(Atualizada às 10h15 para incluir a informação de que a holding também terá novas metas transversais)
Em meio a um profundo processo de reestruturação dos seus negócios, a Natura está subindo a barra das suas metas ambientais e sociais na América Latina em relação aos compromissos assumidos em 2020.
As novas ambições estão nas frentes de descarbonização, práticas da cadeia de fornecimento, proteção da floresta Amazônica, diversidade do quadro de funcionários e geração de renda para a rede de colaboradoras e comunidades fornecedoras.
“Decidimos agir de forma mais contundente na região”, disse Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade da Natura &Co na América Latina, em evento realizado hoje em São Paulo para anunciar a atualização da chamada Visão 2030 da companhia.
As metas anunciadas em 2020 eram globais. Agora a Natura anunciou compromissos especialmente para os mercados latino-americanos. Mas a holding do grupo terá novos compromissos transversais, a serem divulgados no fim deste mês, e cada unidade de negócios também terá metas regionais.
Três anos atrás o grupo havia acabado de concluir a compra da Avon, o que parecia coroar uma bem-sucedida estratégia de expansão internacional para criar um portfólio de marcas, que já incluía a inglesa The Body Shop e a australiana Aesop.
De lá para cá, no entanto, o cenário mudou. Na correção de rota, Aesop já foi vendida, The Body Shop deve ir pelo mesmo caminho, e as atividades da Avon na Europa tendem a encolher. Com isso, a Natura &Co coloca o foco na América Latina, unificando as atividades das marcas Natura e Avon na região. As metas socioambientais acompanham o novo desenho do grupo.
Veja as principais mudanças:
Net Zero
Em 2020 o grupo tinha se comprometido a zerar as emissões líquidas de todas as empresas até 2030.
Embora ambiciosa, a meta era ampla, genérica e incluía uma quantidade significativa de créditos de carbono para compensar as emissões da cadeia de valor, o chamado escopo 3.
Desde então, a Natura submeteu seu plano de descarbonização à Science Based Targets initiative (SBTi), entidade que analisa planos de descarbonização com base na ciência e é considerada o padrão ouro para as iniciativas corporativas desse tipo
A aprovação saiu recentemente, dando mais subsídios e rigor para as metas.
“Quando vimos as regras do SBTi, resolvemos reafirmar que escopo 1 e 2 vamos cumprir integralmente até 2030. Mas, para o escopo 3, a jornada será mais longa”, diz Pinhati.
Agora, a empresa tem pela primeira vez uma meta específica relacionada à cadeia de valor, que inclui fornecedores e clientes. É justamente no escopo 3 que se concentra a maior parte da pegada de carbono da empresa.
O compromisso assumido é de um corte de 42% dessas emissões indiretas até 2030, em relação a 2020 – e zerar as emissões líquidas desse escopo até 2050. Pelos parâmetros do SBTi, explica Pinhati, isso implica cortar pelo menos 90% das emissões e compensar, via créditos de carbono, no máximo 10%.
Nos escopos 1 e 2 (emissões diretas e de compra de energia, respectivamente), a empresa mantém o compromisso de chegar ao net zero até 2030, seguindo o mesmo parâmetro de cortar ao menos 90% das emissões e compensar apenas o restante.
Para todos os créditos de carbono necessários para neutralizar suas emissões, a empresa também se comprometeu a comprar ao menos 50% de projetos de preservação ou regeneração de florestas na Amazônia, preferencialmente, das comunidades onde atua.
Hoje a Natura já compra créditos de carbono de desmatamento evitado do projeto Reca, que fica em Rondônia e envolve 130 produtores rurais. “Já comprávamos bioinsumos dessa comunidade e agora adicionamos o carbono, dentro da lógica de aumentar a renda da floresta em pé. O objetivo é expandir para outras comunidades nas quais atuamos”, diz a executiva.
Atualmente, a empresa compra 350 mil créditos de carbono por ano, de diversos fornecedores.
Proteção da Amazônia
Meta: A empresa ampliou de 2 milhões para 3 milhões de hectares a meta de proteção ou regeneração de floresta nativa na Amazônia.
Como: “Toda vez que escalo o negócio Natura, compro mais insumos da biodiversidade e expandimos para novas comunidades”, diz Pinhati. O plano da empresa é aumentar em quatro vezes o volume de compra de bioinsumos da região até 2030 (em relação a 2020).
“Além disso, vamos evoluir a quantidade de bioativos dos atuais 42 para 55, o que nos fará entrar em novas regiões para comprar esses insumos. Por fim, estamos na tarefa de escalar a transformação de pastos em sistemas agroflorestais de dendezeiro para produzir o óleo de palma.”
Compras livres de desmatamento
Meta: Ter 100% das compras diretas de palma (foto), soja, papel e álcool livres de desmatamento até 2025 e até 2030 expandir esse mesmo critério para compras indiretas desses mesmos insumos e ampliar para mica e algodão. Esses insumos têm cadeias consideradas críticas no aspecto do desmatamento.
Como: Rastrear e certificar as cadeias de fornecimento. Além do trabalho feito nas próprias comunidades, a empresa contrata verificação e certificação de terceiros para assegurar que os insumos não vieram de áreas desmatadas. Entre as certificadoras contratadas estão Verité, Bureau Veritas e IBD (para óleo de palma).
Agricultura regenerativa
Meta: Garantir que pelo menos duas commodities críticas entre seus insumos tenham práticas agrícolas 100% regenerativas até 2030. “Escolhemos duas commodities que utilizamos em grande volume, o álcool, que está em todas as nossas fragrâncias, e o óleo de palma, que está em todos os sabonetes”, diz Angela Pinhati. Juntos, os dois representam 40% do volume de ingredientes das fórmulas da empresa.
Como: Segundo a executiva, todo o álcool é comprado atualmente da Native, que já produz o açúcar e o álcool de forma orgânica. Agora, diz ela, a Natura e a Native estão estudando como avançar com práticas de agricultura regenerativa. Na cadeia do dendê, que dá origem ao óleo de palma, a fabricante de cosméticos já tem um projeto de implantação de sistemas agroflorestais (SAF) e buscará escalar a prática para todos os fornecedores.
Diversidade
Antes: Em 2020 o grupo se comprometeu a levar de 35% para 50% o percentual de mulheres em cargos de liderança e conselho até 2023. Atualmente, o índice está em 52%. Não existiam metas para outros grupos sub representados.
Nova meta: Chegar a 30% de negros em cargos gerenciais no Brasil até 2025. Em outros países da região a meta de 30% valerá para outros grupos sub-representados que estão sendo identificados.
IDH das consultoras e impacto socioambiental
Meta: aumentar em 10% o IDH das 4 milhões de consultoras Natura e Avon até 2030. E também ampliar o impacto socioambiental do negócio, medido pelo IP&L (Integrated Profit and Loss). Em 2021, para cada US$ 1 de receita, a companhia gerou US$ 1,5 de benefícios socioambientais, segundo a métrica do IP&L. No ano passado, a relação foi de R$ 2,7 em benefícios para R$ 1 de receita e a meta é chegar a uma relação de 4 para 1 até 2030.