Em um planeta onde o desperdício de alimentos é um problema crônico, não dá para julgar pela casca. É com esse lema que há um ano nasceu a Diferente.
A startup vende cestas de frutas, verduras e legumes orgânicos fora do padrão, mas perfeitos para consumo — com tamanhos que acabam não sendo aceitos pelos supermercados, um formato mais considerado mais feio ou com imperfeições na casca, por exemplo.
Menos de um ano depois de um aporte seed de R$ 24 milhões, a empresa está levantando outros R$ 16 milhões em uma extensão da rodada, liderada pela Caravela Capital, gestora paranaense focada em negócios em estágio inicial.
Também entraram como investidores o Collaborative Fund, a South Ventures e o Valor Siren Ventures (VSV), fundo da tradicional gestora de venture capital americana Valor focado em disrupção no setor de alimentos e varejo e que tem como investidores-âncora pesos-pesados como Starbucks e Nestlé. Foi a primeira aposta do VSV na América do Sul.
No mundo, quase 15% dos alimentos são desperdiçados entre a produção e a venda, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Quando se trata de frutas e vegetais, a parcela cresce para mais de 20%.
Nas estimativas da Diferente, o problema de orgânicos no Brasil é ainda maior.
“Quando a gente chegava no produtor, ele normalmente vendia 70% da produção. Com a Diferente, ele vende 90%”, diz Eduardo Petrelli, cofundador e CEO da Diferente, que antes da startup, fundou o app de entregas James Delivery, comprado pelo Grupo Pão de Açúcar. Também são sócios Saulo Marti (ex-Olist) e Paulo Monçores (ex-Vtex).
Modelo de negócio
O modelo de negócios se baseia em assinaturas de consumidores, que recebem caixas de produtos orgânicos variados em casa.
A ideia é que os alimentos que até então não tinham um comprador por conta de sua aparência sejam “ressignificados”, diz Petrelli. Por exemplo: quando um supermercado que trabalha com bandejas de 12 centímetros para vender os pepinos, os que são maiores tendem a ser dispensados.
Com a menor concorrência pelos alimentos “feios”, a Diferente compra os produtos por um preço mais baixo e os repassa com até 40% de desconto para os consumidores, em comparação aos modelos tradicionais. Outro fator de diferenciação de preço é a ausência de intermediários: a Diferente compra direto do produtor, eliminado supermercados ou distribuidores.
Em um ano de atuação, já foram vendidas 300 toneladas de alimentos, em 100 mil cestas. A foodtech está presente em 12 cidades em São Paulo.
“Nossa barreira de entrada é entender muito bem o consumidor, para que a gente gere essa experiência sem fricção nenhuma. Que o cliente tenha uma assinatura, receba em casa um item extremamente fresco, mais barato e sem precisar pensar”, diz Petrelli.
No modelo da Diferente, é possível fazer uma caixa com determinada quantidade de legumes, frutas, verduras e temperos para entrega semanal ou quinzenal. Por ora, ainda não é possível personalizar, ainda que dê para escolher alguns itens que o consumidor não deseja receber.
O desperdício no processo é quase zero, de acordo com o CEO, uma vez que os produtos são comprados diretamente dos produtores e as cestas montadas de acordo com o número de assinaturas daquela semana.
Próximos passos
O dinheiro do aporte vem com dois objetivos ainda para este ano: realizar a expansão e aumentar o time – de 75 pessoas – em um terço.
A ideia é expandir a atuação para outras regiões. A companhia já mapeou 34 cidades dentro do Estado de São Paulo que potencialmente poderiam ser atendidas pelo seu centro de distribuição, localizado na Vila Leopoldina, na capital paulista. Também estão no radar Rio de Janeiro e Curitiba, com previsão de chegada da Diferente até o fim de 2024.
Para isso, o Valor Siren Ventures, especializada em foodtechs e varejo, é uma parceira estratégica. Segundo Petrelli, eles validaram para a Diferente que seu modelo de negócio traz indicadores “até melhores” que investimentos semelhantes nos Estados Unidos na mesma fase e que o mercado local proporciona grande potencial de crescimento.
A empresa não revela o faturamento, mas afirma que opera em “margem de contribuição positiva”, isto é, gerando lucro por cada caixa vendida. A meta é chegar a um faturamento de R$ 150 milhões até o fim do próximo ano.