As firmas de venture capital normalmente buscam negócios escaláveis e com modelos disruptivos. Mas não importa se no dresscode terno e gravata dão lugar a tênis e camiseta: quando a questão é diversidade no comando, as investidas ainda parecem replicar o velho modelo dos anos 1950.
Uma pesquisa realizada pelo Crunchbase em colaboração com a organização sem fins lucrativos Him for Her mostra que 51% das empresas privadas americanas que receberam grandes cheques de fundos de venture capital ainda têm conselhos exclusivamente masculinos.
Foram analisados os dados de 359 companhias privadas, que receberam ao menos US$ 100 milhões em funding desde 2003.
Apesar do atraso, o número mostra um tímido progresso em relação a 2019, primeiro ano em que a pesquisa foi conduzida, quando 60% das empresas não tinham conselheiras mulheres.
No entanto, no ritmo atual levará ao menos cinco anos para que todas as empresas tenham ao menos uma mulher no conselho e 10 anos para que a paridade de gênero seja alcançada na amostra.
Do número total de assentos nos conselhos das empresas privadas, apenas 11% eram ocupados por mulheres. Ou seja, são raras as companhias que possuem mais de uma conselheira mulher: das 359 companhias analisadas, apenas 63 contavam com duas ou mais mulheres em seus conselhos.
Vários estudos mostram que os benefícios da diversidade só são capturados quando há mais de uma mulher no conselho — em linhas gerais, porque uma mulher sozinha normalmente tem mais dificuldade de ser ouvida e ter sua opinião levada em consideração.
A situação piora quando falamos de minorias étnicas. Segundo o estudo, 21% dos assentos em conselhos eram ocupados por minorias, sendo somente 3% de mulheres pertencentes a grupos minoritários.
A situação reflete, em grande parte, a falta de representatividade feminina entre os fundadores e investidores. A pesquisa mostra que as mulheres ocupam apenas 7% dos assentos de membros executivos — que fazem parte do time fundador ou de comando das empresas —, e 9% das vagas indicadas pelas firmas de venture capital.
A maior representatividade feminina está entre os membros independentes, onde elas alcançam 20%.
Uma outra pesquisa feita pelo Crunchbase mostra que apenas 7% do capital semente é destinado a startups fundadas exclusivamente por mulheres em termos globais. Na série ‘C’ de captação, esse percentual cai drasticamente para 2%.
A pesquisa é relevante porque, enquanto as empresas listadas vêm passando por um maior escrutínio em relação à diversidade, ainda há poucos dados públicos sobre as empresas privadas. Para efeitos comparativos, todas as empresas que compõem o S&P 500 possuem pelo menos uma mulher no seu conselho.
A Nasdaq, por sua vez, está tentando emplacar uma proposta para que as empresas listadas na sua principal bolsa nos Estados Unidos tenham ao menos uma mulher e um membro LGBTQ ou outra minoria sub-representada em seus conselhos.
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