COP

Sai do custo, entra no lucro: a transição na agenda dos CEOs da Suzano, Natura e Itaú BBA

Em evento do Reset, alta liderança discutiu como o setor privado pode acelerar a transição para uma economia de baixo carbono

Criar modelos econômicos que transformem a sustentabilidade em vantagem competitiva. Essa é a agenda dos CEOs Beto Abreu, da Suzano, João Paulo Ferreira, da Natura, e Flavio Souza, do Itaú BBA. 

O papel da iniciativa privada na transição climática foi o tema do painel que reuniu CEOs no evento “ClimaCorp: Liderança empresarial na era da transição climática”, promovido pelo Reset nesta quarta-feira (13). O encontro foi patrocinado por Natura, Itaú, BRF Marfrig, Bradesco, Suzano, Banco ABC Brasil e Eletrobras. 

“A sustentabilidade é uma agenda de negócio, não apenas corporativa. Ela precisa estar na estratégia e na execução”, afirmou Souza, do Itaú.

Os três discutiram como o setor privado pode acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e a importância de marcos regulatórios para viabilizar esse processo. “Ter uma regulação que favoreça essa discussão e que seja atual, moderna, em linha com o que o momento demanda é fundamental”, disse Abreu, da Suzano.

Um exemplo é o mercado regulado de carbono brasileiro, aprovado no ano passado e em fase de regulamentação. Ele vai impor limites de emissões de gases de efeito estufa às empresas dos setores mais poluentes da economia e instituir um mercado de compensações. 

“80% das emissões de carbono vem da iniciativa privada. Não seria justo transferir esse custo difuso para a sociedade e responsabilizar os governos pela solução e a iniciativa privada não participar da solução”, disse Ferreira, da Natura. 

Negociações sobre clima e políticas públicas não são mais exclusivas de governos, lembrou o CEO da Natura. Para ele, o ingresso mais firme da iniciativa privada nos debates demonstra que o Brasil tem evoluído no tema, mas que isso não se trata de um favor das empresas, e sim de uma responsabilidade.

“Temos a oportunidade de liderar essa agenda e definir como trazê-la para a economia real de forma concreta. Muitas vezes, ficamos aguardando regulações externas, principalmente europeias”, disse Abreu. “Quando a gente não lidera, o europeu vem, regula e você precisa se sujeitar a ele. E a gente não pode deixar isso acontecer.”

Modelo de negócios

Para angariar mais pares para a agenda, o desafio é demonstrar que modelos sustentáveis aumentam competitividade e rentabilidade, convertendo desafios socioambientais em inovação e geração de valor, segundo os CEOs.  

Ferreira trouxe o exemplo da Natura em sua linha de produtos Ekos. Nela, a empresa usa ativos da biodiversidade amazônica para criar cadeias de valor que mantêm a floresta em pé e beneficiam comunidades locais. 

O modelo inclui pesquisa científica, cadeias de suprimento que remuneram comunidades pelo conhecimento e serviços ambientais, processamento de insumos com valor agregado e marketing direcionado.  “A iniciativa privada pode alterar hábitos de consumo, incentivar a inovação e alocar capital para transformar oportunidades em negócios”, disse.

No caso da Suzano, a empresa atua em uma cadeia intensiva no uso da terra e manejo florestal, em 2,7 milhões de hectares, sendo 40% de mata nativa e 60% de florestas plantadas para produção. 

Mas mesmo plantando mais de 1 milhão de árvores por dia, o net zero é um desafio. Segundo o CEO da Suzano, a redução de emissões ao longo da cadeia de valor exige ação coordenada entre fornecedores e clientes, já que o escopo 3 (emissões indiretas) de uma empresa corresponde ao escopo 1 (emissões diretas) de outra. “Se cada ator fizer a sua parte, o impacto coletivo será significativo”, disse Abreu.

No caso da Suzano, a logística representa parcela relevante das emissões. Para endereçar a questão, a companhia vem trabalhando com parceiros como a Reiter Log e VLI, que já têm compromissos para reduzir impactos.

No caso das emissões da própria empresa, o escopo 1, Abreu citou como exemplo a construção da fábrica de celulose em Ribas do Rio Pardo (MS), com capacidade de produção de 2,55 milhões de toneladas anuais. A planta incorpora práticas de economia circular: a lignina extraída da madeira serve como combustível para a unidade e seus fornecedores, gerando energia 100% renovável. 

O excedente é suficiente para abastecer todas as residências do Mato Grosso do Sul, segundo o CEO. Além disso, a captação de água é integralmente tratada e devolvida aos rios, enquanto o restante se transforma em vapor.

Financiamento

A transição das operações das empresas demandam muito capital, o que traz bancos e mercado financeiro para essa agenda. 

No Itaú Unibanco, a pauta evoluiu para integrar os negócios do banco de forma tangível, segundo Souza, do Itaú BBA. O banco de investimentos concentra a maior parte dos esforços por conta do relacionamento com as empresas, responsáveis pelas maiores emissões. O banco tem como meta atingir R$ 1 trilhão de concessão e estruturação de crédito para atividades sustentáveis até 2030

“Estamos falando de energia, recuperação de áreas degradadas e também finanças inclusivas, como microcrédito e apoio a mulheres empreendedoras”, afirmou.

Como exemplo, Souza citou uma emissão de títulos de R$ 1,4 bilhão que o Itaú fez, em que parte dos recursos estão atrelados à biodiversidade. Eles serão alocados no Programa Reverte, da Syngenta, em que o Itaú BBA é o braço financeiro. A iniciativa faz a recuperação de pastagens, convertendo áreas degradadas em áreas agricultáveis 

Segundo o CEO do Itaú BBA, essa atividade é central para a agenda climática brasileira, considerando que cerca de 50% das emissões nacionais estão relacionadas ao uso do solo. O Reverte tem como meta a recuperação de 1 milhão de hectares até 2030. Ele conta que já foram liberados recursos que viabilizam a recuperação de 250 mil hectares, com a meta de quadruplicar esse volume até o fim da década.