depois de fazer “mudanças significativas” em seus procedimentos, de acordo com os avaliadores.

O anúncio desta quinta-feira representa a decisão de maior impacto tomada pelo Integrity Council for the Voluntary Carbon Market (ICVCM) até aqui. Os créditos Verified Carbon Standard (VCS), da Verra, são de longe os mais transacionados por empresas que querem fazer offsetting de carbono.

Mas trata-se apenas de um passo inicial. O protocolo do ICVCM tem duas etapas.

A primeira é a análise dos padrões de certificação, como a Verra e o sistema ART, que também recebeu o aval. (Outros três – ACR, CAR e Gold Standard – já haviam sido aprovados anteriormente.)

Depois vem o credenciamento das metodologias específicas usadas por cada um desses padrões – ou seja, também serão estudadas as regras para gerar créditos de carbono por diferentes métodos, como a preservação de florestas ou o uso de energias renováveis.

Mais que o carimbo para o padrão Verra, é a aprovação dessas metodologias que pode ter implicações importantes para as companhias brasileiras que geram créditos de carbono na Amazônia.

Seis grupos de trabalho analisam as metodologias. Um delas olha para os créditos REDD+ (desmatamento evitado, os mais comuns no Brasil), outro considera os de reflorestamento.

Depois de concluída essa fase, as recomendações serão submetidas para a aprovação do conselho do Integrity Council. Não há um prazo definido para o anúncio das decisões.

Mais de cem metodologias estão sendo examinadas, o que representa mais de metade dos créditos de carbono já emitidos, segundo o ICVCM.

Um exemplo hipotético: as metodologias da Verra para créditos REDD+ passam pelo crivo do Integrity Council. Com essa aprovação, desenvolvedores de projetos na floresta amazônica terão o direito de estampar o selo CCP (Core Carbon Principles).

A ideia é que essa distinção dê mais segurança para os compradores. No ano passado, o mercado voluntário foi atingido por uma série de denúncias referentes a problemas de integridade e fraudes.

Muitas companhias globais deixaram de comprar offsets por medo de envolvimento em escândalos ou acusações de greenwashing.

Na falta de regulações nacionais ou internacionais sobre a apuração dos créditos, o selo CCP tenta criar o primeiro benchmark global para esse tipo de ativo baseado na natureza.

Diversas iniciativas da própria indústria e de atores privados buscam aumentar o mercado dos créditos de carbono – tanto com o objetivo de evitar ou reduzir emissões de gases de efeito estufa quanto como uma maneira de transferir recursos para atividades de preservação da natureza.

Mas o tema segue controverso. No mês passado, a Science-Based Targets initiative (SBTi), principal avaliadora dos planos net zero corporativos, teve de lidar com uma revolta interna dos funcionários depois de anunciar que os créditos de carbono seriam aceitos como parte das estratégias de descarbonização.

A SBTi voltou atrás, e agora espera-se um pronunciamento oficial sobre a admissibilidade dos offsets como parte de uma abordagem “científica” rumo à neutralidade de carbono.